domingo, abril 27, 2008

Não, não agora…

Não, não me toques. Pois me feres ao menor toque.
Não, não me abraces. Pois me partes os ossos.
Não, não me beijes. Pois me fechas a garganta.
Não, não me fales. Pois me fazes doer os ouvidos.
Não, não me perguntes. Pois me fazes muda.
Não, não me olhes. Pois me fazes esconder.
Não, não me levantes a cabeça. Pois me fazes cegar
Não, não me faças chorar. Pois secaste-me as lágrimas.

sábado, abril 26, 2008

Gostava que fosse meu, mas não é...

Obrigada por este conhecimento amargo
Anjos da Guarda que me deixaram à minha sorte
Valeu a pena, sentir-me abandonada
Torna-nos endurecidos mas o que é que aconteceu ao amor
Puseste-me a escrever letras em postais
E depois ao anoitecer a contemplar estrelas
Mas o planeta que mais brilha é Marte
Então o que é que aconteceu ao amor
Optarei, então, pela grande limusina branca,
Feiras de Vaidades e anjos rebeldes
Não posso confiar em ti com penas tão ocas
As tuas invenções celestiais, vampiros de amor de olhos metálicos
Vês acima de mim, nunca saberei
O que mostraste a outros olhos
Vai ou vai em frente e surpreende-me
Diz-me que já mostraste o caminho até uma miragem
Vai ou vai em frente e testa-me
Nenhures é agora aqui cheirando a zimbro
Caí do sofrimento, estou sobrevoando o arco-íris
Mas de Medusa beija-me e crucifica
Esta noção ímpia do mítico poder do amor
Olha-a nos olhos, olha-a nos olhos
Esquece os que choram
Olha-a nos olhos, olha-a nos olhos
Esquece os que choram
Vai ou vai em frente

Tradução de Go or Go Ahead de Rufus Wainwright

quinta-feira, abril 24, 2008

The Origin Of Love - A Origem do Amor

Extraordinário este poema sobre a Origem do Amor. Simplesmente breathtaking!!!


"When the earth was still flat,
And the clouds made of fire,
And mountains stretched up to the sky,
Sometimes higher,
Folks roamed the earthLike big rolling kegs.

They had two sets of arms.
They had two sets of legs.
They had two faces peering
Out of one giant head
So they could watch all around them
As they talked; while they read.
And they never knew nothing of love.

It was before the origin of love.

The origin of love
And there were three sexes then,
One that looked like two men
Glued up back to back,
Called the children of the sun.
And similar in shape and girth
Were the children of the earth.
They looked like two girls
Rolled up in one.
And the children of the moon
Were like a fork shoved on a spoon.
They were part sun, part earth
Part daughter, part son.
The origin of love

Now the gods grew quite scared
Of our strength and defiance
And Thor said,
"I'm gonna kill them all
With my hammer,
Like I killed the giants."
And Zeus said,
"No,You better let me
Use my lightening, like scissors,
Like I cut the legs off the whales
And dinosaurs into lizards.
"Then he grabbed up some bolts
And he let out a laugh,
Said, "I'll split them right down the middle.
Gonna cut them right up in half."

And then storm clouds gathered above
Into great balls of fire
And then fire shot down
From the sky in bolts
Like shining blades
Of a knife.
And it ripped
Right through the flesh
Of the children of the sun
And the moon
And the earth.
And some Indian god
Sewed the wound up into a hole,
Pulled it round to our belly
To remind us of the price we pay.

And Osiris and the gods of the Nile
Gathered up a big storm
To blow a hurricane,
To scatter us away,
In a flood of wind and rain,
And a sea of tidal waves,
To wash us all away,
And if we don't behave
They'll cut us down again
And we'll be hopping round on one foot
And looking through one eye.

Last time I saw you
We had just split in two.
You were looking at me.
I was looking at you.
You had a way so familiar,
But I could not recognize,
Cause you had blood on your face;
I had blood in my eyes.
But I could swear by your expression
That the pain down in your soul
Was the same as the one down in mine.

