domingo, junho 29, 2008

Interregno

Faço aqui um intervalo no meu retiro para desabafar uma constatação que fiz hoje e que me deixou pensativa e um pouco mais triste.
Existe uma praça com esplanadas na cidade onde vivo onde gosto de me sentar e beber um café com amigos aos fim-de-semana. Especialmente nestes dias, fervilha com actividade…
As pessoas que enchem as mesas, as crianças que brincam, os animais de estimação que aproveitam a liberdade para correr e deliciarem-se com as festas de estranhos…
Além disso existem, claro está, os pombos… Já referi noutras ocasiões adorar animais e ser uma feroz defensora dos mesmos. Mesmo dos chamados “ratos com asas”.
Bem sei que os pombos estão longe de serem pássaros limpos, que são transmissores de doenças, que sujam o património e, muitas vezes, os transeuntes (por mim falo!) mas este gostinho de andar à “biqueirada” e “sapatada” aos ditos tem de acabar!
É ver os meninos, desde os seus 3 anos até aos 12, numa caçada incansável atrás dos pobres bichos para felicidade e orgulho dos seus pais que riem com satisfação!!!
É impressão minha ou o mundo ficou “mais mau”? Não, não me enganei. É mesmo “mais mau” e não pior…
As pessoas estão cada vez mais más! Vis! Baixas! Reles!
Hoje, particularmente, estava a contemplar um miúdo, duns 8 anos, numa concentração maquiavélica a seguir os pombos, pé ante pé, com a esperança de apanhar algum desprevenido para o “presentear” com um belo pontapé! Esteve naquilo uns 20 minutos… Até comentei com o meu amigo que se fosse para fazer alguma coisa de bom não se concentrava tanto tempo! Pior que a acção do petiz foi a reacção dos pais. Este “casal de bem” contemplava o seu rebento com uma cara enternecida e extasiados de júbilo pela bonita acção praticada pela sua “semente”.
A criança falhou nos seus intentos, e ainda bem, sentando-se frustrada na mesa com os pais. Nesta altura respirei fundo e pensei que, talvez, os pombos tivessem descanso. Qual não é o meu espanto quando o pai da criaturazinha se baixa na cadeira e dá uma violenta chapada com as costas da mão num pobre pombo que passava ao lado da mesa. Fiquei estarrecida e boquiaberta a olhar para o Sr. Este olhou para mim com uma cara de gozo e altivez.
Com pena minha, não me controlei e disse ao meu amigo, alto e bom som, para irmos embora porque não gostava de estar sentada perto de bestas!
A minha teoria inicial estava correcta!
Quando olhei para a criança pensei, no gozo, que se tratava do “filho do Demo”. E não é que acertei?!

quarta-feira, junho 25, 2008

O RETIRO

À minha tribo de afectos quero só dizer que vou fazer um retiro por uns tempos.
Não fisicamente mas do meu blog e da blogoesfera em geral.
Estou bem. Não se preocupem.
Apenas preciso de silêncio... Até de palavras lidas.

