segunda-feira, abril 19, 2010

Para quê?

Bem, já lá vai quase um ano que não escrevo no blog. Como é estranho o sentir... Partes deste ano parecem ter passado tão rápido contudo, outras existem que, em poucos meses, vivi novas vidas.

Este tempo todo não foi preenchido por um vazio completo de expressão literária. Escrevi em verso. De rajada como quem purga todos os seus pecados antes de enfrentar a decisão final.

Não postei os poemas nem os partilharei pelo blog porque são de uma dureza e crueldade que, mesmo notória na prosa, intensificou-se – leia-se refinou-se – na necessidade de transmitir muito em poucas palavras.

Estou uma pessoa diferente da Renard que tanto vos cativava. Longe vão os dias de raposinha que encantava pelo amor à humanidade e pelas questões existenciais que ininterruptamente lhe rasgavam o peito e destruíam a alma. Está feito. O capítulo acabou e comecei outro na certeza de que não sei e, provavelmente nunca saberei, as respostas àquelas perguntas.

Aprendi que nada aprendo e que não existe sempre, nunca, jamais, etc.

O que verdade é hoje, amanhã é crime emocional! Nunca saberemos viver porque evolve constantemente e é impossível delimitar estratégias ou comportamentos padrão para serem utilizados em “situações daquele tipo”. O mais provável é, embora inicialmente similar às outras, acabarão com uma séries de outras premissas em mãos que vos obrigará a desfazerem completamente todo e qualquer conceito feito dogma em nós.

Acabei por deixar de sentir necessidade de sublimar a dor e angústia que me perseguem porque os aceitei como meus e eternos. Já não vou divagar ou questionar o que metamorfoseia a uma velocidade maior da que, de momento, consigo pensar.

A verdadeira “dor de pensar”... Ficar com dor de cabeça por falta de capacidade de raciocinar à velocidade a que me atiram as peças que compõem o puzzle que começa e finda a cada dia. Sim... Agora vivo um dia de cada vez. Não por inteligência, sapiência ou maturidade, mas mesmo por não conseguir visualizar a vida mais de um dia de cada vez.

1º desafio: levantar-me da cama de manhã. Uma autêntica tortura física, emocional e espiritual que me parece sempre desnecessária;

2º desafio: chegar à hora do almoço com a capacidade de voltar ao trabalho depois de ter relaxado;

3º desafio: chegar às 18h sem ter as dores ao nível do enjoo físico;

4º desafio: conseguir levantar-me do sofá antes das 23h30 que é a hora de deitar...


E assim se repete. E assim vivo. E assim penso.


A pergunta impõe-se de forma gritante: Para quê?

domingo, julho 19, 2009

Quem está vivo sempre aparece

Se bem que o conceito “vivo” é bastante trivial…

Minha Tribo, desculpem a ausência prolongada, mas por vezes as mãos ao passarem pelo teclado levam-nos para outros sítios que não sabíamos que existiam e por lá ficamos uns tempos

Não me esqueci de vocês e lembro-me das nossas reuniões com carinho e saudade.

Eu tomo uma infinidade de medicação. Todos o sabem e nunca escondi a ninguém. Agora juntaram-se mais uns cuidados paliativos para compensar os efeitos secundários dos auxílios atenuantes anteriores…

Já lido com isto há mais de uma década. Já nem me queixo e aceito o que me prescrevem sem perguntar sequer o que vou sofrer de novo. Aguento e pronto…
Faço isto para me manter viva. É uma facto que sem a medicação morreria lentamente e em agonia. Assim vou desfalecendo ainda mais devagar e num tormento prolongado… Vai-se lá perceber estas coisas…

Existem relações assim… Fazem-nos bem mas têm efeitos secundários violentos e previsíveis. Sabemos que, a médio prazo, teremos de suspender este laço e descontinuar esta coexistência sob pena de nos extinguirmos um ao outro e a todos os que nos rodeiam.

A ressaca é o pior. A saudade. As boas memórias que nos aquecem o coração e nos fazem sorrir. O impulso de sucumbir à vontade de fingir que nada se passou…

Tenho o terrível defeito de ser teimosa. Não é muito visível por não ser patológico em discussões sem significado mas é premente nas minhas relações. Quero à força fazer as pessoas felizes. O meu amor por elas é proporcional ao esforço que faço para lhes proporcionar o mais pequeno momento de alegria.