That's the pain,
Cuts a straight line
Down through the heart;
We called it love.
So we wrapped our arms around each other,
Trying to shove ourselves back together.
We were making love,
Making love.
It was a cold dark evening,
Such a long time ago,
When by the mighty hand of Jove,
It was the sad story
How we became
Lonely two-legged creatures,
It's the story of
The origin of love.
That's the origin of love."

Rufus Wainwraight

quarta-feira, abril 23, 2008

Sobras

Já não gosto de ti da mesma maneira. Não confundas amar com gostar. O amor ainda cá está mas o gostar, mesmo gostar foi-se apagando.
Sabes amigo, dar o que te sobra nunca foi e nunca será uma partilha.
Negligenciar aqueles de quem dizemos gostar tem as suas consequências e essas tenho-as manifestamente para mim.
Tudo o que fazes com o intuito de me ajudar já to agradeci de todas as formas como sei agradecer. Mas aquilo que fazes não é mais que me ajudar onde, talvez da tua parte, menos precise. Sei a importância das coisas que fazes pensando no meu bem. Contudo existe algo de paternalista nesses teus gestos e, como bem sabes, pai já tenho. E esse, o verdadeiro, age em conformidade com aquilo que consegue fazer. Mas tu sei que consegues mais e melhor e entendes-me duma outra forma que nunca ninguém conseguiu.
Prende-se, talvez, com o facto de desempenhares demasiados papéis na minha vida. Cada função que temos na vida dos outros tem os seus próprios limites e, na nossa situação, nunca sei onde um acaba e começa o outro. É difícil de gerir e, para não te ferir, tento ser o mais cautelosa e cuidadosa possível.
Dou e sempre darei muita importância aos meus amigos. Quem já passou muito tempo na vida sem os ter cuida o melhor que pode e sabe, daqueles que vão surgindo. E então quando existe um entendimento quase telepático, tenho para mim que existe uma “obrigação” de manter essa união. Não por palavras mas por gestos.
Pensarás que me refiro à tua vida atarefada e “agendada ao segundo”. Nada disso. Os teus silêncios, embora ainda me doam, já aprendi a aceitar como parte indelével de ti e contra isso nada posso fazer.
Refiro-me a não fazer parte da tua vida. Sou uma apontamento na agenda ou, quiçá, um caso bicudo se tanto. Uma referência leve e mundana numa conversa de circunstância sobre “uma miúda que conheço”…
Falo-te na minha vida como Amiga. Sei que tenho de o fazer por outras razões mas, sem o carinho que sinto por ti, existiam confidências que nunca te faria. Essas mesmas confidências às quais fazes ouvidos moucos e que preferes ignorar.
Talvez, num mundo que não este em que vivemos, tenha imaginado que fosse realmente uma Amiga. Capitular o adjectivo foi obra tua. Na altura achei um gesto carinhoso e único. Só nosso… Depois descobri que não. Que tens mais Amigos. Ingenuidade da minha parte pensar o contrário…
Enquanto isto sobre ti sei muito pouco. Do teu passado não gostas de falar e respeito. O presente revolve à volta de questões profissionais e fait-divers que me contas para me fazer sorrir ou soltar uma gargalhada. Dos sentimentos já me deste e entender que não são da minha conta… Afinal o que resta? Que define esta dita Amizade?
Da minha parte dou tudo o que posso.
Da tua recebo as sobras…

terça-feira, abril 22, 2008

"Do I Disappoint You"

Do I disappoint you, in just being human?
And not one of the elements, that you can light your cigar on
Why does it always have to be fire?
Why does it always have to be brimstone?
Desire
Cool this body down

Do I disappoint you, in just being lonely?
And not one of the elements that you can call your one and only
Why does it always have to be water?
Why does it always have to be holy wine?
Destruction
Of all mankind

And do I disappoint you?
Do I disappoint you in just being like you?
Tired of being the reason the road has a shoulder
And it could be argued, why they all return to the order
Why does it always have to be chaos?
Why does it always have to be wanderlust?

