quinta-feira, janeiro 31, 2008

The Green Mile

Este foi, sem dúvida, um filme que marcou a minha existência. Uma das razões é por ser baseado num livro dum dos meus autores preferidos, Stephen King. Outra é o enredo em si. Não me cativou a história do injustiçado que ia acabar na cadeira eléctrica ou a amizade que criou com o guarda prisional. Apaixonou-me foi o tamanho do actor que fazia de condenado. Achei absolutamente pertinente aquele “gigante” fazer o papel de alguém que tinha a capacidade de tornar os males físicos dos outros dele próprio, para logo se seguida expeli-los em forma de enxame de moscas…
Bem sei que se trata de ficção mas não deixa de ser uma ideia bonita… Quem nunca sentiu vontade de ser capaz de transportar o mal que aflige um ser amado para si próprio?
Vou contar um segredo. Conheço alguém que o faz. E não se trata de uma selectividade afectiva pois este “Principezinho” fá-lo com perfeitos estranhos. É verdade… Mas não irei falar dele… Falarei, incontornavelmente, de mim…
A capacidade de tornar a dor de outrem minha é uma característica que me define desde que me conheço e desde que me dei a conhecer.
O problema reside em não ter a capacidade de curar a pessoa, o que me dói imensamente, e o facto de depois não ser capaz de expelir o que assimilei. Ou seja, torno a dor da pessoa minha para melhor a compreender e a posteriori não me consigo libertar dela. Somo às minhas mágoas e lá fica.
A minha alcunha no Liceu demonstrava isso mesmo: Madre Teresa de Calcutá. Gostava e gosto de ajudar as pessoas que estimo. “Perder” tempo a escutar as pessoas, aquilo que lhes aflige e tentar ajudar no que me seja possível. Simplesmente, estar presente.
Contudo, já fui mais “caridosa”. Algumas pessoas roubaram parte dessa capacidade com traições, mentiras, gozo, escárnio e, muitas vezes, desprezo depois de terem conseguido o que queriam de mim. Isso fez-me muito desconfiada em relação às intenções de quem se aproxima de mim e transformei-me numa cínica. Roubaram-me o prazer da sinceridade pura. Deixei de ser papalva e ingénua para passar a ser dura e céptica. O pior foi ter perdido a crença na bondade humana. Acreditava mesmo que os seres humanos eram genuinamente bons e que se se tornavam maus era porque a vida os tinha moldado dessa forma. E mesmo sendo maus, achava que havia bondade inata neles. De momento acho que todas as pessoas são inatamente más mas de vez em quando surpreendem com gestos de bondade. Ora aí está o cinismo…
Na ânsia de me sentir humana, também eu me tornei má. Verdade. De vez em quando surpreendo-me com gestos de bondade mas já é uma coisa rara. Mas para travar a tentativa de suprimir essa minha característica surge o meu “soul-brother” (irmão de alma). Quando descarrilo e pendo para a maldade aconselha-me a pensar naquilo que estou prestes a fazer e as consequências emocionais que poderão advir para mim e para o visado. Na maioria das vezes consegue dissuadir-me de fazê-lo e ajuda-me a esquecer a vendetta. Se por outro lado me vê reticente em ajudar alguém relembra-me do que teriam sido alguns períodos da minha vida se tivesse desamparada. Sem ele e a minha mãe, possivelmente… É como a minha consciência. O grilo do Pinóquio… Para além disso é meu confidente em tudo na minha vida. Acho que o termo “irmão” não se pode referir apenas no que concerne a laços de sangue, não é?
Vou contar outro segredo. Conheço uma pessoa que manteve essa pureza e bondade. Só ataca quando toca aos seus. Quando lhe toca a ela nem por isso. Se alguma vez houve a ideia dum anjo ter descido à terra é, com toda a certeza ela, e a pessoa mais sortuda do mundo fui eu que sou filha do anjo.
Uma mulher forte dotada duma inteligência e entendimento da vida superior. Muito para além dum comum mortal. Uma beleza estonteante externa que apenas serve para reafirmar a interna. Quem a conhece fica logo encantado com o sorriso aberto e cara simpática. A educação e a meiguice com que se dirige às pessoas é duma magnitude como nunca vi. Não, não tenho inveja dela. Tenho orgulho em ter este anjo como mãe e daí poder tirar lições de vida para no futuro transmiti-las aos meus filhos.
Não sou uma pessoa muito afortunada em alguns quadrantes da minha vida… Mas para me acompanhar na jornada já tenho um anjo, um “Principezinho” e um “soul-brother”. Isso sim, é sorte!
Sei que o anjo e o meu “soul brother” apreciam o filme tanto quanto eu. O “Principezinho” não sei. Mas, tendo gostado ou não, a bondade pura está nestes meus três acompanhantes.
Haveremos de andar muitas milhas juntos…
Obrigada aos três.

terça-feira, janeiro 29, 2008

In maledicto plus injuriae quam in manu

Acusaram-me há dias de ter uma relação estranha com as palavras. Referiam-se à forma como “pego” numa qualquer palavra ou expressão que me é dirigida e faço dela um melodrama.
Mas esta minha relação ímpar com os vocábulos tem uma razão de ser muito forte. As palavras ferem bem mais que a agressão física. O corpo sara e, com o tempo, a dor provocada pela pancada desvanece. Com as verbalizações cada frase é uma sentença para a vida. As palavras duras e injustas jamais têm cura e as feridas que elas abrem na nossa alma não têm remédio ou analgésico que as amenize…
Ficam buriladas em nós…
Bem sei que a comunicação, verbal ou não, é sempre subjectiva. O modo como recebemos a mensagem varia consoante o nosso estado de espírito, os sentimentos que nutrimos pelo emissor e até pelo ruído. Ou seja, de forma menos académica, ouvimos e interpretamos como queremos… Tão simples quanto isso. Atenção! Não se trata de um querer consciente ou uma “audição selectiva” porque nos interessa. Nada disso. As circunstâncias que rodeiam o acto comunicativo impelem-nos a decifrá-lo duma ou outra forma. Ora ligeira, ora pesada. Ou nos magoa profundamente ou descartamos com uma gargalhada. Daí a importância de reflectir antes de falar.
As palavras têm uma força imparável e um efeito catastrófico se usadas de forma irresponsável.
Pelo menos no que me concerne. Na relação que estabeleci com elas e a importância que lhes dou. São fundamentais para me expressar quer a nível pessoal, quer a nível profissional. Tenho um imenso respeito pelo léxico de qualquer língua que fale ou escreva. Se elas existem, é por alguma razão e a responsabilidade de as usar convenientemente é nossa.
Vejamos, por exemplo, as ditas “asneiras”. Não, não vou começar a escrever brejeirices ou expressões escatológicas, no entanto, eu considero que as palavras têm o significado que nós lhes damos. Se, por ventura, der uma canelada na esquina da mesa da sala e disser uma valente asneirola alto e bom som, que ouvidos vou ferir? Sejamos adultos. Se a palavra não tiver a conotação ofensiva que mal tem? É, apenas e só, um desabafo… Existem muitas palavras em “bom português” que ao serem emparelhadas de forma a criarem uma frase ofendem muito mais que qualquer referência menos própria a sexo ou movimentos fisiológicos…
Acho o “calão” e as distorções linguísticas muito mais desrespeitosas do que essas palavras que, para bem ou para mal, fazem parte da nossa língua e costumes…
Tirem um momento para reconhecerem o vosso receptor, o que essa pessoa significa para vós e o impacto que aquilo que estão prestes a dizer possa ter no indivíduo
Pensem antes de falar… Eu estou a tentar fazer o mesmo…