Gosto muito de vocês
Saudações tribais a todos
Bem Hajam

terça-feira, junho 24, 2008

Redireccionar os sentimentos

Hoje escrevo de coração pesado e cabeça cansada. Têm sido uns longos dias a cismar com a resolução dum problema que há muito me aflige.
Por muito que tente, mesmo concentrada no meu trabalho, não consigo despegar desta decisão que pende sobre mim como uma nuvem carregada de maus agoiros…
Tenho para mim, embora já me tenham acusado de não saber sentir numerosas vezes, que a maioria dos sentimentos sociais são instintivos. Em inglês apelidam-se de “gut feelings”, grosso modo, um sentimento que surge dum qualquer sítio recôndito em nós e que, raramente, embusteia.
Acontece amiúde a todos, julgo, aquando duma primeira impressão sobre uma pessoa que nos é apresentada. Mas isso não apelidaria de sentimento, mas sensação. É posterior a esse momento. Com o tempo vamos conhecendo as pessoas e essa sensação pode dissipar-se por completo ou agravar-se.
Não raras vezes me tenho enganado em relação a pessoas que vou conhecendo. Até mesmo depois de muito tempo e convivência com as pessoas. Existem verdadeiros mestres do disfarce entre nós! Acreditem… O que me vai consolando é que com o passar dos anos me vou tornando cada vez mais apreensiva. Dou-me até certo ponto à pessoa e, só quando todas as dúvidas estão esclarecidas, dou-me por inteiro.
Poupa-me muitas dores de coração e cabeça…
Mas o problema surge com o amadurecimento dos primeiros sentimentos, ditos “efémeros”. Os encantamentos, as paixões, as empatias, as estimas, etc.
Pode advir um sentimento sólido e nobre que, mesmo na descrença dos outros, nós sabemos que nos consome.
Esses sentimentos, únicos em tipo e género, jamais deixam espaço para que o possamos sentir por outrem. Ocupa-nos uma parte do nosso ser emocional que não é divisível.
Se ao menos tivéssemos capacidade de redireccionar o sentimento para alguém que o merecesse. Talvez até sejam capazes. Eu não…
MAS EU, EU NUNCA SOUBE, NÃO SEI E NUNCA SABEREI SENTIR!

domingo, junho 22, 2008

Gangrena




Um dos meus membros apodrece…
Todos dizem que ao mantê-lo, acabará por me matar…
Provoca-me tantas dores, mas é o meu membro!
Pergunto se não tem salvação…
Em uníssono respondem:
Ou cortas ou morres!
Como um coro numa tragédia grega,
As vozes ressoam na minha cabeça avisando-me do mal que está para vir…

Preparo o torniquete, o bisturi, a serra, a agulha e o fio…
Disponho tudo sobre a mesa…
Olho para os instrumentos esterilizados que reluzem…
Penso em como me habituei a este membro…
Como é parte de mim e não o quero perder…

Mas o que em tempos me tornou mais forte,
Me dava equilíbrio e
Me completava
Tornou-se agora preto
Nauseabundo e tão,
Tão doloroso de se ver

Olho novamente para os instrumentos…
Inspiro fundo e suspiro...
Agarro o torniquete
Coloco-o em posição acima da carne putrefacta
Aperto…
Dói e liberto um berro
As lágrimas caem-me pela face abaixo
Agarro no bisturi e dou um golpe em torno do membro
Urro com dores e choro soluçando

Desmaio….

Hallelujah

quinta-feira, junho 19, 2008

Homo Sapiens Sapiens

Quando penso na terminologia evolucionária que nos define como espécie o primeiro pensamento que se forma é que não se trata duma antítese mas, sim, dum paradoxo.
“Homem Sábio”… Realmente Darwin deve ter chegado a esta conclusão aquando da sua estadia nas Galápagos porque não foi no meio dos da sua espécie que, certamente, viu sapiência…
Numa introspecção recente pensava numa citação dum provérbio chinês que muito me apraz: “Sábio é aquele que aprende com os erros do outros”. Mas todos sabemos que se não formos nós a “dar a cabeçada” o conhecimento nunca se torna perene para nós.
Para mim a sabedoria recai sobre algo muito mais simples e humano. A sapiência, a meu ver, é nunca ter de pedir desculpa.
Nesta sociedade cada vez mais minada de maus exemplos, estamos constantemente a cometer “faux-pas” porque não paramos. Não paramos para conhecer o interlocutor; Não paramos para pensar no que nos vai sair boca fora; Não paramos para antever a reacção àquilo que vamos dizer à pessoa a quem nos dirigimos.
Estes dias tenho andando profundamente abatida. Como tal, os meus amigos ouvem-me e aconselham-me. Cada um tem a solução perfeita para o meu bem-estar mas divergem todas entre elas.
Estava a falar com um amigo psicólogo que, no outro dia no café, me dizia em jeito de brincadeira - e daí talvez não - que a minha inteligência não me serve de nada. Mais valia ser uma completa ignorante (pelo menos seria mais feliz, sem dúvida). Ele não estava a repudiar a minha inteligência. É que, como me apontou, de que serve a tua inteligência e conhecimento se emocionalmente estás “toda rota”.
Cícero disse: “Não basta adquirir sabedoria; é preciso, além disso, saber utilizá-la”. Ora, neste caso específico o meu amigo tem toda a razão. Numa altura que tento encontrar-me ou pelo menos alguma paz na pessoa em que me fui tornando ao longo dos anos a pouca sabedoria que tenho não me dá as respostas que necessito. Essas estão bem fundo nas minas que são as minhas memórias.
Platão põe as coisas dessa mesma forma: “A sabedoria consiste em ordenar bem a nossa própria alma”.
Não usaria o vocábulo alma mas é, sem dúvida, isso que tento fazer. Primeiro uma triagem do que quero que fique; Seguido do que terá de ser alterado; Finalmente o que terá de ser extirpado do meu ser.
Dito isto, continuo abatida pois pensei ter encontrado alguém que me iria ajudar nesta difícil tarefa mas acho que me enganei e, afinal de contas, apenas piorava a situação.
Julgo que, pelo menos por ora, terei de “trilhar o caminho” sozinha.
Como se diz em inglês: It isn’t over until the fat lady sings