Sensational
I'm gonna smash your bloody skull.
'Cause, baby, no, you can't see inside
No, baby, no, you can't see my soul
Do I disappoint you?
Do I disappoint you?

Rufus Wainwright

segunda-feira, abril 21, 2008

Sonnet 29

When, in disgrace with fortune and men's eyes,
I all alone beweep my outcast state
And trouble deaf heaven with my bootless cries
And look upon myself and curse my fate,
Wishing me like to one more rich in hope,
Featured like him, like him with friends possess'd,
Desiring this man's art and that man's scope,
With what I most enjoy contented least;
Yet in these thoughts myself almost despising,
Haply I think on thee, and then my state,
Like to the lark at break of day arising
From sullen earth, sings hymns at heaven's gate;
For thy sweet love remember'd such wealth brings
That then I scorn to change my state with kings.

Shakespeare

domingo, abril 20, 2008

O ponto mais baixo

São 4 da manhã. Lá fora chove torrencialmente. Lembro-me de adorar ouvir a chuva a bater furiosamente nos estores enquanto me refugiava nos braços do meu amante. Doce sensação de protecção eterna…
Agora é um som que, para além de melancólico, me entristece. Nada pior que uma cama de casal ocupada com apenas um corpo. Já se passaram anos e continuo a dormir somente do meu lado. Como se aquele espaço estivesse à espera de ser preenchido…
Durante todo o dia de ontem arrastei-me num movimento pendular entre o sofá e a cama.
A noite anterior cansou-me o corpo e deixou-me um peso na cabeça. Sim, ressaca…
Os meus excessos encontram-se num crescendo semanal. A cada nova aventura com a ambrósia dos deuses, a fasquia sobe. É directamente proporcional à dor que carrego. Quanto mais dói, mais bebo para, por momentos, esquecer.
Uma imagem absolutamente deprimente é alguém da minha idade em conversas gregorianas com o WC da discoteca.
Como se possível fosse, flutuo acima do meu corpo e vejo-me em tão humilhante situação. Mas não me envergonho. Que se pense o que se quiser. O que sinto e o que me corrói é só meu e cada um lida com os infortúnios da vida como pode. Ninguém deve julgar sem conhecer. Não. Não tenho capacidade de transformar a minha raiva, dor e vontade de desaparecer numa pulsão de vida. A resiliência não é para mim…
É o eterno equilíbrio das coisas. Novas vidas surgem e, outras já gastas, desvanecem-se.
Há que dar lugar a quem verdadeiramente quer e merece um lugar.

sábado, abril 19, 2008

Cada coisa a seu tempo…

Assim sendo calarei aquilo que me tem transtornado. Aquilo que me rasgou o coração do peito. Aquilo que me tornou estéril para sempre.
Tiro um a dois dias por semana para me destruir propositadamente. Os restantes dias dão cabo de mim sem que eu tenha responsabilidade nisso.
Ando há umas largas semanas a sentir-me perdida. Completamente desamparada.
Uma sucessão de acontecimentos levou-me a aterrar com a cara no chão com tal força que, por mais que os que gostam de mim me tentem levantar, não conseguem. Sentam-se à minha volta a olhar para mim. Eu indefesa e eles impotentes perante a queda que dei. Sabem que se tocarem em mim da forma errada podem matar-me e, por isso, resignam-se a olhar-me de olhos lacrimantes na esperança que esta seja só mais uma queda e não a derradeira. Sentem pena de mim… Sentimento vil guardado apenas aos pobres de espírito.
O pai dos meus filhos não o será nem agora nem nunca. As crianças que queria criar com tanto amor são apenas utopias. Sonhos de quem pensou ter essa capacidade em tempos.
Sinto o fim próximo. Quando e como não sei. Mas pressinto que tudo acabará. Logo se verá o contorno da coisa.
Cada coisa a seu tempo…