Mas existem muros que, ao não serem derrubados, impedem-me de chegar ao núcleo e sinto-me inútil porque sou expulsa de dentro dele com uma violência que acho que ele não entende.
O querer mostrar o que é um amor incondicional e uma amizade que pode dobrar com o vento mas não quebra. A resiliência de ficar ali ao lado e passar por tudo sem sentido de obrigação mas com prazer de ser parte dos momentos mais importantes da vida dele. Bons ou maus, estar. Somente, estar.

A nossa espécie já não entende isto. A desconfiança e o cinismo que nos pauta bloqueiam-nos os sentidos e não concebemos acções de boa índole sem esperar algo em troca.
Já fui usada vezes sem conta. Sou usada diariamente por dezenas de pessoas e sei-o. Não me importo. E daí? É para isso que sirvo. Dou a minha permissão para me por os pés em cima, limparem os sapatos e só voltarem quando se sujam novamente. E pior, gosto que o façam…

Por vezes sorrio ao pensar que quem me usa pode sorrir perante a minha ingenuidade de não perceber os esquemas. Eu entendo-os perfeitamente, simplesmente não o digo e ajudo no que posso.
O não ajudar teria uma efeito pior em mim do que o aproveitarem-se de mim.

É uma acto egoísta, eu sei…

Lá está, estranho o conceito de estar vivo…

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

O Elefante e a Raposa

Era uma vez um elefante doente que sentia que estava na hora de começar o caminho para o sítio onde iria, finalmente, morrer. Planeara despedir-se da manada e começar o seu caminho solitário mas, antes que o pudesse fazer, ficou separado dos restantes após uma debandada provocada por um ataque de leões.Durante dias chamou a favor do vento esperando ouvir uma resposta para se poder despedir dos que amava mas o tempo passava e, enfraquecido e triste, resolveu fazer o caminho que sabia de cor por ter ouvido os anciães a descrevê-lo nas noites frias da savana.Já havia percorrido um longo trecho quando se sentiu incomodado pela sensação de estar a ser observado. Olhava em redor mas não via nada senão a vegetação alta e seca e as raras árvores baixas comuns à paisagem.Resolveu parar para beber um pouco de água num buraco ali perto. Quando se baixou, viu reflectidos na água um grupo de caçadores furtivos que se escondiam atrás da vegetação.Percebeu logo que não estavam ali para o matar mas para o seguirem até ao cemitério dos elefantes onde encontrariam uma reserva infindável de marfim.Não podia deixar que isso acontecesse. A localização dos cemitérios da sua espécie era um dos segredos mais bem guardados da natureza e não deixaria que as mãos sujas e gananciosas dos humanos tocassem nos ossos e dentes dos seus antepassados.Resolveu começar a andar às voltas na esperança que os caçadores se cansassem e o deixassem em paz.Caminhou em círculos durante semanas e sentia-se cada vez mais ansioso devido à persistência dos humanos.Um dia, do nada, surgiu uma pequena raposa. Por pouco não a pisava mas ela, manhosa, conseguiu evitar a pata dele a tempo.Perguntou-lhe que fazia ele ali sozinho sem manada. A raposa sabia que os elefantes moviam-se em grupos e estranhou a caminhada solitária do colosso.O elefante explicou a história à pequena raposa enquanto caminhavam lado a lado. Sempre em círculos para despistar os perseguidores.A raposa queria ajudar o seu novo amigo mas sentia-se impotente por ser pequena e por saber que os caçadores a matariam sem hesitar.Passaram-se semanas, meses. O elefante ficava cada vez mais frágil e a raposa percebia que, a cada dia, o objectivo do seu amigo moribundo ia ficando menos provável.Um dia o elefante encostou-se a uma árvore de ébano e disse num suspiro à raposa que a sua luta tinha chegado ao fim mas que morria satisfeito por ter, pelo menos, evitado que os caçadores desonrassem o seu cemitério.Falaram a noite toda e a raposa adormeceu encostada ao elefante.Quando os primeiros raios de sol bateram no focinho da raposa esta acordou e, sentindo o corpo frio do seu grande amigo, percebeu logo que este tinha, finalmente, encontrado o merecido descanso.A raposa começou a chorar de tristeza por ter perdido o seu amigo e pela impotência de não o ter ajudado a chegar ao seu destino. O seu pranto foi interrompido por uma sucessão de gargalhadas que fizeram com que os seus pêlos do dorso se eriçassem. Hienas!Não! Não haveriam de comer o seu amigo. Lutaria até à morte se fosse preciso mas não deixaria que lhe tocassem.Rapidamente viu-se rodeada de hienas que começavam a investir, trincando o corpo sem vida do elefante e deixando pedaços de carne solta onde mordiam.Lutou com todas as suas forças para impedir que as hienas chegassem ao cadáver do amigo mas era constantemente repelida com dentadas e encontrões.Após umas horas, muito ferida e exausta, a raposa sentou-se ao longe enquanto via as hienas e os abutres desfazerem a carcaça que, no dia anterior, tinha sido o seu melhor amigo.Ainda hoje a raposa conta a história de coragem do seu amigo elefante e sabe que, se não fosse ela, já ninguém se lembraria do elefante e não se conheceria o seu acto final de bravura e altruísmo.Mas quando vê estátuas de pau-preto, ainda os olhos se enchem de lágrimas lembrando os dias que caminhava sob o sol quente conversando com o seu amigo Elefante.