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Não acredito em bruxas mas…

Sofro de uma patologia que se chama Bruxismo… Trata-se de ranger os dentes durante o sono…
Sendo quem sou não podia deixar de pesquisar o porquê do nome… Calculei que, obviamente, teria qualquer coisa a ver com bruxas e… tem!
O nome advém da Idade Média. Acreditava-se que quem rangia os dentes durante a noite: “estava tomada por um feitiço ou uma bruxaria”. Hum… Talvez a resposta não esteja nos métodos “convencionais” de cura mas, quiçá, num exorcismo ou numa qualquer mistela dita poção mágica!
Estou a imaginar-me sentada à frente dumas velhas com verrugas nas pontas dos narizes que mexem um líquido qualquer dentro dum caldeirão e que dizem encantamentos enquanto juntam olhos de sapo e unha de dragão…
Uma imagem muito “Shakespeariana” em Macbeth:
“Double, double toil and trouble;
Fire burn and cauldron bubble.”
Além disso até nas minhas doenças sou extraordinária! É que o Bruxismo pode ser cêntrico ou excêntrico. Sendo o primeiro caso o apertar os dentes e o segundo o apertar dos dentes acrescido dum movimento lateral da mandíbula. Como seria de esperar, sou uma enfeitiçada excêntrica!
Mas porque sou tão céptica em relação às coisas? É pena… Nem que fosse efeito placebo, uma boa poção podia até curar-me… Isto de não ser supersticiosa… Agora tenho de ir gastar dinheiro a comprar umas capas para as favolas que começam a ficar gastas e afiadas com esta coisa excêntrica que faço de noite sem dar conta. Só sei que o fiz porque me dói o maxilar no dia seguinte ou alguém que tenha dormido comigo queixa-se que o barulho é tal que os acorda!
Se se tratasse de ranger os dentes por estar a sonhar com um qualquer repasto ou outra situação agradável que me levasse a salivar juntamente com o movimento mandibular ainda era aceitável… Mas não deriva de delírios oníricos mas de, dizem, “situações de alto stress”.
Ora, se estivessem tomados por um feitiço ou bruxaria também não estariam stressados???

Hino da Fibromialgia

Enquanto os médicos discutem se o síndrome realmente existe, os fibromialgicos já cantam as suas dores!!! Ah Fadista! Ah Boca Linda!!!!

RENASCER

Tudo continua a acontecer,
Sempre da mesma maneira...
Aquilo a que chamo vida
É sempre igual...
Estou alerta
Mas num dia escuro e frio
Esqueço-me de enfrentar as dificuldades
E entro gradualmente em decadência!...

Tudo o que não acontecia antes
Ataca-me agora!...
Tudo o que eu julgava saber
Torna-se desconhecido...

Chegou o tempo de Renascer,
De estar alerta
De ser de novo a pessoa
Que deixei de ser...
(Esqueci-me do que eu era antes...)
Chego ao cimo da montanha
E depois de uma difícil subida
Tudo volta ao normal!...
Será que este rodopio não acaba nunca?

Tudo o que não acontecia antes
Ataca-me agora!...
Tudo o que eu julgava saber
Torna-se desconhecido...

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Sejamos humanos

Hoje fui confrontada com a fragilidade humana. Como uma chapada sem mão vi-me defronte duma alma penada que se rebaixou perante mim com uma humildade sub-humana e desnecessária.
Ia eu a caminho do café como, aliás, faço todos os dias. Ipod nos ouvidos, cigarro aceso na mão e compenetrada nos meus pensamentos. Senti alguém atrás de mim e parei. Quando olhei vi, sobressaltada, um senhor com uma aparência, enfim, à falta de melhor descrição, suja…
Estava sentado numa bicicleta que me pareceu ser de criança ou jovem. Daquelas que já não se fazem. Parecia saída dum filme dos anos 60.
Falava comigo mas não o ouvia porque ainda tinha os auscultadores nos ouvidos com a música no máximo. Tirei-os rapidamente para descortinar o que se passava.
- Podia arranjar-me um cigarro?
- Claro.
Tirei o maço de Marlboro e, como é meu costume, abri-o e virei-o para o senhor para que se servisse. Sempre achei o gesto de tirar um único cigarro e estendê-lo à pessoa um gesto desprovido de educação e humanidade. Um gesto frio, calculista de somítico desconfiado de tudo e de todos.
Enfim, continuando a descrição…
De cabeça baixa e olhos no chão como se fitar-me fosse proibido ou um abuso de qualquer espécie diz-me:
- É melhor ser a senhora a tirar…
Fiquei siderada. Fulminada. Continuei a olhar para ele de maço na mão mas recusava-se a tirar os olhos do asfalto… Tirei então o cigarro e estendi-lho. Na verdade a minha vontade foi dar-lhe o maço que estava quase cheio. Nem sei porque não o fiz…
Agradeceu e foi-se embora. Fiquei uns segundos a vê-lo pedalar no sentido contrário ao que eu ia a fazer…
Se eu não tivesse os pais que tenho, não poderia ser eu a mendigar um cigarro? Talvez eu estivesse toda suja e tivesse como meio de transporte uma bicicleta qualquer achada numa sucata…
Mesmo que escolhas erradas o tenham levado ao ponto em que se encontra ninguém, NINGUÉM!, deve humilhar-se como ele fez perante mim. Apeteceu-me dar-lhe um abraço. Mas nem insistir para que ele tirasse o cigarro consegui… Sinto-me um traste.
Posso somente especular o que o levou a dizer-me para tirar o cigarro. Ou por ter as mãos sujas, ou por ser portador duma qualquer doença, senti aquele homem despedaçado. Alguém que talvez tenha idade para ser meu pai a falar-me quase como se me segredasse que há muito tinha deixado de se sentir uma pessoa.
Não acredito que fossem as mão sujas ou uma doença que me pudesse prejudicar se tivesse tirado o cigarro. E a questão nem se prende com as palavras proferidas mas antes a humilhação com que o fez…
Que se tire tudo às pessoas… Que se roube tudo… Mas deixem a dignidade por serem humanos como nós.
A partir de amanhã andarei com um maço cheio na mala. E se, por ventura, reencontrar este senhor, dar-lhe-ei o maço e, se possível, nem que seja, um aperto de mão e um sorriso.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Solidão circense

Dizia a Trapezista ao Anjo Caído, com Nick Cave a cantar em fundo, que tinha, finalmente, encontrado a solidão. Parece ser contraditório, mas não o é. Isto porque ela justifica a frase dizendo que a verdadeira solidão só se atinge quando nos sentimos completos. E, no caso dela, ao encontrá-lo, completou-se.
Bonito entendimento do âmago humano. Nós sem os outros não somos ninguém. Nem tão-pouco existiríamos. Penso, logo existo… Renée, se eu pensar, vocalizar, comunicar e não estiver ninguém para concordar, refutar ou, simplesmente, ouvir, de que vale a minha existência? Se não for vista por outros olhos que não os meus, como poderei provar a mim própria que não sou fruto da minha imaginação? Se me belisco e me dói e não tenho a quem queixar-me da dor, será que senti mesmo? Se falo e me responde o eco, não serei somente um truque da natureza?
Concordo com a acrobata. Quando nos dizemos sós, queremos dizer vazios ou incompletos. Sei que é frase feita e banal mas é das poucas com que me identifico: “a vida só é vida se for vivida e envolvida na vida de outra vida”…
Necessito de ressonância para viver. Compreender-me será impossível sem a visão de alguém de fora. Aliás, corrijo… Eu compreendo. Quero é ser uma pessoa pela qual poderia sentir orgulho como sinto pelas pessoas que amo.
Cessar de existir como este “meio-ser” incompleto e incompatível com os demais.
Preciso de encontrar a verdadeira solidão. Com ou sem anjo…

Simples

Disse-me, hoje, o amor da minha vida que deveria deixar de complicar coisas que são simples. Referia-se às reflexões que faço sobre a minha existência. Os porquês de sentir como sinto. De ser como sou. De destruir como destruo. De sofrer como sofro.
Em tempos um amigo aconselhava-me a aceitar-me tal como sou. Com tudo o que tenho de bom e de mau. Isto porque, dizia ele, é assim mesmo que somos. Ying e Yang.
Apenas e só ao aceitar-me incondicionalmente teria a capacidade de fazê-lo em relação às existências que se cruzam com a minha…
Prerrogativa feminina esta de complicar as coisas, ser insegura e viver numa constante ânsia de ser melhor… NÃO! Estereótipos, machismos, visões curtas e limitadas, burrice pura e dura. Nada tem a ver com o ter nascido mulher mas, antes, por me ter tornado eu…
Em 1789 foi definido, em França, que somos todos iguais! Esta noção tem vindo a ser melhorada e aprimorada até à nossa era…
Sei que na prática não é o caso. Vive-se numa sociedade global falocêntrica, daltónica e disléxica.
Posto isto, volto à minha deambulação em torno de mim própria… Sim, centrípeta…
Primeiro há que fazer o caminho até ao cerne da questão para depois, quiçá deixando um fio para depois se encontrar o caminho de volta, inverter o movimento. Talvez eu seja a formiga sobre quem cantava Zeca Afonso. Vou em sentido contrário no carreiro…
Enjeito-me. Recuso-me a aceitar-me assim. Assim não. Antes ir às compras de fato-de-treino ao Continente ao domingo! Antes passar anos à frente do computador a jogar jogos! Antes viver uma existência despojada de raciocínios desnecessários e nada pragmáticos. De que me vale o saber? O pensar? Se, depois, no dia-a-dia só me trazem dissabores?
A sapiência reside, dizem, na simplicidade… Que tem de linear esta coisa do sentir? Que tem de elementar? O acto em si, a pulsão, essa é simples. Apaixonamo-nos e nada há a fazer. O sentimento está lá e, perante isso, só uma lobotomia… De racional não tem absolutamente nada.
Estou cansada disto. O não saber sentir ou fazê-lo indevidamente destruiu-me completamente. Tudo o que sou hoje já questionei e solucionei. As soluções, não sendo as adequadas, levaram ao desgosto e à dor. Sinceramente, não me consigo ver a começar de novo para melhorar-me embora sinta que nunca me contentarei com aquilo que me tornei.
Situação antagónica. A ânsia de ser diferente e a incapacidade de sê-lo. Ou, então, apenas a falta de vontade de começar a construir de novo…