quinta-feira, abril 17, 2008

Uma semana nos primórdios do tempo

Há mais de uma semana que fiquei sem Internet em casa. É verdadeiramente exasperante. Mais uma vez se confirma que só damos o devido valor às coisas quando faltam. Incrivelmente, esta privação cibernética tem potenciado a solidão que sinto. Por vezes, nas noites de insónias e dores vinha navegar um pouco e, realmente, existia uma falsa sensação de companhia.
Mas, enfim, lá vou colmatando a falta dos meus amigos virtuais com livros, música e televisão.
Piorando a minha situação de distanciamento do mundo, tive uma discussão absurda com um “troglodita” que, de tempos a tempos, me presenteia com acusações simplesmente disparatadas e injustas. Tudo isto seria facilmente ultrapassável não fosse o dito “homem das cavernas” o meu digníssimo pai. Pasmados com a violência com que falo dele? Então convido-os a assistir a um dos seus discursos sobre a minha pessoa e as minhas valências para terem uma ideia do que é, realmente, violência. Quem quer ser respeitado tem de se fazer respeitar. O respeito não é algo que se herda ou se tem por obrigação sanguínea. Faz-se por merecer.
Adiante. Há dias fui assistir a uma peça escrita por Ovídio no século I. A encenação estava sublime.
Percebo muito pouco das artes dramáticas e cénicas. Só muito recentemente deixei de parte a minha intransigência em relação ao teatro e predispus-me a abrir a mente. Comecei, um pouco receosa a principio, a ir assistir a peças. Sempre tive para mim que o teatro era demasiado complexo para mim. Que não entenderia o busílis do que estaria a ver e que faria uma enorme figura de ignorante ao responder a perguntas relacionadas com as peças.
No entanto, depressa entendi que, como qualquer forma de arte, não existem respostas certas ou erradas. A interpretação do que acabei de ver é minha. Pessoal e intransmissível. Ver teatro é, por excelência, uma experiência empírica. A racionalidade que poderá surgir das emoções que exalam do palco será sempre enquadrada na nossa própria experiência pessoal e personalidade.
Esta peça em particular fez-me soltar gargalhadas sentidas. Por um lado devido ao tema, por outro pelo narrador. Diverti-me imenso e saí da sala, verdadeiramente, bem disposta.
Assim sim. Assim, vale a pena voltar aos primórdios do tempo.

O último ano

Logo quando pensava que não me poderia sentir pior, eis que me dizem que não me podem dar aquilo que quero e que mereço melhor… Isso seria muito bonito de se ouvir se não fosse o facto de nem eu saber o que quero!
Perante uma pergunta normal a inquerir o porquê dum afastamento despropositado e não merecido a resposta óbvia é: - “ Não te posso explicar o que me levará anos a entender…”
Hã? Desculpa? Bem, para alguém supostamente inteligente, o meu cérebro parou. Não percebi, continuo a não perceber e, sinceramente, nem quero entender.
É mais ou menos a reacção do meu pai ao ler a minha carta de recomendação. Um documento extenso e laudatório em que só faltava dizer que, como profissional, eu seria a última coca-cola no deserto. Após umas quantas leituras, olha-me de sobrolho levantado e diz: “- Se és assim tão boa, porque não ficaram contigo?!” Obrigada pela constatação do óbvio paizinho. Tal questão nunca me ocorreu…
Nunca quis ser mais nem melhor do que ninguém. Não acho que ninguém valha menos que eu, logo nunca entendi essa desculpa do “mereces melhor”.
Com muita pena minha, sou o que sou. E nas minhas inúmeras tentativas de “melhorar-me” acabei, inequivocamente, àquilo que sempre fui.
A minha última hipótese de me aperfeiçoar foi já numa situação in extremis. Em completo desespero, fiz tudo como ditam as regras. Cedi a conselhos que ouvia incessantemente há 10 anos e fui contra a minha própria vontade. Bem, foi um, senão o, maior fiasco de sempre!
Mas ganharam! Desisto! Têm razão! Eu não sei amar, não sei o que é a amizade, não sei nada! NADA! Sou completamente acéfala e estou perigosamente perto de começar a criar uma qualquer psicopatia por pavor de me dar a esse luxo que é sentir.
A recém recuperada crença na bondade humana foi totalmente despedaçada. Para mim acabou.
Este será o último ano.