terça-feira, junho 17, 2008

Midas’ Touch

Everyone knows the tale of the king that wanted everything that he touched to turn to gold. Only after his wish was granted did he understand that his greed had condemned him to unhappiness for he could not eat his at his feasts, read his books or caress the one’s he loved.
The story I’m about to tell you is similar in format but not in substance.


Once upon a time there was a little fox that lived in her lair and was often sacred of leaving the safety of her haven.
You see, this fox although young in age, was terrified of everything because she had been ill treated for many years and now spent her days licking her wounds and struggling to survive.
One day she decided to ask some friends for help and, slowly but surely, one paw in front of the other, she started to leave her refuge. Aided and encouraged by her friends who “had her back” she strolled a little bit further each day. The fox felt a mix o fear and thrill augmented by the terrain she gained each day. It felt like winning a piece of “no-mans land” during a war against herself…
How she adored her friends. One in particular made her feel so safe that in his presence she would wander far away from her den and feel ecstatic!
But just like the King, she wished for more than she could handle and one day she was left all alone miles away from home. She felt lost, alone and terrified and called out for her friends for hours…
She roamed for days through forests and fields and just couldn’t bear the loneliness.
One night it was pouring and the fox rolled herself up under a stone trembling, wet and crying… She thought of all the friends she had and wondered if they missed her and if they were worried about her. She recalled all the days of fun and laughter when she jumped around the fields with them doing silly things and giggling ‘til her stomach cramped with pain and breathing became difficult. Ah, those were the days!
The memories gave her strength and in one last effort she crawled from under the rock and decided to try to look for home. It had stopped raining and the full moon was out spreading light all through the plain.
She looked around and decided to go east. Any direction would do. She was lost! But something told her it was that way.
She had only walked for a few miles when things started to look familiar… That was it! She was near her lair! She sprinted forward and, not only found the den, but all her friends were camped at her door waiting for her. She was so happy and relived to see them! They told the fox she had been gone for weeks and that they thought they’d never see her again.
Suddenly she looked around and noticed that her special friend wasn’t there… She asked the reason of his absence and a friend told her that when they told him that the fox was lost he said he hadn’t the time to look for her…
The fox was in shock. She felt a stabbing pain in her gut and tears rolled up in her eyes. Furthermore, she discovered that all those weeks she had been running in circles not far from home.
From that day forward the fox learned that, as much as she trusted a friend, she would never let him or her lead her to harms way and that the love she had for someone may not be the same amount that that person loves you…
Just like Midas, she got too ambitious and ended up alone and miserable.
So, now she must learn to love what she’s got and ask for nothing more.

domingo, junho 15, 2008

Sonnet 2




II.

If that apparent part of life's delight
Our tingled flesh-sense circumscribes were seen
By aught save reflex and co-carnal sight,
Joy, flesh and life might prove but a gross screen.
Haply Truth's body is no eyable being,
Appearance even as appearance lies,
Haply our close, dark, vague, warm sense of seeing
Is the choked vision of blindfolded eyes.
Wherefrom what comes to thought's sense of life? Nought.
All is either the irrational world we see
Or some aught-else whose being-unknown doth rot
Its use for our thought's use. Whence taketh me
A qualm-like ache of life, a body-deep
Soul-hate of what we seek and what we weep.