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Der Himmel ünder Berlin

“A criança, quando ainda criança era, perguntava porque é que eu sou eu e não sou tu?”

Eu responderia que se ela fosse eu, então quem seria ela?
Somos todos iguais mas insubstituíveis. Incrível como esta frase antagónica resume a essência do que é ser humano.
No filme um anjo que presenciou a aurora dos tempos como espectador mas nunca parte interveniente quer “cair” e tornar-se humano. Sabe de antemão, que perderá a sua imortalidade e que herdará o bom e o mau de se ser mortal. Contudo anseia sentir e deixar o papel de simples narrador.
Não busco a imortalidade. Nem tão-pouco uma vida extraordinariamente longa.
Neste momento não me importaria de ser apenas uma voyeuse de vidas alheias, absorvê-las e torná-las minhas sem sentir o que quer que fosse.
Sábio é aquele que aprende com os erros dos outros.
Mas não sou sábia. Mino a minha própria existência repetindo os mesmos erros do passado. Logo, sou ignorante.
Incapaz de lidar com os meus próprios sentimentos, crio ilusões românticas sobre o mundo e as pessoas. Frustração certa. Dor óbvia. Estupidez natural.
Obsessiva e maníaca guerreio pela alucinação de tal modo que levo o objecto de desejo a sentir-se encurralado e a ter como única saída o afastamento.
Pensei que ao controlar tudo o que me rodeia fosse mais fácil encontrar uma linha orientadora para a minha vida. Fechei-me ao sentir. Percebi que ao ser incapaz de o fazer de uma forma saudável, se não o fizesse, talvez não magoasse e fosse magoada tantas vezes. Como não se controlam pulsões, tão simplesmente, suprimi-as. Não era grande vivência mas tornava o “sobreviver” mais fácil.
Quando baixei a guarda por momentos, senti com tal intensidade que os muros despedaçaram-se… E eu fiquei desprotegida. Por instantes gostei. Fui feliz.
Depois surge a acção que confirma a regra. Obcequei, afastei, destruí e dói. Muito. Demais.

Pergunto, não sendo criança mas sentindo como uma, porque é que eu sou eu e não outra?

domingo, janeiro 20, 2008

Alea jacta est

Perante a renitência, (vulgo) incapacidade, em buscar outras soluções senão os extremos nada lhe resta excepto esperar.
A não ser a racionalidade e o dogmatismo infantil que sempre a pautaram, que outros instrumentos poderá usar para entender a vida?
Falha epistemologicamente porque se recusa a refutar o conhecimento que cria. Depois de processado, o empirismo torna-se verdade inabalável…
Nunca se viu como existencialista mas antes niilista. Se Sartre teria gostado de a ter conhecido, não sabe. No entanto, sabe que teria tido um imenso prazer em ter “privado” com Nietzsche. Esse sim, ainda hoje, ninguém compreende. Possivelmente, devido à sua própria dificuldade em encontrar uma saída "na porcaria da salganhada deste labirinto".
Trinta minutos foram quantos bastaram. Três dezenas, somente. Questiona tudo. Toda a sua existência. A validade do que pensa ou sente. Em toda a verdade tem dificuldade em fazer as supra-mencionadas.
Por isso diz que a sorte está lançada…

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Lembras-te?

Lembras-te dos sorrisos envergonhados? Dos risinhos de criança inocente e as faces ruborizadas de inadequação? Do encolher da cabeça entre os ombros com as mãos atrás das costas balançando o corpo de um lado para o outro?
Tal como a forma que escrevo, burilando, essas memórias ficaram cinzeladas em mim…
Tínhamos dado um beijo! Um beijo… Daqueles com língua! Sorriso estúpido estampado na cara, cada um seguiu a sua vida mas aquele momento cândido e pejado de ternura permaneceu em nós.
Que malandros que éramos! Que dóceis e puros…
Engraçado como um gesto, tantas vezes banalizado, pode ter um impacto tão grande em seres danificados…
O que se seguiu será apagado pela erosão do tempo, mas aquele primeiro beijo ficará fossilizado para a eternidade.
Uma recordação tão distante que ainda me faz esboçar um sorriso e desconfio que o efeito se prolongará até a velhice me saquear as lembranças.
Virão mais primeiros beijos. Conhecerei mais príncipes encantados que depois me desiludirão. Mais personagens “quixotianas”. Cavaleiros de triste figura ou Burgueses aprimorados passarão pela a minha existência e conceder-lhes-ei o seu primeiro beijo…
Mas aquele será sempre "o nosso primeiro beijo".
Lembras-te Cometa?

‘Tá a apetecer-me

Ao ler a frase no ecrã ri-se levando-a para um contexto que não foi o planeado. Ela ri-se do lado de cá pensando no despropósito da brincadeira.
Prerrogativa das novas tecnologias. Tornaram-se amigos pela Internet há já alguns anos e ainda é o suporte que usam para comunicar. Estando ele um pouco por todo o país e ela em Leiria, cimentou-se uma amizade que de virtual só tem o método comunicativo.
Instrumento antagónico. Provoca o isolamento a muitas crianças e adolescentes que não socializam no mundo real, mas a ela concede-lhe companhia nas noites que Morfeu se esquece dela…
A distância física é minimizada pelo despudor inerente à falta de contacto visual. Conversas casuais que em dois segundos passam a pessoais por não haver embaraço ou o mal-estar físico de ser observado. Não existe a sensação que cada gesto, cada esgar e cada palavra são escrutinados e julgados pelo interlocutor.
Se ao menos fosse o caso in loco. Quantas vezes calou pensamentos e suprimiu gritos por medo de represálias do ouvinte? Simulacro de estado de espírito. Sorriso quando lhe apetece chorar…
É igualmente verdade que com a vivência se aprendem truques de ilusionista que ajudam a dissimular os verdadeiros sentimentos. Ter um objecto nas mãos que se vai analisando pormenorizadamente enquanto se tenta encontrar as palavras certas para responder àquela questão que nos deixa desarmados. O “olhar o infinito” quando o silêncio começa a ser pesado e não se consegue olhar o outro de frente. Ansiosamente mexer no cabelo, concertar a gola da camisa, coçar os olhos… Infinitas escolhas para a necessidade de dizer algo e não saber bem como frasear…
Ritual da era da informação, sobe as escadas até ao escritório e liga simultaneamente o aquecedor e o computador. É de madrugada. Já a cidade dorme preparando-se para mais um dia de trabalho dali a escassas horas.
Ela não. Tem tempo… Liga o Messenger e espera que algum amigo interessante se encontre, também, com insónias. Este mal comprometedor do descanso que a acompanha há já 10 anos nem sempre foi tão fácil de ultrapassar. Recorda-se dos tempos de faculdade em que passava noites em branco a ver televendas e a chorar convulsivamente por odiar o silêncio à sua volta. Pelo letargia que via na cidade ao olhar pela janela. Torpor que a ela não lhe era concedido. A vontade que tinha de sair de casa e simplesmente deambular pela cidade. Chegou a fazê-lo. O sol a nascer e ela a abandonar o quente do lar. Mal subia a avenida onde ficava situada o prédio onde vivia, voltava para trás. De que serve tentar combater a solidão numa cidade adormecida? Fugir aos espectros numa cidade assombrada?
O sono, privilégio sub-apreciado, esse só lhe surgia já ao final da manhã tornando-a uma animal noctívago quase vampiresco durante 3 anos da sua vida.
O seu relógio circadiano começa a inverter novamente. Benesse da sua doença antiga só agora nomeada. Sabe que se não acertar os ponteiros atempadamente, com o passar do tempo, o relógio pode ficar danificado eternamente…
Bem, estas conversas virtuais madrugadoras sempre são divertidas, pensa. E, assim como assim, ‘tá-me a apetecer, remata.