Coisas triviais e mundanas

Pejada de tudo e nada saio de casa munida da minha caixinha de música.
O volume no máximo cabeceio a quem me cumprimenta. Sorrisos, não. Esses, já não.
Conversas? Banalidades e faits-divers? Resigno-me ao silêncio por não ter opinião para oferecer.
Olhar distante. Sempre distante. Focando um ponto ao longe no horizonte que mais ninguém vê senão eu.
Chamada à atenção, a reacção é um pestanejar lento de quem sai dum estado onírico e de latência. Mas não durmo nem, tampouco, sonho. Apenas respiro.
E os dias assim vão passando. Inspiro e expiro. Um pé à frente do outro.
Avassaladora esta sensação de não ser. Não querer saber. Não existir.
Torno-me invisível. Misturo-me com as gentes, sozinha.
Caminho com as mãos nos bolsos e olhos no chão. Sempre no chão. Nada de me desviar das pedras da calçada.
Desencontro-me de me quer encontrar. Nas fotografias apenas eu apareço desfocada, Um espectro ao fundo que ninguém se lembra de lá ter estado e que não conseguem identificar…
O passado tratou-me mal. O presente nada tem para me oferecer. Pacientemente, espero o futuro. Poderá nem chegar, mas até lá… Inspiro e Expiro. Um pé à frente do outro.
Como ruído de fundo, apenas, murmúrios de coisas mundanas e triviais.

domingo, abril 06, 2008

O Poço do meu amigo

É verdade o que dizes sobre as estações de comboio. O corrupio seguido duma extrema calma faz parecer que, por segundos apenas, o mundo parou de girar e o silêncio é absoluto.
Talvez seja um pouco a ideia de que só estamos realmente sozinhos quando nos despedimos de quem nos é mais próximo. Seja um adeus ou um até já, existe um ínfimo momento só nosso de “luto” e alegria. Das saudades que começam mas um alívio de estarmos de novo na nossa própria companhia. A lágrima da despedida e o suspiro de alívio do reencontro com nós próprios.
É normal que Virgílio Ferreira suscite esta reacção em ti. Sendo existencialista pode-se fazer um paralelismo entre o nos despedirmos de alguém e encontrar na solidão da sensação de termos sido “deixados”, a nossa própria existência.
Assim que o comboio parte e ficas sozinho na plataforma chegas à conclusão que existes porque não existe mais ruído à tua volta. Só o som da tua respiração.
Na “Aparição” ele encontra-se ao ser surpreendido pelo reflexo dele num espelho. Pensa: se me vejo e se me sinto, então, existo.
Para ti este momento é quando deambulas na estação de comboio à espera daquele instante que te apercebes que já te fazia falta uma conversa contigo próprio.
A dita pausa de pensar a que te referes é quando tudo se alinha e percebes que, tirando o que pensas que os outros vêem de mal em ti, és realmente perfeito para quem mais interessa: para ti.
Mas como em tudo nesta mísera existência, Virgílio Ferreira, assim como qualquer filósofo esquece algumas das nossas predisposições genéticas e, acima de tudo, humanas. Somos seres sociais. Vivemos e respiramos o que os outros pensam de nós. Não vivemos do reflexo do espelho, mas do reflexo que vemos nos olhos dos demais quando nos observam. Por isso, meu amigo, nunca nos satisfazemos connosco próprios. Porque os momentos que nos são concedidos em que temos uma percepção da nossa perfeição são apenas fogos-fátuos entre um não acabar de chamas diárias que nos devoram por nunca sermos o suficiente para os outros.
Mas isto é só a opinião de quem, verdadeiramente, abomina estações de comboio....
Mas, a ti, meu “italianozinho”, te digo que, para mim, és o suficiente. És um amigo incontornável e perfeito.