Fernando Pessoa in 35 Sonnets

quinta-feira, junho 12, 2008

O Dia em que o Principezinho Pediu Desculpa à Raposa

À minha tribo de afectos, este post é-vos dedicado.
Incrível… Enquanto perscrutava os vossos blogs como faço diariamente, dei por mim a ver mensagens “subliminares” de apoio e carinho nos posts por vós deixados. Será coincidência? Não acho.
Por isso, vou-vos contar o que me aconteceu em forma dum novo episódio do livro de Saint Exupéry que nos une a todos. (Quer dizer, vou tentar…)


Como sabem, após algum tempo de avanços e recuos, eu e o meu Principezinho criamos o nosso laço. Único e indivisível como os laços devem ser. Dos tais que as pessoas grandes muitas vezes se esquecem de criar e, posteriormente, manter vivos e saudáveis.

Estávamos a dar o nosso passeio no planeta que partilhamos. Como sempre, lado a lado íamos conversando sobre as coisas importantes da vida interrompendo, aqui e ali, para umas valentes gargalhadas como é nosso costume.
Já me tinha afastado imenso da minha toca. Mas, como me sinto protegida na presença dele, nem reparei na distância que me separava do meu refúgio.
Sabem, é da minha natureza de raposa ser frágil e assustadiça. Mais depressa fujo do que uso os meus dentes pontiagudos para morder. Mas se me encurralarem, defendo-me da forma que a natureza me ensinou…
Dito isto, voltemos à descrição do meu passeio. Habitualmente, o Principezinho lidera a conversa. Pergunta-me como tenho estado desde a última vez que estivemos juntos e ouve as minhas histórias, ansiedades, tristezas e alegrias. Aconselha-me, guia-me e ajuda-me, acima de tudo, a criar defesas para não passar tanto tempo escondida. Ele conhece-me bem e sabe das minhas fragilidades. É dos poucos que sabe que os dentes que tenho e que os outros temem são só adorno porque, raramente, os uso senão para me defender. Como eu amo o meu Principezinho!
Por isso, quando passeamos vou com as defesas completamente em baixo. Não olho constantemente em torno de mim, não tenho as orelhas constantemente mexer com medo de alguém estar perto e não estou sempre preparada para a fuga…
Não obstante, ontem o Principezinho não mediu as palavras e disse-me uma coisa muito maldosa. Doeu como se me tivesse dado um pontapé valente no estômago! Foi coisa de pessoa grande!
O resto do passeio foi estranho. Sem grande vontade, confesso, lá me fui rindo das histórias engraçadas que me contava mas como sabia que o passeio estava para acabar deixei-me andar um pouco encolhida com as dores.
Morder o Principezinho?! Mesmo que não tenha tido intenção de me magoar, ele sabe que existem pontos que ao serem discutidos têm de se ter um cuidado extra. Se não corre-se o risco de me voltar a meter na toca e nem para os passeios com ele sair!
Qualquer outra pessoa teria levado uma valente dentada. Mas o meu Principezinho não. Não o consigo magoar. Nem por instinto!
Findado a caminhada, arrastei-me para a toca e enrolei-me para proteger as entranhas que latejavam com dor.
Mandei mensagem pelas estrelas para lhe dizer que estava dorida e a sofrer porque ele tinha sido descuidado com as palavras.
Pediu-me desculpa. Ainda não sou capaz de desculpar. Acertou-me onde as feridas ainda sangram profusamente e passei a noite em branco a ganir, enrolada em mim mesma.
Questiono-me se perdi a confiança no meu Principezinho… Se se rompeu o laço que tanto custou a criar…
Agora estou assustada e tenho medo dele. Ainda dói. Sei que se o ver agora vou-me encolher a cada frase com temor da dor que poderá advir das palavras não pensadas.

E pronto. Cá têm uma versão muito “rasca” dum episódio não editado do livro de Saint Exupéry.