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Sem pedir licença

Andava há já uns dias com as lágrimas a criarem-se em seus olhos sem terem lhe pedido licença.
Deitada no sofá a ver uma série a sua mente divaga. Lembra-se da tarde que passou. Entregar currículos a uma pessoa conhecida que lhe disse que com 27 anos parecia-lhe uma pessoa demasiado amarga. Virou a cara porque as lágrimas criaram-se sem lhe pedir licença.
Foi ver uma amiga que foi mãe e ao pegar a bebé de 7 dias ao colo e encostá-la ao seu peito e sentir a sua respiração no seu pescoço sentiu as lágrimas a criarem-se sem terem pedido licença.
Confessou a um amigo os seus planos maquiavélicos passados e presentes e as lágrimas criaram-se novamente sem autorização.
Pensou nela própria. Embora não sendo totalmente má, reconhece a capacidade que tem de ser abominável e entendeu que a falta de sorte na vida estaria ligada a esses acessos de malevolência pura. É a paga. Equilíbrio dos seres… Encheram-lhe os olhos de água salgada e brotaram as lágrimas sem que tivessem pedido licença…

terça-feira, janeiro 15, 2008

Café com açúcar

Infelizmente tornei-me uma pessoa ácida. Em tempos, talvez, não o tenha sido mas a vida moldou-me desta forma. A capacidade de ser doce, essa, ainda a tenho e guardo-a algures em mim.
Presumo que "encher" o café de açúcar possa ser uma forma de reduzir a minha acidez juntamente com a do café. Tal como ele, para algumas pupilas gustativas, torno-me intragável sem ser adocicada de alguma forma...
Consigo ser, se necessário for, completamente indigesta. Provoco violentas dores de estômago a quem me tentou consumir e o mal-estar pode permanecer durante dias.
Não se pense que saio incólume destes momentos de pura maldade…
Pulsão primária. Por estar ferida, ataco quem se aproxima de mim. Boas intenções ou não… Vulnerável e fraca torno-me uma presa fácil….
Chego a morder a mão que me dá de comer. Verdade…
Será que alguma vez pararei de lamber as feridas? Ou novos ferimentos se criarão por cima das chagas ainda por curar?
Destruo o que muito me custou a criar. Saboto as edificações de forma à implosão ser obrigatória. Só assim consigo que seja uma aniquilação controlada. Antes que me caia tudo em cima, rebento eu com a estrutura…
Desconfio que, ao continuar desta forma, acabarei os meus dias no mais puro e merecido deserto.
Repito, incessantemente, os erros do passado. Imortalizo as pessoas na minha imaginação e ao descobrir a sua humanidade rejeito-as com a mesma violência e rapidez com que lhes concedi a entrada na minha vida.
Malfadados genes estes que me dão a capacidade de ser tão vil! Ignóbil e desprezível, ataco exactamente onde irá doer mais.
Culpabilizar a genética por fazer o que faço ou dizer o que digo não é minha intenção. Ela concede-me a aptidão para destruir mas não me obriga a fazê-lo. Aí, a responsabilidade é unicamente minha. Confesso.
Aí tens, mesmo não sortindo o efeito que desejo, a razão de tomar o café com o pacote todo de açúcar.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

A resposta

Depois de tudo dito e feito encontra-se, novamente, onde começou. Sozinha tenta reconstruir-se encaixando o que as novas experiências do último ano lhe ensinaram.
Passeando sem rumo questiona-se se valeu a pena…
Escurece. As luzes à beira rio vão acendendo sucessivamente. Senta-se. Aquece as mãos esfregando-as uma contra a outra. Olha em redor. Para além dos carros que circulam não existem muitas pessoas a deambular pela rua. Está frio. O tempo convida a fazer trajectos dentro do carro com o ar condicionado ligado.
Contempla a condensação provocada pela sua respiração e decide acender um cigarro. Lentamente (as mãos estão dormentes do frio) retira o maço de Marlboro da mala e o isqueiro Bic preto que tem usado. Comprou-o no café onde vai há anos. Onde todos a conhecem por nome e que agora, por força da lei, a remetem para a esplanada em pleno Inverno para que possa desfrutar deste seu vício antigo. Enfim, mudou-se o tempo, manteve-se a vontade…
Leva o cigarro aos lábios. Humedece-os antecipadamente para que o filtro não lhe arranque um pedaço de pele. Acende-o, inspira e trava. Expele o fumo num suspiro…
A questão da pertinência dos conhecimentos empíricos recém adquiridos voltou pedindo resolução. Deverá fechar esse capítulo da sua vida, arrumá-lo e deixar apenas as elações que tirou? Ou, seria melhor, esperar mais um pouco e ver no que dá?
Pondera. Pesa os prós e contras de cada solução. Bloqueio mental. Ambas trazem sofrimento… Mas qual o mal menor?
Lembra-se de alguns, entre milhares, de episódios da sua vida onde se encontrava neste imbróglio. Com a decisão pedindo urgência e a sua relutância em desapegar de memórias… Ao longo da vida adulta, de forma constante, tinha tido o mau hábito de deixar o sentimentalismo sobrepor-se à lógica. Gosta das pessoas e, olha, daí à cisão são muitas noites mal dormidas.
Decide levantar-se. Andar mais um pouco. Apaga o cigarro atirando-o para o chão e pisando-o vigorosamente. Apanha a beata e coloca-a num maço vazio que tem para o efeito. Coloca o maço e isqueiro na mala. Mantém o maço vazio na mão para o colocar num caixote do lixo pelo caminho. A mala é colocada a tiracolo, levanta-se do banco resmungando perante as dores provenientes das pernas entorpecidas pelo frio e inércia daqueles minutos. Fica ali uns segundos a sacudir e massajar as pernas chamando, entre dentes, nomes pouco próprios à doença que aos poucos se vai revelando cada vez mais complicada.
Suspira com resignação. Começa o caminho para casa. Não que lhe apetece voltar para aquele silêncio mas não tem para onde ir.
Desta feita, irá pela interior da cidade. Demorará mais tempo e pode ser que encontre alguém que conhece… Desce as escadas junto do Teatro e começa a fazer a Avenida dirigindo-se para o Jardim. Já é noite. Agora não se vê mesmo vivalma. Contempla as montras iluminadas e as luzes de natal que agora jazem apagadas no chão à espera de serem recolhidas pelas carrinhas da Câmara. Até a Sra. das castanhas já arrumou a trouxa e foi para casa. Pára subitamente defronte do Jardim. Não lhe parece inteligente passar ali sem ninguém por perto… Ainda se lembra dos tempos em que se podia ser destemida nesta cidade. Resolve atravessar e passar pela Praça que tem sempre gente nem que seja nos cafés. Os fumadores, claro, estarão nas esplanadas ao frio. Já que pensa nisso… Saca de mais um cigarro da mala. Acende e vai fumando enquanto faz o caminho até a Praça. As suas suspeitas confirmam-se. Há gente ali. Ouve-se o burburinho das conversas e as ocasionais gargalhadas vindas de mesas à distância. Olha para as mesas da esplanada em frente e apetece-lhe um café. Senta-se e prontamente chega o jovem empregado para apontar o pedido. Ouve, aponta e apressa-se a ir buscar a bica. O cigarro chegou ao fim. Apaga-o no chão e junta esta nova beata à outra no maço feito cinzeiro.
Distrai-se a olhar para crianças a correr e a brincar no centro da praça. Os cães abandonados aglomerados debaixo dum banco procurando manterem-se quentes. Sente pena dos animais. Como se pode tratar assim seres tão meigos e fiéis? Seres que não se podem proteger a si próprios? Tratá-los como restos que a sociedade não quer? Se tivesse muito dinheiro todos estes animais teriam casa e comida. Não têm de pagar pelos nossos erros, pensou ela.
Chegou o seu café. Paga logo para poder levantar-se e ir embora descansada quando lhe apetecer. Odeia tomar café sozinha. Gosta mais do hábito social de, para se estar com um amigo na conversa, se convidar para um cafézito.
Sacode o pacote de açúcar e rasga o canto. Entorna-o todo para dentro da chávena. Sempre o bebeu com o açúcar todo. O sabor amargo do café nunca lhe agradou. Distraidamente vai mexendo o café enquanto a questão que a aborrece há dias volta a surgir-lhe nos pensamentos. Levanta os olhos para uma transversal da Praça. Aquela transversal. Suspira, abana a cabeça e volta a olhar para a chávena… Leva-a à boca e bebe o café dum trago. Subitamente quer sair dali. Levanta-se, acende um cigarro, põe a mala a tiracolo e pega no “maço-cinzeiro.”
Começa a sair da Praça e a subir a rua íngreme que a levará até casa. Deita fora o maço com as beatas e apressa-se. Sente-se cansada e dói-lhe a cabeça… Irá deitar-se no sofá a descansar assim que chegar.
Dobra a esquina e perto do jardim que fica em frente ao Tribunal desata a correr. Quer fugir. Das pressões a que está sujeita. Das vozes que a aconselham e que começam a subir de tom. Da dor que a enlouquece. Quer gritar mas não pode. Junto ao Tribunal pára, põe as mãos nos joelhos e tenta recuperar o fôlego. O fundo da garganta arde-lhe devido a ter corrido com o frio e começa a tossir. Sorri e volta a andar a passo largo em direcção a casa.
Sorri porque aquela corrida foi despropositada. Infantil. Psicótica. Louca. Mas divertida.
Sorri porque tem a resposta à questão que lhe tira o sono há dias….