Paredes

Há quem escreva nelas. Eu falo com elas. Por uma questão de falta de ressonância, não tenho outro remédio senão desistir.
Porquê falar com o eco se o que me chega é a réplica exacta daquilo que grito?
Assim sendo, reduzo-me ao silêncio. Pensarei para mim e jamais alto.
Não me entendem.
Esquecem-se das premissas preexistentes e usam as palavras sem cuidado e sem pudor. Esquecem-se do real significado das palavras e da sua subjectividade.
Fere mais ser ignorada que a falta de palavras.
A amizade, para mim, não é isto.
Cada um tem um tempo certo para cada coisa e, por sua vez, cada coisa tem o seu tempo.
Quando são distantes e diferentes de ser para ser, só deixa espaço para dor e sofrimento.
Estou farta de falar para paredes…

sábado, abril 05, 2008

Álcool

“O álcool não consola, não preenche os vazios psicológicos, mas supre a ausência de Deus. Não compensa o homem. Pelo contrário, anima a sua loucura, transporta-o a regiões supremas onde é mestre do seu próprio destino.”

Marguerite Duras


Só uma mulher teria o discernimento de ver para além de todos os outros efeitos da embriaguez e fazer entender porque procuramos nos vícios formas de nos escaparmos a nós próprios.
De fugir aos nossos defeitos; aos valores que nos enfiaram pela goela abaixo antes de teremos tido tempo de sequer pensarmos por nós; ao nosso ser social e profissional; aos nossos muitos Eu’s que teimam em surgir e ressurgir consoante a necessidade e que acabam por nos sufocar por ouvirmos demasiadas vozes na nossa cabeça.
Assim entendemos que Deus não existe e que estamos nesta vida por nossa própria conta e risco, tudo se torna mais pesado. Tudo se torna mais fatalista. Tudo mete muito mais medo.
Chegamos à conclusão que o nosso amigo, para além de invisível é, também, imaginário e sentimo-nos desamparados. Se não está alguém lá no alto a guiar-me, então o que faço agora? O eterno conselheiro, o nosso pastor é uma invenção? Agora quem toma conta de mim? Ele tinha prometido…
E então procuramos um substituto. Alguém com a capacidade de nos guiar. Ajudar-nos a viver. Aguentar um pouco do nosso fardo. Um deus carnal e terreno. Idealmente, seria uma partilha. Nós aguentávamos o fardo desse nosso deus e ele o nosso. Porque os fardos dos outros pesam sempre menos que os nossos.
O álcool torna-nos destemidos. Tudo o que nos amedronta parece tão descabido, somos imortais e nenhum mal nos pode chegar. Somos Super-Homens que paramos balas com o peito e temos uma cognição real das coisas. Sem razão e morais à mistura, despimo-nos de preconceitos e traumas e voltamos ao que temos de mais puro: ao instinto. Ao “se me apetece fazê-lo, que me impede”? Que é a consciência senão o filtro que nos ataca depois de nos termos libertado dela.
Qualquer momento de êxtase, qualquer um que seja, um sucumbir a uma atracção forte, um estado ébrio, uma alegria desmedida terá como conclusão a ressaca. O atacar por parte da consciência que nos mostra que aquilo que fizemos/dissemos terá efeitos nefastos.
Mas a vida não são momentos sucedâneos? Momento a momento as horas e dias passam e uns serão, inevitavelmente bons e outros quantos, inevitavelmente maus.
Tantos momentos que deixei de aproveitar e que agora me perseguem como espectros no purgatório.
Gostava de voltar atrás e aproveitar esses doces momentos. Não o fiz na altura com medo de magoar e ser magoada. Agora tenho a mágoa e o ressentimento de não ter sido mulher suficiente e uma cobarde de primeira. Se o tivesse feito, teria a mágoa mas as boas recordações daqueles momentos que baixei a guarda e, simplesmente, me deixei ir….
A minha vida é um não acabar de “esteve para ser mas não foi”…
Isto não é sequer viver!