Avó obrigada pelo colo!
BC obrigada afecto e sorrisos!
Fátima obrigada pelos beijos e abraços!
Marta obrigada pela companhia e pelo chá!

quarta-feira, junho 11, 2008

Love! Love. Love?

To hell with love! To hell with feelings and everything they “bestow” upon us!
How can in be seen as a blessing when all I feel is pain? To be scorned, humiliated and infantilized for feeling the way I do! I can’t help it! If only I could! Things wouldn’t be so dark at times…

“Love, love, love -- all the wretched cant of it, masking egotism, lust, masochism, fantasy under a mythology of sentimental postures, a welter of self-induced miseries and joys, blinding and masking the essential personalities in the frozen gestures of courtship, in the kissing and the dating and the desire, the compliments and the quarrels which vivify its barrenness.”
Germaine Greer

segunda-feira, junho 09, 2008

Amar

Quando amar for um erro matem-me sem escrúpulos!
Pois assim não quero viver!

Magoem-me!
Mil vezes magoem-me!
Destruam-me o corpo!
Despedacem-me a alma!
Espezinhem-me os sonhos!
Peço-vos em jeito de eutanásia…

Cortem-me os pulsos!
Esquartejam-me com cavalos bravios!
Pendurem-me na árvore de Judas!
Aticem sobre mim as áspides de Cleópatra!
Espetem-me o punhal de Romeu!
Tirem-me do sofrimento…

Peço-vos por favor…
Porque se amar for um erro, já terei deixado de viver.

domingo, junho 08, 2008

A instintiva dor de amar

Batalho longas horas contra mim mesma. Quero me forçar a querer algo que, pelos vistos, não quero. Dizem que ponho barreiras à partida por uma qualquer pré-concepção de perfeição que não existe. Por vacilar entre a possibilidade de terem razão e o meu íntimo que me diz o contrário, ando num reviravolta sentimental que finda os meus dias com os lábios a saber a sal.
O que não entendem é nada tem a ver com perfeição… Mas encontrar aquela imperfeição toda… Aquela! A que por ser tão imperfeita, a nós nos parece irrepreensível. Amar é isso mesmo! Ver as imperfeições do amado apenas como características deliciosas e nunca, mas nunca, como defeitos. Os que amamos não tem defeitos. Jamais! Têm é um feitio especial.
Se ao menos o coração não acelerasse… Se ao menos as gotas de suor não se criassem… Se ao menos as pernas não oscilassem… Se ao menos os olhos não lacrimejassem…Se ao menos o sorriso não abrisse…
Isto tudo num ápice. Num vislumbre ao longe. No engano de pensar que os olhares se cruzaram.
Na esperança que entre a multidão as nossas almas sintam a presença uma da outra. Como um estremecimento num suspiro… Um batimento cardíaco falhado… Um arrepio nas costas… O levantar dos cabelos ao fundo do pescoço…
Podemos nos tentar ludibriar com racionalizações, supressões, distanciamentos, perspectivações, desistências, mentiras e enganos…
Mas a anatomia não mente. O instinto não atraiçoa.
Da mesma forma que o instinto coage involuntariamente a afastar-nos do cão que rosna; impele-nos, também, a querer estar sempre perto de quem desejamos…
Começo agora, pela primeira vez, a não querer sentir isto. A querer que passe porque me incomoda. Porque é um entrave à minha vida. Porque é uma manifestação desnecessária criada para uma relação que jamais será.
Chega! Quero livrar-me disto! Mas da mesma maneira que não pedi para sentir, sei que só cessará quando outro corpo ocupar este espaço…

