Era uma vez um elefante doente que sentia que estava na hora de começar o caminho para o sítio onde iria, finalmente, morrer. Planeara despedir-se da manada e começar o seu caminho solitário mas, antes que o pudesse fazer, ficou separado dos restantes após uma debandada provocada por um ataque de leões.Durante dias chamou a favor do vento esperando ouvir uma resposta para se poder despedir dos que amava mas o tempo passava e, enfraquecido e triste, resolveu fazer o caminho que sabia de cor por ter ouvido os anciães a descrevê-lo nas noites frias da savana.Já havia percorrido um longo trecho quando se sentiu incomodado pela sensação de estar a ser observado. Olhava em redor mas não via nada senão a vegetação alta e seca e as raras árvores baixas comuns à paisagem.Resolveu parar para beber um pouco de água num buraco ali perto. Quando se baixou, viu reflectidos na água um grupo de caçadores furtivos que se escondiam atrás da vegetação.Percebeu logo que não estavam ali para o matar mas para o seguirem até ao cemitério dos elefantes onde encontrariam uma reserva infindável de marfim.Não podia deixar que isso acontecesse. A localização dos cemitérios da sua espécie era um dos segredos mais bem guardados da natureza e não deixaria que as mãos sujas e gananciosas dos humanos tocassem nos ossos e dentes dos seus antepassados.Resolveu começar a andar às voltas na esperança que os caçadores se cansassem e o deixassem em paz.Caminhou em círculos durante semanas e sentia-se cada vez mais ansioso devido à persistência dos humanos.Um dia, do nada, surgiu uma pequena raposa. Por pouco não a pisava mas ela, manhosa, conseguiu evitar a pata dele a tempo.Perguntou-lhe que fazia ele ali sozinho sem manada. A raposa sabia que os elefantes moviam-se em grupos e estranhou a caminhada solitária do colosso.O elefante explicou a história à pequena raposa enquanto caminhavam lado a lado. Sempre em círculos para despistar os perseguidores.A raposa queria ajudar o seu novo amigo mas sentia-se impotente por ser pequena e por saber que os caçadores a matariam sem hesitar.Passaram-se semanas, meses. O elefante ficava cada vez mais frágil e a raposa percebia que, a cada dia, o objectivo do seu amigo moribundo ia ficando menos provável.Um dia o elefante encostou-se a uma árvore de ébano e disse num suspiro à raposa que a sua luta tinha chegado ao fim mas que morria satisfeito por ter, pelo menos, evitado que os caçadores desonrassem o seu cemitério.Falaram a noite toda e a raposa adormeceu encostada ao elefante.Quando os primeiros raios de sol bateram no focinho da raposa esta acordou e, sentindo o corpo frio do seu grande amigo, percebeu logo que este tinha, finalmente, encontrado o merecido descanso.A raposa começou a chorar de tristeza por ter perdido o seu amigo e pela impotência de não o ter ajudado a chegar ao seu destino. O seu pranto foi interrompido por uma sucessão de gargalhadas que fizeram com que os seus pêlos do dorso se eriçassem. Hienas!Não! Não haveriam de comer o seu amigo. Lutaria até à morte se fosse preciso mas não deixaria que lhe tocassem.Rapidamente viu-se rodeada de hienas que começavam a investir, trincando o corpo sem vida do elefante e deixando pedaços de carne solta onde mordiam.Lutou com todas as suas forças para impedir que as hienas chegassem ao cadáver do amigo mas era constantemente repelida com dentadas e encontrões.Após umas horas, muito ferida e exausta, a raposa sentou-se ao longe enquanto via as hienas e os abutres desfazerem a carcaça que, no dia anterior, tinha sido o seu melhor amigo.Ainda hoje a raposa conta a história de coragem do seu amigo elefante e sabe que, se não fosse ela, já ninguém se lembraria do elefante e não se conheceria o seu acto final de bravura e altruísmo.Mas quando vê estátuas de pau-preto, ainda os olhos se enchem de lágrimas lembrando os dias que caminhava sob o sol quente conversando com o seu amigo Elefante.
quinta-feira, fevereiro 19, 2009
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