sábado, dezembro 20, 2008

Bom Natal

Olá Amigos.
Sei que peco pela ausência ultimamente mas o pouco tempo que me resta para escrever, uso-o para outras aventuras literárias.
Para as minhas queridas que finalizam este ano de uma forma menos boa, espero que este Natal vos encha com o espírito que só esta época tem. É pena que assim seja, mas as coisas são como são. A vós apenas posso reiterar que “a raposinha” continua aqui para o que der e vier e os laços são mesmo eternos.
Em tom de desabafo vos digo que não é época do ano que estime particularmente porque a hipocrisia reina e a amargura da vida arde com mais fervor. Sendo ateia, o significado religioso perde-se e, por isso, nada de conversas sobre nascimentos e afins.
No entanto, não posso deixar de agradecer os votos que me têm enviado e retribui-los. Às “minhas meninas”: Blue Velvet, Teresa, Avó Pirueta, F@, ¼ de Fada, Isabel (BC),Martinha e Zilda Cardoso, um grande beijo e abraço caloroso de Natal com todo o meu carinho. Aos meus rapazes: Tanacea, Pijaminha e Gigante aquele abraço de alguém que vos adora. E tu, ó Pijaminha, as saudades são muitas mas só aumenta a força do abraço que te vou dar!
E claro, não seria um post meu se não vos dissesse: Gosto muito de vocês!

segunda-feira, dezembro 15, 2008

David e Golias

Aquilo que nos poderá acontecer na vida é completamente imprevisível. Até me podem dizer, com toda a razão, que ao fumar me estou a predispor para uma lista infinita de cancros e a reduzir significativamente o meu tempo de vida. E daí?

Já fui confrontada com a minha frágil mortalidade inúmeras vezes sem que tivesse feito nada para que isso me acontecesse. Aliás, sinto-me numa constante corda bamba que oscila violentamente cada vez que me sento numa sala de espera de um consultório médico. Penso amiúde na nova doença que me irá sair na lotaria ou que novas complicações terão surgido.

Sei que levar uma vida de excessos não é o caminho certo. Auto-destruir-me não me irá ajudar em nada e, pior, pode me levar a uma morte lenta e dolorosa. Mas isso não implica que não reavalie a minha vida. Que não chegue à conclusão tardia de que me tenho impedido de aproveitar ao máximo o que existe à minha volta.

Tenho as minhas obrigações familiares e profissionais. Tenho “deveres” para com a minha família e amigos que foram prometidos num pacto silencioso no dia que lhes disse que gosto deles ou que os amo. No dia em que criei laços.

No que concerne ao resto, farei o que bem me apetecer. Se me apetecer dormir, dormirei; Se quiser beber ou fumar, fá-lo-ei; Se almejar comida pouco saudável, comerei com gosto; Se desejar aventuras sexuais inconsequentes, seja!