Hefesto

Tinha um riso estrondoso. Sentada no seu colo sacudia-me com as suas gargalhadas sentidas perante a minha ingenuidade infantil. Não era gozo. Antes uma cumplicidade silenciosa dum gigante que molda uma mente jovem. As mãos… Rudes mas habilidosas. Assustadoras mas capazes dos gestos mais carinhosos. Ganhava o respeito pelo sentido de humor apurado e inteligente, pela humanidade e por mentalmente se encontrar muito para além dos do seu tempo.
O sorriso malandro e canto da boca retorcido. A sua voz grave contrastava com a sua fragilidade.
Nasceu para nos tornar pessoas melhores e cravar a sua existência na nossa memória. Errou, como humano que era. Contudo, deixou como legado muito mais sorrisos que lágrimas. Ainda hoje, passada uma década do seu desaparecimento, em tertúlia feminina nos rimos das reminiscências conjuntas. Caso cá estivesse seria ele a fazer-nos rir…
A doença roubou-lhe capacidades mas jamais a dignidade! Quantos podem afirmar de coração cheio que fariam tudo da mesma forma?
Em pequeno calcorreava as ruas de Lisboa arquitectando formas de minorar a pobreza que assolava a família. Irrequieto e inventivo ensaiava brincadeiras de menino travesso que nos contava com o cabelo já grisalho de sorriso nos lábios e um brilho de saudosismo nos olhos.
Em tenra idade aprendeu o ofício que aprimorou ao longo da vida. Hefesto dos tempos modernos, partilhava com o deus grego a arte de moldar o metal e o coxeio que, no seu caso, foi resultado final dum azar do destino.
Atleta dotado excedeu-se em todos os desportos que praticou como em tudo a que se dedicava, verdadeiramente, na vida.
Sedento de conhecimento era, aos meus olhos, um sábio com a paciência de simplificar as premissas de forma a fazer-me entender o busílis da questão.
Teimoso e, por vezes, intransigente irritou sobejamente os filhos com a sua mentalidade “antiquada”. Agora que os filhos se tornaram pais, dependem muitas vezes desse seu exemplo para nos fazerem ver que aquilo que o avô dizia há 30 anos é válido ainda hoje. Os tempos mudam mas o querer sempre o melhor para os filhos é hereditário e intemporal…
Tinha, realmente, um riso estrondoso.

domingo, janeiro 13, 2008

Abandono

Aconchego-me novamente. As músicas mudaram. Desisti de tentar completar o puzzle. Destruirei as comunicações impressas. É-me doloroso relê-las. Exercício masoquista para quem já sofre. Fiquei a meio. As lágrimas caíam em descrédito. Foi tudo mentira. Foi tudo engodo. Foi tudo um jogo.
Quem brinca com fogo queima-se e eu continuo a ser consumida pelas chamas. Labaredas altas que não me deixam ver o horizonte. Calor que sufoca e dificulta a respiração. Luz incandescente que me destrói as retinas e, aos poucos, me cega.
Quero fugir. Olho em redor. Estou cercada.
Não há nada a fazer. Escolhi o meu destino.
Quem má cama faz, nunca fica em paz…
E estou deitada. Música nos ouvidos, escrevendo num bloco sobre quem me ajudou a atear o fogo.
O limiar entre o amor e o ódio é ínfimo. Flutuo dum sentimento para o outro a cada batida do coração.
Vacilo quando penso no Abandono.
Roubou-me sentimentos. Furtou parte de mim. Nunca a recuperarei. Não por terem existido e se terem sumido, mas porque os negligenciou e repudiou. Descartou-os como capricho duma cachopa chata e mimada.
Desconfio que não sofre. Pelo menos, não por mim. A agenda preenchida ao minuto não lhe concederia tal “privilégio”.
Gosta de gostar de mim. Palavras levam-nas o vento!
O meu Amigo falha-me. Continuadamente.
Depositei a minha “vida” nas suas mãos e percebo, agora, que não quer mais essa responsabilidade. “Desculpa de mau pagador”! Afasta-se graciosamente remetendo-me para o lugar que me era destinado à partida.
Vacilo cada vez menos quando penso no Abandono.
Não precisei de completar o puzzle. O que li, o que senti foi suficiente para chegar à presente conclusão. Não gosta de mim. Talvez em tempos… Agora sente-se obrigado a continuar a tentar remediar o que não tem conserto porque é um “workaholic”. Contradiz-se amiúde. Como pode um ser, humano e frágil, como todos os outros ser magnífico?
O cubo de Rubik que sou entreteve-o por tempos. Agora percebe que o que me aflige é o que atormenta qualquer ser humano.
Pensou-me diferente. Imaginou-me enigmática.
Enganou-se redondamente. Como se diagnostica a sintomatologia de alguém que conhece todos os seus sintomas e, inclusivamente, roda os eixos do cubo procurando alinhar as cores sozinha? É aborrecido. Dá sono. Um quebra-cabeças com solução à vista é entediante… Não “dá pica”. De bestial a besta...
Perante uma falta de vontade inexplicável de me fazer à vida a resposta mais eficaz, sem dúvida, é – “deixa-te de merdas e faz o trabalho!” Bom, como nunca tinha pensado nisso?
Muita conversa e pouca acção. Muitas promessas ocas. Ideias concretas lançadas no calor do momento que depois de racionalizadas passam a hipotéticas.
Elogia-me a escrita. A forma, nunca o conteúdo! Será que lê aquilo que está dito? Ou somente o que está escrito?
Agora digo-te eu: “deixa-te de merdas”!
Vacilar, nunca mais, quando pensar o Abandono!