quinta-feira, abril 03, 2008

Erotizar e a chegada da Primavera

Palavra que tomo por empréstimo, assim como esta expressão, a um dos melhores escritores que conheço.
O verbo refere-se à marca que deixamos na vida das pessoas somente vivendo. Sendo nós próprios. Alguns terão uma maior capacidade de erotizar que outros. Os que são eróticos inatamente burilam a sua presença e a sua ausência nos que por eles sentem muito, muito, demais.
É um verbo muito bem escolhido porque remete a algo que é instintivo. Se se sente o erotismo, logo se segue a atracção. De qualquer tipo. Intelectual, física, emocional, verbal e sexual.
Releio mails antigos que partilhei com um amigo há muito tempo atrás. Havia uma erotização total entre os dois. Assim como as atracções eram a todos os níveis descritos a cima. Brincamos com isso durante uns tempos mas depois voltamos à vida real e descartamos essas sensações que persistem por motivos maiores.
Mas era divertido. Fazia-me sentir viva. Electrizada. Dopada com dopamina. Com sorrisos necessitando de limão. Tenho de aceitar que isso não volta a acontecer. Tenho porque sei que mesmo com os laços criados, esses podem se ir desgastando e isso já não tem remédio. Nós somos responsáveis pelos laços que criamos e eu debilitei o meu o ponto de não retorno.
Falo disto para fazer o paralelismo com a forma que me tenho sentido agora que começou a Primavera. Como qualquer bichinho, ando de antenas no ar e a sentir necessidade de polinizar flores.
Isto de termos pulsões é uma bosta. Não chega termos de lidar com o nosso ser biológico e psíquico, temos de levar com o lado animalesco, também?
Frosga-se!!!!

quarta-feira, abril 02, 2008

Now What?

Tenho andado abstraída num projecto que me tirou tempo, vontade e inspiração para escrever. Todas as minhas capacidades criativas, se é que tenho algumas sequer, estiveram dirigidas para este trabalho. E valeu a pena. Ai, se valeu a pena! Somente porque a alma para quem trabalhei nada tem de pequena.
Costumo ser polivalente e tenho a capacidade de segmentar as tarefas na cabeça de forma a fazê-las todas com perícia e rapidez. Desta vez foi diferente. Nem quando tentava descansar a minha cabeça parava à procura da perfeição.
Mas está concluído e o seu objectivo principal foi ao encontro do que esperava. Estou feliz e orgulhosa de mim própria. Afinal a minha percepção sobre as pessoas é mesmo certeira e não sabendo, de antemão, muitos gostos pessoais, consigo chegar lá juntando as peças do puzzle que os outros representam.
No entanto, foi uma semana solitária. Muitos planos saíram furados e muitas desilusões se acumularam. Contudo, trabalhei com mais afinco de modo a afastar a ansiedade que esses acontecimentos me poderiam provocar.
Agora está feito e o cansaço começa a pairar sobre mim. Assim como, voltar a dias sem objectivos concretos ou vontade de fazer alguma coisa de útil.
Não obstante, o maior pavor é como lidar com a ausência novamente…
De certa forma instalou-se uma tristeza em mim por ter acabado. Já fui presenteada com a reacção que esperava com desassossego. Encheu-me o coração e não existe dinheiro suficiente no mundo que pague a alegria que senti ao ver os seus sorrisos e os olhos lacrimantes...
É como sei gostar. Fazendo o outro feliz. Um segundo que seja é quanto me basta. A minha felicidade está intimamente ligada à das pessoas de quem gosto. Se estiverem felizes, também eu estou.
Muito bem. Palmas para mim. Objectivo cumprido…
E agora?