sexta-feira, junho 06, 2008

Parabéns Principezinho

Não me refiro à personagem de Saint Exupéry. Refiro-me ao meu Principezinho. Aquele que lentamente me fez sair da toca e dar-me ao mundo.
Lealmente e como me prometeu vai tomando conta de mim como pode.
Quando o conheci estava em hibernação na toca há já muito tempo. Qualquer contacto humano fazia-me tremer e encolher-me com medo. Como qualquer animal maltratado tinha pavor que me voltassem a fazer mal.
Esticou a mão para dentro da toca e disse: - Vem! Não te faço mal. Nem deixo que ninguém o faça. Vai demorar e doer muito mas vou ensinar-te a viver.
E assim começou a nossa cumplicidade. Aos poucos fui-me afastando cada vez mais da toca e dou grandes passeios com ele. Com o meu Principezinho não tenho medo. Ele guia-me e não me deixa perder-me.
O meu Amigo hoje faz anos. E, embora tenhamos uma grande diferença de existência temporal, a nossa Amizade vai para além de qualquer parâmetro humano e mundano.
Lá no nosso planeta não existe idade, tempo ou estereótipos. Falamos e vivemos como bem queremos e é lá que sinto que posso ser quem sou e não preciso de fingir que sou forte.
Sei que chegará o dia que o Principezinho vai achar que estou preparada para conhecer o mundo pelas minhas próprias patas. Ensinar-me-á as manhas para fugir aos caçadores e, de tempos a tempos, virá me visitar.
Mas esse momento tarda e até lá tenho-o a meu lado.

PARABÉNS PRICIPEZINHO!
Por teres chegado onde chegaste, pela pessoa especial que és, pela resiliência que demonstras perante os contratempos da vida. És o meu Cometa, meu Amigo, meu Confidente e o único que me vê exactamente como sou: “totalmente humana e frágil”.

quinta-feira, junho 05, 2008

A Tribo

Quem diria que volvidos quase 20 anos da minha partida de África para cá, faria parte duma tribo?!
Para os membros da mesma onde me insiro, vou explicar o porquê de ter apelidado (peço por empréstimo a expressão da BC) “a nossa teia de afectos” de tribo.
Do que me lembro das tradições tribais que li em tempos, todas parecem encaixar que nem uma luva neste conjunto de pessoas heterogenias, mas iguais, que somos.
Nas tribos a antiguidade é um posto! Os mais velhos são vistos pela sua sapiência e aquilo que transmitem é respeitado já que eles têm a experiência da vida a pesar-lhes nas palavras.
Nas tribos as crianças são tratadas como tal. Devem ser respeitadas e ouvidas pois têm o conhecimento mais puro que existe: a inocência. Têm o direito de serem crianças sem pressa de crescerem. De brincarem. De chorarem. De caírem… Sabendo de antemão que cá estaremos para lhes limpar as feridas, secar as lágrimas e dar colo.
Nas tribos todos os membros são ouvidos e as opiniões de todos são tidas em conta porque não existe certo ou errado. Existem modos de pensar. Então, poder-se-á gerar uma discussão saudável sobre um qualquer assunto e não chegando a consenso, respeitosamente, concorda-se em discordar.
Nas tribos, o conjunto trabalha sempre para o todo e nunca para o indivíduo. Não existe espaço para egoísmo ou narcisismo. Se um membro não se encontra bem, todos se esforçam para dar o seu contributo para o ajudarem a ultrapassar a má fase ou obstáculo.
Nas tribos a solidariedade é uma exigência. Não só de membro para membro, mas com todas as outras tribos que nos circundam.
Nas tribos a natureza e os animais são equiparados a nós e nunca inferiores.
As tribos quem vier por bem, é sempre bem-vindo e a ausência dum membro é logo notada. Cabe aos membros indagarem sobre o bem-estar do ausente e apaziguar a preocupação da restante tribo.
Nas tribos é-se chamado à atenção sobre questões preocupantes e urgentes da sociedade e mundo para que, em gerações futuras, não se cometam os mesmos erros do passado.
Nas tribos, o conhecimento e a palavra são as armas mais poderosas contra todos os males.

Este post é dedicado à BC, á Avó Pirueta, ao Raul, à Marta, à Fátima, à Jade, ao Besbertocharrua e ao Só Eu. Espero não me ter esquecido de ninguém, mas acho que não.

A todos vós um muito obrigada por lerem o que escrevo, pelas palavras ternas que me deixam. Tornam os meus dias um pouco menos dolorosos.