Correu bem

Já está atrasada. Não é seu costume mas, hoje, custou-lhe a reunir a coragem. Nem por isso acelera o passo ou se preocupa. Costas arqueadas, pernas doridas e ensonada lentamente faz o caminho e, sem se dar conta, concentrada na música que escuta, levanta a cabeça e vê a Praça de Micenas fervilhando de actividade… Chegou.
Senta-se a olhar para ele. Na sua cabeça os pensamentos são agonizantes. Uma face que, em tempos, lhe disse tanto, agora parece-lhe estranha e desprovida de encanto.
Como e quando?
Começa a falar. Sorri-lhe mas não é verdadeiro. Repetem-se as questões e os alvitres. Ele cabeceia com sonolência. Ela sabe que já não é magnífica. Talvez nunca o tenha sido. O encantamento perdeu-se de ambas as partes. Agora resta uma Amizade de sentimentos imemoriais. Cordial e desajeitada. Dois seres que se encontraram, desencontraram e antes de se terem reencontrado, perderam-se.
O que outrora os uniu cria, agora, uma cisão. Ambos o sabem. Um colosso ergue-se permeio…
Ela não o quer ouvir. Parece que se repetem incessantemente. Conversa centrípeta. Converge sempre no mesmo assunto.
A sua mente divaga…
Ela toma conta dos progenitores. À sua maneira, a única que sabe, protege-os. Se ao menos ele soubesse as vezes que ela preencheu o vazio que corrói o Rei. O luto vitalício que carrega desculpou-o amiúde. Em prejuízo próprio, deixando a sua maturação e experiência para trás, embala-os com a sua presença incontornável.
Pensará que a surpreende com as conclusões que tira. Por outras palavras, racionalizações distintas, aquilo que ouve sobre Agamemnon sente desde que se conhece.
Aprendeu que existem dores que não se podem, tão-pouco, serenar. Conhecimento adquirido por ter ensaiado todas as formas que lhe são conhecidas de mitigar ausências irrecuperáveis. Por muito que amemos e que as nossas intenções sejam puras, não podemos brindar ninguém com aquele, último, adeus….
Sente-se lograda. A ingenuidade levou-a, novamente, a acreditar que um deus a via a ela, comum mortal, como igual.
Falsa profeta. Desenganem-se os que a pensaram maior.
Perdida nestas reflexões, uma entoação interrogativa e posterior silêncio de quem espera resposta trá-la de novo à sala pejada de memórias.
– Desculpa?
– Entendes?
– Oh, claro!
– Bom.
Não o ouviu mas decerto que entende.
Levanta-se e segue-o num gesto ritualista. Sela-se oficialmente o acordo. Está cansada. Quer ir para casa.
Munida da sua “caixa de música” começa a fazer o caminho até casa dos reis.
Sabe que Clitemnestra a espera ansiosamente. Mitigar-lhe-á a fome do corpo e da alma.
Chega. A chave roda no trinco e já a rainha a espera à porta. Um beijo sentido e a pergunta de sempre. Sorri… Correu bem, responde.

sábado, janeiro 12, 2008

Pizza individual

Pijama, cabelo desarranjado, robe e chinelos, ao final da tarde, afasta o edredão que a cobre no sofá para ir abrir a porta de entrada do prédio. Enquanto o rapaz sobe os três pisos até à casa prepara o dinheiro na quantia que tinha sido acertada antecipadamente por telefone. Toca a campainha e, ali à porta, dá-se a troca. O dinheiro pela comida. Uma pizza individual e um iced tea de pêssego. Agradece e com votos apressados de bom apetite fica a ver o estafeta correr pelas escadas abaixo.
Cenário triste. Tirado de um qualquer filme norte-americano que retrata a vida duma trintona que não tem ninguém na vida e, então, vive de comida rápida que lhe trazem a
casa porque cozinhar só para ela está fora de questão.
Pousa a pizza na mesa da sala e vai dar comida ao animal de estimação. Ele come sempre na mesma altura que ela, claro está, nas vezes que ela decide comer… Se assim não for, ela alimenta-o aquela hora repetidamente. Não quer que o seu “filhote” tenha sede ou fome. Tão lindo. Anda triste. Negligenciado. Precisa de mimo e ela não tem para lho dar. Desde que não lhe falte comida e água… A falta de carinho e mimo nunca matou ninguém, pois não? Ou matou? Não interessa, quando tiver para lho dar, dará.
Senta-se de perna cruzada no sofá a comer as fatias de pizza. Come só duas. Está sem fome. Beberrica da lata de iced tea e leva a caixa e lata para a cozinha. Põe a pizza em cima da mesa e a lata no frigorífico. Sabe que amanhã os levará para o lixo, mas pode ser que tenha vontade de comer mais tarde… Nunca se sabe…
Passou, à excepção de 2 horas, o dia todo sozinha em casa. Dormitando no sofá. Sacudida por uma dúzia de cãimbras nas pernas levantava-se e aplicava o spray milagroso e tomou um comprimido lírico. Uma hora depois ficou dorido mas as pernas já não contraíam.
Deita-se e cobre-se com o edredão. Faz zapping. Nada de interessante na televisão. Porque raio tem tantos canais e parece não haver nada que valha a pena ver…
Suspira… Pega nos telemóveis, tabaco e iPod e sobe as escadas até ao pc. Liga-o e, enquanto espera que este arranque, coloca os auscultadores do Mp3 nos ouvidos. Começa a cansar-se de ouvir sempre a mesma música mas não tem vontade de mudá-las…
Pelo menos não escuta o silêncio.
Embora, há uns dias com “prisão de ventre”, decide escrever. No caso dela, a escrita resume-se a relatar experiências por ela vividas e as elações que delas tirou…
Não há experiências, não há “evacuação”.
Pelo menos escrevendo este texto tonto, sempre “fala” com alguém hoje.
Fá-la sentir-se um pouco melhor por ter encomendado uma pizza individual…

sexta-feira, janeiro 11, 2008

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Caleidoscópio

Lembro-me do fascínio que este objecto me provocava em miúda. Girava o tubo e, ainda, a cabeça concentrando-me para chegar a uma explicação para aquele fenómeno. Com o olho espreitando numa das extremidades questionava-me como se reuniam tantas cores num tubo de cartão e porque é que a forma mudava quando rodava o óculo.
Às tantas decidi “abrir” o tubo mágico, mesmo desconfiando que ia estragá-lo. Prerrogativa duma criança de 5 anos…
Perdi umas horas a tentar bater, rodar, torcer, pisar e, tudo mais que consegui lembrar-me para resolver o maldito enigma. Nada feito. Então lembrei-me duma coisa… O cartão amolece com a água… Ora, pus o caleidoscópio debaixo da torneira da banheira e eis que, como previa, se desfaz…
Caem umas “pedras coloridas”, que agora sei serem pedaços de plástico de várias cores, e o óculo era constituído por inúmeros espelhos colocados de forma a reflectirem as “pedritas”. Entendi que ao rodar o objecto, rodava os espelhos e estes, ao variarem de ângulo, criavam novas formas…
Perdi completamente o encanto pelo brinquedo assim que descobri o seu funcionamento. Aliás, senti-me lograda, vigarizada, ludibriada, endrominada.
Afinal, aquele efeito lindo de mágico não tinha nada.
Deve ter sido nesse momento que me tornei a maior céptica do mundo… Nunca tinha acreditado no Pai Natal. Aquela história parecia-me ter demasiadas premissas improváveis para fazer sentido. A minha casa nem chaminé tinha… A Fada dos Dentes, sabia que era a minha mãe… E quanto à Igreja Católica… Hum… Se me era difícil aceitar o Pai Natal por achar rebuscado, então imaginam as perguntas que saíam desta boquinha em relação a cada frase que a coitada da catequista ia debitando.
Não pensem que me deixava levar com más explicações ou respostas vagas. Fuzilava a Sra. com ainda mais perguntas até ter a curiosidade satisfeita. E depois, por via das dúvidas, ainda ia fazer o contra - interrogatório para casa da minha avó…
Acho que o esgar que caracterizou a minha infância foi a sobrancelha levantada. As duas não. Somente uma. Indica cepticismo e, um pouco, de gozo.
Estas histórias levam-me a crer que:
1º - Sempre fui uma mimada porque estragava brinquedos sem me doer a consciência;
2º - Sempre fui uma chata de primeira espécie por querer saber tudo e teimar quando algo não parece bater certo. Enquanto o assunto não ficar resolvido na minha cabeça, não descansarei.
Dum modo mais geral:
1º - Quando se parte uma coisa bonita, perde o seu encanto:
2º - Ao descobrir a resolução dum enigma, perde-se para sempre o interesse nele;
3º - Mentir a crianças torná-las-á adultos desconfiados;
E tudo isto deriva apenas dum caleidoscópio… Como diria Fernando Pessa: “E esta, hein?”

terça-feira, janeiro 08, 2008

A Arte da Fuga

Pouco ou nada me resta senão fugir. Não enalteçam o que não merece louvor. Não sou mais nem, tão-pouco, tudo. Saciem a vossa sede com alguém que não vos deixará à míngua.
O comum, o habitual, o normal não falha. Pautado pela continuidade, podemos sempre contar com a sua previsibilidade. Uma torneira como tantas outras jorrará água. Tão certo como a secura que no impele a procurar essa ambrósia dos deuses. Contudo uma torneira gasta pela erosão do tempo tanto poderá deixar correr um fio de água como não. E, fatal como o destino, chegará o dia que partirá e daquela bica nada correrá.
Ao terem vontade de apostar naquela pessoa que parece ter boas probabilidades, parem! Nem tudo o que parece é. Por vezes trata-se duma aposta perdida. Somente fumo. O fogo já se extinguiu.
Acordar? Para o vazio? Para o silêncio?
Agora que provei o doce sabor daquilo que gosto, dificilmente retrocederei para o “menos mau”. O “second best” já não me interessa. Migalhas…
“A vida é dura para quem é mole”. E eu sou mole. Ser gelatinoso, amorfo e mutante que, por ser translúcido, apenas reflecte a imagem distorcida de quem o vê.
Como qualquer alienígena aperfeiçoo a arte da fuga….