Tomo 9 medicamentos diferentes todos os dias. Nas suas variadas dosagens dá entre 14 a 21 comprimidos e/ou cápsulas por dia. Como costumo dizer, desde que existam medicamentos…

Não me venham dizer o que me faz mal ou bem quando lido diariamente com efeitos secundários e intermedicamentais. Tem de ser porque me fazem bem? Pois, quando fumo também se sinto melhor…

O que tem de ser tem muita força e aceito isso. Mas há dias que me sinto o David perante o Golias.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Frases Encantadoras

- És uma mulher de palavras. – Disse a propósito de alguma coisa ou de um nada a meio da conversa…
Estava a ler textos que mantenho escondidos do mundo na minha pequena caixa de jóias…
- Tens umas frases encantadoras. – Disse referindo-se a uma questão avulsa no meio de tantas outras que me assombram à noite e não me dão o devido descanso:
“Ser adulto é chamar hoje "utopias" àquilo que ontem chamávamos o futuro possível?”
Partilhamos a língua materna e modos de pensar que vêm agregados a outra forma de educação. Metafisicamente existem patamares onde nos encontramos em discussão onde outros nunca se atreveriam a entrar.
É o meu boetie. Em meia dúzia de meses tornou-se meu “irmão de sangue” e, frequentemente, é o meu refúgio da dor.
É realmente extraordinária a forma como percepciona o mundo. Intrigante e, sempre com algum mistério, vai-se desvelando aos poucos deixando-nos com ânsia de o conhecer melhor e entender o que o impulsiona.Aliena-se de tudo e todos com um simples exercício mental tornando-se invísivel para aqueles que não quer que o vejam e muito presente para os que estima.
Estudioso da matéria viva de que somos feitos e da interacção humana, surpreende pela astúcia de quem observa ao longe mas capta tudo.Abstracto na forma de expressão com que é dotado, percebê-lo totalmente é um desafio prazeroso e engraçado. Exercício mental “in extremis”, sensação de vitória em cada concordância.
Mas que nos presenteia com algumas frases encantadoras, lá isso presenteia…

HERE'S TO US BOETIE:

sábado, novembro 22, 2008

We're just telling stories!

There is fiction in the space between you and me:




Minhas lindas:

Continuo sem palavras para escrever. Por isso deixo esta música genial da Tracy Chapman falar por mim. A todas, espero que as vossas ânsias estejam em via de ou já resolvidas. Mesmo ausente no blog, estou sempre aqui para vos ler ou ouvir, seja no mail ou no telemóvel.
Força! Lembrem-se que nos reunimos por uma razão. Somos únicas no mundo e sabemos que o essencial é invisível aos olhos.

Para sempre a vossa Raposinha dos abraços gigantes.

terça-feira, outubro 28, 2008

Telegrama de chocolate

Recebi dois hoje. Um literal e outro experiencial…

Daquelas coisas que, não sabendo como, nos adoçam a boca até quando julgamos nunca voltar a acontecer. Perdida toda a fé na humanidade - a única réstia de crença que ainda tinha - eis senão que existe um acto de bondade pura que rejuvenesce esta utopia que carrego comigo de que ainda existem pessoas boas no mundo.

Disseram-me em tempos que um dia ia ser grande. Ia ser conhecida. Ia ser alguém na vida! Finalmente sinto que sou. Fui agraciada com amizades de proporções épicas. Sou alguém na vida porque significo alguma coisa para estes Titãs com quem tenho a honra de privar.

Depois de assistir a uma tempestade no alto do Olimpo, desci o cume sentindo que a cada passo descendente ia me reduzindo à minha insignificância. O estatuto necessário para se viver na casa dos deuses atinge-se com a experiência de vida e a sapiência que dela se tira.Erro comum o pensar que por termos ganho a estima de deuses que alguma vez poderemos nos comparar a eles. Mas sendo quem são, logo, logo, nos põem no nosso lugar.

Contudo a minha vida está repleta de heróis que, vivendo connosco comuns mortais, em nada se comparam a nós. A humildade com que se misturam com os demais não significa que sejam nossos semelhantes. Todos os reconhecem pela luz que deles emana, menos eles que, ao viverem na ignorância do seu estatuto, são mais felizes.

A pequena centelha de esperança na humanidade que ressurgiu em mim faz-me sentir que Prometeu me escolheu para dar o fogo aos restantes. Que se calhar, uma mão cheia de nós podemos usar esse fogo para reacender as mentes nesta Idade das Trevas. Aquilo que se vai ganhando em facilidade de obter informação vai-se perdendo nas capacidades sociológicas e no conhecimento genuíno.


