Se bem que o conceito “vivo” é bastante trivial…
Minha Tribo, desculpem a ausência prolongada, mas por vezes as mãos ao passarem pelo teclado levam-nos para outros sítios que não sabíamos que existiam e por lá ficamos uns tempos
Não me esqueci de vocês e lembro-me das nossas reuniões com carinho e saudade.
Eu tomo uma infinidade de medicação. Todos o sabem e nunca escondi a ninguém. Agora juntaram-se mais uns cuidados paliativos para compensar os efeitos secundários dos auxílios atenuantes anteriores…
Já lido com isto há mais de uma década. Já nem me queixo e aceito o que me prescrevem sem perguntar sequer o que vou sofrer de novo. Aguento e pronto…
Faço isto para me manter viva. É uma facto que sem a medicação morreria lentamente e em agonia. Assim vou desfalecendo ainda mais devagar e num tormento prolongado… Vai-se lá perceber estas coisas…
Existem relações assim… Fazem-nos bem mas têm efeitos secundários violentos e previsíveis. Sabemos que, a médio prazo, teremos de suspender este laço e descontinuar esta coexistência sob pena de nos extinguirmos um ao outro e a todos os que nos rodeiam.
A ressaca é o pior. A saudade. As boas memórias que nos aquecem o coração e nos fazem sorrir. O impulso de sucumbir à vontade de fingir que nada se passou…
Tenho o terrível defeito de ser teimosa. Não é muito visível por não ser patológico em discussões sem significado mas é premente nas minhas relações. Quero à força fazer as pessoas felizes. O meu amor por elas é proporcional ao esforço que faço para lhes proporcionar o mais pequeno momento de alegria.
Mas existem muros que, ao não serem derrubados, impedem-me de chegar ao núcleo e sinto-me inútil porque sou expulsa de dentro dele com uma violência que acho que ele não entende.
O querer mostrar o que é um amor incondicional e uma amizade que pode dobrar com o vento mas não quebra. A resiliência de ficar ali ao lado e passar por tudo sem sentido de obrigação mas com prazer de ser parte dos momentos mais importantes da vida dele. Bons ou maus, estar. Somente, estar.
A nossa espécie já não entende isto. A desconfiança e o cinismo que nos pauta bloqueiam-nos os sentidos e não concebemos acções de boa índole sem esperar algo em troca.
Já fui usada vezes sem conta. Sou usada diariamente por dezenas de pessoas e sei-o. Não me importo. E daí? É para isso que sirvo. Dou a minha permissão para me por os pés em cima, limparem os sapatos e só voltarem quando se sujam novamente. E pior, gosto que o façam…
Por vezes sorrio ao pensar que quem me usa pode sorrir perante a minha ingenuidade de não perceber os esquemas. Eu entendo-os perfeitamente, simplesmente não o digo e ajudo no que posso.
O não ajudar teria uma efeito pior em mim do que o aproveitarem-se de mim.
É uma acto egoísta, eu sei…
Lá está, estranho o conceito de estar vivo…