SAUDAÇÕES TRIBAIS

terça-feira, junho 03, 2008

Bad day

Poderia dizer que hoje foi um daqueles dias que não devia ter saído da cama. Mas como todos os dias só me apetece lá ficar, não iria fazer grande diferença.
Um não acabar de pequenas coisas que me foram irritando e mexendo com o meu amor-próprio tornaram um dia vulgar numa verdadeira derrota pessoal.
Fui humilhada em todos os quadrantes da vida. Rebaixei-me perante desconhecidos; fui magoada, novamente, pelo meu pai; espezinhada por amigos; fraca perante inimigos…
O nome Renard nunca me caracterizou tão bem… Apetece-me fugir para dentro duma toca e lentamente deixar que o mundo me passe ao lado.
Estou tão cansada, mas tão cansada, que o que aos outros pareceria banal, a mim deita-me por terra.
Também, do chão não passo…

segunda-feira, junho 02, 2008

Menos

Engraçada esta palavra que arranjei para travar o descambar duma qualquer frase ou conversa.
Por vezes sinto que é o vocábulo que melhor me define.
No outro dia dizia-me um Amigo que achava que eu podia fazer mais… Disse somente isso… Depois suspirou e encolheu os ombros sabendo de antemão que se se tentasse explicar melhor era “metralhado” com as mil e uma desculpas e queixumes que, decerto, já conhece de cor.
Podia fazer mais. Podia ser mais. Sei que é verdade e que as desculpas são a minha escapatória para não me erguer e enfrentar a vida.
Perante as comparações óbvias com pessoas na mesma situação ou então ainda pior que eu, refuto veemente dizendo que cada pessoa é uma pessoa e eu sou eu! Não sou eles… Como dizia a criança em “Der Himmel under Berlin”: - Porque é que eu sou eu e não tu?...
Em tempos disse a este meu Amigo que julgava que uma pessoa que me é muito próxima sofria do “Complexo de Deus”. Justifiquei-me contando que quando a dita pessoa errava, nada podia ser dito sobre o assunto. Porém, se mais tarde alguém cometesse erro igual ou similar e, entre gritos e acusações lhe apontasse que ele tinha errado da mesma forma, a resposta era (ainda é): - Mas eu, sou eu!
Pelos vistos não sou muito diferente desse indivíduo que pensa que tem a autoridade divina…
Quando me dizem: - Ó miúda, tens tudo para seres grande e teres sucesso. Muitas pessoas sofrem das mesmas doenças que tu e piores e têm resiliência. Muitos têm azares duma dimensão catastrófica comparados com os teus desaires e nunca desistem até conseguirem provar que até o destino desafiam…
Engraçado, o meu Amigo é uma dessas pessoas, as tais da resiliência… Admiro-o tanto mas nunca o vi como um exemplo a seguir. Até porque o acho muito, mas muito, acima de mim… A ele imagino-o em cima dum telhado em pelo furacão a gritar: - Vem minha besta! A mim não me derrubas! LOL Que imagem mental tão cómica…
Mas o que quero mesmo dizer, perante todas estes conselhos e partilhas de como as outras pessoas se erguem perante a vida, “dão a outra face” e vencem os infortúnios, é que EU SOU EU!
Quem sai aos seus…

domingo, junho 01, 2008

Vencedores

Se te pudesse emoldurar, desenhar-te-ia a sorrir
Com um cigarro na boca e as mãos estendidas, expectantes
Se pudesse usar as tuas roupas continuaria a ser diferente
E se tivesse a tua voz, jamais sussurraria
Falaria, falaria, falaria

Iremos ser vencedores
As nossas mentes coladas
E tudo é indefinido em ti

O que quer que te tenham dito
Não procures Deus se te sentires frio
Tenta o preto, o branco é giro
Se quiseres o azul, pagarás o preço
Não haverá espaço para nós
Abrirei um espaço para nós

Iremos ser vencedores
As nossas mentes coladas
E tudo é indefinido em ti

Encontra-te comigo defronte do quarto onde nos beijamos
Onde me mudaste, onde me alienaste
Onde ninguém resiste
Onde te segui, esvaziada por ti

Iremos ser vencedores
As nossas mentes coladas
E tudo é indefinido em ti
Iremos ser vencedores
Iremos ser vencedores

(Tradução "emocional" do tema "Winners" dos K's Choice)