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Recaída

Fechei-me em casa. Não saio. Não socializo. Não quero! Deixei de lhe falar de mim. Talvez assim consiga controlar estes pensamentos e sentimentos que me assombram. Tento não orientar os meus dias à volta da caixa de entrada do mail. Ignoro as suas comunicações. Leio e sinto-me impelida a responder. Todos os átomos do meu corpo lhe querem responder. Dizer-lhe que não o esqueço. Que ainda o amo. Que ainda o quero. Que ainda me invade os dias…
Ao tornar-me reclusa por vontade própria não ouvirei expressões que mo trazem à memória. Cheiros que transportam para aqueles dias em que me sentia querida e com valor para alguém. Sentir que havia alguém que gostava de mim, mesmo quebrada que estou.
Mas como qualquer viciada, tive uma recaída. Não é que num golpe de génio recorda-me um dos meus textos preferidos. Estranho para muitos mas incisivo e acutilante para mim.
Como uma mão que me acaricia, senti a intensidade da sua inteligência e fiquei fisicamente excitada.
Três dias de solidão e apatia em que repudiei contactos externos e dispensei as companhias habituais, já me levavam ao estado de coma que tanto procurava.
Não sentia nada. Nem por ele, nem por ninguém. As minhas respostas aos demais eram breves e agressivas. O intuito era cortar a conversa antes que começasse.
Encharco-me de pílulas milagrosas e durmo 12 horas por dia. As que sobejam passo-as defronte da televisão a ver tudo que não obrigue a muito raciocínio.
Mas foi só isso. Uma recaída. Amanhã, logo, logo, estarei estirada na cama ou sofá vegetando.
Lutar? Para quê? Perdi as duas coisas pelas quais lutei em menos de nada. Sobeja-me vegetar…

Instinto canino

Sendo do contra como sou, quando me proíbem de fazer alguma coisa, mais vontade tenho de a fazer.
Não posso fumar no café? Certíssimo. Civilizadamente, acabo a bica e venho para a rua fumar o belo do cigarro. Aproveito para fazer companhia aos outros cachorros que, como eu, se encontram ostracizados. Também merecem mimo…
Os transeuntes olham-me com pena e, alguns, com escárnio. Compreendo. É melhor ficar cá fora, não vá eu levantar a perna no estabelecimento ou roubar um bolito da mesa duma “senhora de bem”… Ou mordiscar a alça da mala Cavalinho… Tenho alguma dificuldade em controlar-me, confesso.
Assim que vejo a bifana suculenta a chegar à mesa alheia, levantam-se as orelhas e começo a salivar… Farejo o ar incontrolavelmente. Lambo os beiços… O que vale é que, estando cá fora, estes meus instintos primários já não podem magoar ninguém…
Na rua até se está melhor… Posso coçar-me à vontade, vejo passar as gentes e sempre há uma ou outra alma caridosa que me faz uma festa…

domingo, janeiro 06, 2008

Puzzle

Aconchego-me. Coloco os auscultadores nos ouvidos e carrego no “play”. O som que ouço, incessantemente, há meses ressoa na minha cabeça. Acalma-me. Algo se mantém imutável. As sensações que me provocam deixaram de ser as mesmas… Escutava-as enquanto fazia, lentamente, o caminho de minha casa até à Praça. Ia sempre com um sorriso na cara e acompanhando mentalmente as letras que sei de cor. Sentia-me bem. Enchia os pulmões de ar frio e sorrindo acenava com a cabeça aos conhecidos que se cruzam comigo.
Mau hábito este de chegar adiantada aos compromissos. Para fazer tempo dava um pulo à Sé e sentava-me nos bancos traseiros a contemplar o altar. Sítio lúgubre, escuro e cheirando a cera, arrepiava-me em pequena. Agora, transmite-me leveza. Não a ideologia que lá se professa. Essa não condiz comigo. Mas a quietude que impera nestes espaços… A grandeza… A História… A paz… Bem sei que a pedra basilar é a hipocrisia. E daí? Não o é em todo os quadrantes da nossa vida? Em nós próprios? Naqueles que amamos?
Os sinos tocavam a hora certa e lá ia eu na expectativa de mais uma hora de revelações depois de uma semana de trabalho…
Passaram-se séculos… Agora ouço as mesmas músicas mas com passo acelerado e cabeça baixa para chegar a tempo. Saio de casa com tempo contado. Aqueles minutos que tirava para mim, agora angustiam-me. Chego e já os sinos tocam. Subo as escadas e o peito aperta. Quero que o tempo passe depressa. Tal como nas doutrinas professadas na Igreja onde me refugiava, não tenho fé nas que me vão ser relatadas agora.
Ontem decidi começar uma investigação sobre fraquezas e fragilidades humanas. As minhas. Como peças de um puzzle imprimi quase uma resma de folhas de comunicações que tenho mantido guardadas. Quero e vou perceber o que raio se passou. Só para mim. Impera-se que o faça. O que me levou a sentir-me assim. Pode demorar eternidades, como pode ser apenas e só uma epifania. Ou nunca perceber. Talvez premissas tenham ficado por dizer. Calculo que sim...
Possivelmente, ao acabar o puzzle possa voltar a fazer o caminho de minha casa até à Praça de cabeça erguida… Ou, então, deixar de o fazer de todo…
Vou-me aconchegar ouvindo esta banda sonora e voltar à dura tarefa de montar o puzzle…

sábado, janeiro 05, 2008

Mimada

Deixem-me em paz! Parem de projectar as vossas frustrações para cima de mim! Parem de viver os vossos sonhos desfeitos através de mim! A vida é bela? Então vivam-na e larguem-me!
Será que não entendem???? Uns puxam para um lado e outros para o outro. Sou só uma! Para socorrer aos vossos pedidos vou-me afogando! Para ter capacidade de elevar-me às expectativas que têm de mim, destruo-me.
Existe uma passagem do filme “O Piano” que sempre me seduziu. Ao deixar as terras da Nova Zelândia, Ada, desata o seu objecto de obsessão e deixa-o afundar-se nas águas do mar. No último instante, coloca o pé na corda que se desenrola e é puxada para o fundo com ele. É o afogamento perfeito. Não há um som. Na minha opinião, o filme terminou nesse instante. Com a música do Michael Nyman tocando apenas nas nossas mentes, a muda teria uma morte silenciosa. Mesmo não sendo “feliz”, era o fim verdadeiro.
Sou mimada. Sim sou. Não lido bem com rejeições? Não. Mas quem gosta de perder? Mas pior que ser derrotada por ser incapaz é ser, nas palavras de quem rejeita, perfeita mas desnecessária. Duas semanas. Foi o tempo que demorei a passar de extraordinária a incomodativa nas duas vertentes da vida que nos sustêm…
Agora querem redireccionar atenções?
Todos dão o seu palpite… Sabes o que precisas? Trabalho! Descanso! Homem! Mulher! Sexo! Amor! Dinheiro! Felicidade! Objectivos! Força! Sorte! Ficar! Sair! Confiar! Desconfiar! Silêncio! Divertimento!
És isto, aquilo, tudo e nada. Vais ver, para pessoas como tu é só uma questão de tempo!
Ainda se questionam porque não ando bem em mim…
Não se trata de um truque barato de psicologia invertida com o intuito que me venham elogiar e dar palmadas nas costas.
Sou mimada. Tenho tudo o que quero. Todos sabem disso. Nunca me privei de nada. Por isso, guardem as vossas boas intenções para quem precisa delas…
Afflictis non est addenda afflictio