Afinal de contas, que nos interessa seremos “Homo Sapientíssimo” se vivermos confinados a nós próprios? De que serve a sabedoria se não tiver como objectivo último a partilha? De que será de nós se o toque humano for substituído pela luz trémula do ecrã e a velocidade com que conseguimos digitar uma SMS ou um e-mail? Será que anos a conversar virtualmente fará com que, com a evolução, as nossas cordas vocais deixem de ser necessárias? Voltaremos a falar por gestos e grunhidos? Alguns de nós já o fazemos.

Viver custa! Caramba se custa! Mas virem as costas aos nossos pares e procurem acolhimento junto a uma máquina que funciona apenas para aquilo que foi programada e uma coisa vos garanto: jamais saberão quão doce é receber um telegrama de chocolate!!!!

sábado, outubro 25, 2008

May God's Love Be with You - Para o Gigante





I picture you in the sun wondering what went wrong
And falling down on your knees asking for sympathy
And being caught in between all you wish for and all you seen
And trying to find anything you can feel that you can believe in
May god’s love be with you
Always
May god’s love be with you
I know I would apologize if I could see your eyes
’cause when you showed me myself I became someone else
But I was caught in between all you wish for and all you need
I picture you fast asleep
A nightmare comes
You can’t keep awake
May god’s love be with you
Always
May god’s love be with you
’cause if I find
If I find my own way
How much will I find
If I find
If I find my own way
How much will I find
You
I don’t know anymore
What it’s forI’m not even sure
If there is anyone who is in the sun
Will you help me to understand
’cause I been caught in between all I wish for and all I need
Maybe you’re not even sure what it’s for
Any more than me
May god’s love be with you
Always
May god’s love be with you

sexta-feira, outubro 24, 2008

O novo homem da minha vida…

… é sueco. Como prometido a algumas pessoas do meu círculo mais íntimo aqui do mundo virtual, passo a explicar o porquê dos meus textos mais depressivos e dolorosos.

Aqui há uns tempos fui fazer umas análises de despiste para confirmação duma possível Fibromialgia. O diagnóstico estava feito mas o Neurologista, sendo um céptico em relação a esta doença, achou por bem testar o meu sangue para tudo o que existe nas nossas células sanguíneas.

Descobriu-se que tenho marcadores genéticos para uma doença auto-imune. Fiquei, literalmente, lívida e faltou-me a força nas pernas quando desliguei o telemóvel. Tenho um tio que tem uma doença auto-imune gravíssima e já me imaginava no pior dos cenários.

Para vos poupar uma procura no Google, as doenças auto-imunes são aquelas em que os nossos anti-corpos, que têm o objectivo de nos proteger contra infecções, bactérias, vírus e afins, resolvem atacar variadas partes do nosso corpo. A razão desta agressão interna continua um mistério para a comunidade científica.Consoante o alvo escolhido pelos anticorpos as doenças variam no nome e gravidade. Por exemplo, a esclerose múltipla destrói o tecido que reveste as células do sistema nervoso central; a Miastenia Gravis prefere aniquilar as válvulas… Não, não tenho nenhuma das duas. Recuso-me a dizer o nome daquela que me foi diagnosticada para que não se ponham a investigar… Existem assuntos que merecem ficar na ignorância.

A que me saiu na lotaria não é das piores. Nem em termos de sintomas nem na rapidez a que leva à total e irreversível degradação do corpo. Nem sei se já se manifestou ou não… Passo a explicar: os marcadores genéticos referem-se a uma predisposição para determinada doença ou condição. Não existe uma obrigatoriedade de alguma vez vir a sofrer da doença contudo tenho de ser vigiada de 6 em 6 meses e estar atenta a qualquer alteração fisiológica relacionada com a síndrome.

De momento, estou condicionada a fazer uma vida o mais saudável possível para que, juntamente com medicação adequada, consiga estabilizar ao ponto de fazer desaparecer todos os outros sintomas que fui criando em 12 anos de doenças, exames e médicos de todas as especialidades.Daqui a 3 meses repetirei as análises e encontrar-me-ei de novo com o Internista para delinearmos um “plano de acção”.

Como me sinto? Assustada. Injustiçada. Cansada. Triste.A sensação de ser uma bomba-relógio não me agrada. Muito menos a incerteza daquilo que realmente se passa comigo. Contudo, nada de preocupações. Estou a digerir a informação que ainda é recente e, daqui a nada, estarei novamente “pronta para outra”.

E como o prometido é devido, cá têm a explicação.