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Moinhos


Também eu luto contra os moinhos… Fantasmas criados na minha cabeça que nada são senão invenções do Homem. E tal como D. Quixote também tenho o meu fiel companheiro, Sancho. No meu caso, Timon. Aquele que me tenta chamar a atenção para a realidade e, que ao ver que falha, entra nos meus devaneios tentando-me proteger. Avisa-me da minha idade avançada e da minha condição física que já não me concede a destreza de batalhas passadas.
Pacientemente segue-me, mesmo quando sabe que não vou a lado nenhum e que os espectros que combato cessaram de existir senão na minha cabeça.
Até o meu fiel cavalo, a minha montada, parece cansado de cavalgar contra os moinhos… Olha-me com aqueles olhos meigos contudo cansados de tantas batalhas que por pouco lhe custaram a vida. Precisa de descanso. De reformar-se desta vida de ter uma dona louca e viver sossegado a passear nos prados verdes a comer relva e recuperar das feridas que ainda o enfraquecem. No entanto, vai aguentado e fá-lo-á até o dia da sua morte pois o seu sentimento de fidelidade vai para além dele próprio. Altruísmo puro.
Mesmo na incompreensão das minhas sucessivas investidas frustradas, cegos por amor, continuam a acompanhar-me. Talvez esperem com ansiedade o dia que eu perceba que não há lá nada senão moinhos e aí, então, poderemos voltar para casa.

Espectadora

Papel que interpretei há tempos. Deixei a vida escapar-me entre os dedos. Sentada num qualquer banco de jardim a vida parecia desenrolar-se à velocidade da luz à minha volta enquanto continuava estagne e presa às correntes que me tolhem os movimentos e me calam os pensamentos.
Como posso andar de cabeça erguida se não passo de um parasita? Nada me resta senão contemplar as pedras da calçada onde os verdadeiros seres caminham. Aqueles que trabalham, vivem e subsistem nesta era que premeia os pobres de espírito, relegando os demais a uma vida sem esperança.
Nesse mesmo banco de jardim, tantos por que passei, fingia conhecer os estranhos que por mim passavam. Inventava-lhes nomes e vidas. Estranha forma de combater a solidão…
Por vezes pediam-me um cigarro e sentavam-se a meu lado. Dois dedos de conversa circunstancial sobre a meteorologia e um governo incompetente. Seguiam o seu caminho. Eu tentava levantar-me. Para onde ir? Faltava-me um destino.
Encontrei-o e perdi-o. Antes que me habituasse ao ser precisa, já não o era.
Por um momento ínfimo pareceu-me que as peças encaixavam e que, finalmente, seria curada. Uma alegria, que por ser rara, estranhava mas que me impelia a andar para a frente. Não parar! Se a vida me deu estas oportunidades é porque até tenho valor. Vá! Mostra o que vales! Tirei a máscara que me cobria o corpo. Vesti a armadura e preparei-me para a guerra. Combati com todas as minhas forças e sabedoria. Senti-me vitoriosa! Os outros soldados congratulavam pela bravura e, de noite, juntávamo-nos para banquetes e festins de celebração.
Posso ter ganho algumas batalhas mas, por fim, perdi as guerras. As duas que travei. Uma com a cabeça e outra com o coração.
Quando voltarei a ter um papel na peça que é a vida? Agora que passei, novamente, de actriz a espectadora….

A Mulher de Gêmeos - 21.05 a 20.06

Mesmo que pensem conhecer esta mulher a fundo, as opiniões dos amigos e parentes nunca serão parecidas. A geminiana equivale a várias mulheres, todas diferentes, que variam conforme seu estado de espírito. Quem conhece uma mulher de gêmeos sabe que é muito difícil ver a mesma pessoa por muito tempo. Suas fotos nunca parecem ser da mesma pessoa e suas mudanças de comportamento deixam qualquer um sem saber se acabam de conhecer uma nova mulher ou se ainda está falando com uma velha amiga! Sim, o signo de Gêmeos é o signo da mutação, de todos aqueles que gostam de mudar, experimentar e ultrapassar horizontes. Se existe algo que pode matar esta mulher é a monotonia. Como um camaleão ela vai assumindo várias formas, encantando e intrigando os homens. Ao contrário do que possa parecer, seu jeito misterioso consegue agradar a muitos homens que acabam ficando apaixonados. A mulher de gêmeos não muda de personalidade. Ela apenas mostra todas as mulheres que vivem dentro dela. Às vezes ela pode ser tão volúvel e imprevisível, que se deixará encantar pelo sorriso ou pelo olhar de uma nova paixão para, logo depois, começar a criticá-lo com a mesma intensidade. Então, o homem que antes era maravilhoso, vai se tornar tão cheio de defeitos que ela se perguntará como foi capaz de se apaixonar por alguém assim? Esta capacidade que ela tem para se apaixonar e se desiludir logo em seguida pode partir muitos corações até que tenha certeza de que realmente acabou de conhecer o homem de sua vida. Bem, para falar a verdade, é ele que vai ter que convencê-la de que é o homem de sua vida! Se deixar para ela a tarefa de analisá-lo, pode ter uma tremenda decepção! E a melhor maneira de conquistá-la é sendo sempre a mesma pessoa. Ela aprecia mudanças em sua vida na sua personalidade e adora experimentar novas sensações. Mas quer um homem bem previsível ao seu lado. Previsível, mas nunca passivo! Seu temperamento faz com que aceite as mudanças com mais facilidade que as outras mulheres, desde que não esteja relacionado com o comportamento de seu parceiro. Para ela é difícil entregar-se a uma pessoa sem enfrentar suas dúvidas. Sabem aqueles desenhos onde alguém é atormentado por um anjinho e um diabinho que ficam dando opiniões sobre o que é melhor fazer? Pois é mais ou menos assim que funciona a mente desta mulher. Sua dualidade sempre estará analisando os prós e contras de todos os relacionamentos. Aquele homem carinhoso e romântico será capaz de ganhar o suficiente para sustentar a casa? E aquele homem que ganha dinheiro como ninguém, não será um tanto frio para confortar seu coração quando estiver carente? Tirando o amor e o romance que costumam atormentá-la com a idéia de perder sua liberdade, nas outras coisas ela é bem direta e não costuma fazer rodeios! Mas não se preocupe, ela vai acabar fazendo sempre a melhor escolha do momento. Se algum dia ela descobrir que a melhor escolha que fez acabou se tornando um pesadelo, não pensará duas vezes em largar tudo para recomeçar do zero! A mulher de Gêmeos não se prende muito aos seus erros se descobrir que fez uma escolha errada! Ela vai aprender com a experiência e dificilmente vai repetir os mesmos erros! Normalmente ela é uma companheira animada, agradável e alegre. Tirando suas fases azedas que fazem com que fique insuportável com seu cinismo e língua afiada, seu outro lado romântico e aventureiro faz com que tenhamos a sensação de que estamos diante de uma grande amiga ao invés de uma namorada. Ela acompanhará o namorado em tudo que fizer, desde uma escalada em uma montanha até uma aventura na África! Para ela não existe esta coisa de separar as atividades entre feminina e masculina, quando esta apaixonada. Para onde ele for, ela estará ao seu lado! A geminiana pode estar apaixonada, mas dificilmente deixará de achar outros homens atraentes. Também costuma ser muito criativaquando o assunto é amor. Curiosa e com uma imaginação fértil, ela é ótima para apimentar relacionamentos. Sua imaginação se revelará quando sua curiosidade for excitada por uma nova descoberta. Para ela não basta ouvir palavras carinhosas e juras de amor. O verdadeiro amante deve agradar seus ouvidos com palavras dóceis, mas não pode se esquecer de surpreendê-la na hora do sexo! Lembrem-se que ela detesta monotonia. A geminiana costuma associar sexo com amor como ninguém. Sua mente não consegue entender como alguém pode amá-la sem fazer com que suba pelas paredes! Ela jamais tomará um ônibus se pode ir de avião. Jamais ficará calada se puder falar. E jamais andará quando puder correr. Por isso nunca vai se contentar com o mínimo em um relacionamento quando pode ter muito mais. Apesar de muitas vezes parecer fria e distante, ela deseja ser amada e mimada. Mostre que sempre estará ao seu lado, apesar de suas crises de mau-humor, e terá uma mulher que se entregará por inteira. Aliás, o melhor remédio contra o mau-humor da geminiana é sempre demonstrar amor! Não há chatice que dure muito tempo!