domingo, dezembro 30, 2007

Noite

Desculpa Noite… Tentei mas não consigo concretizar o teu pedido. Não está em mim viver de felicidade ou alegrias. Nem tão-pouco consigo espelhá-las aqui. São efémeras. Chuva de estrelas cadentes que momentaneamente iluminam a escuridão mas de beleza e duração ínfima.
Sei que, mesmo perante um conhecimento virtual, me queres bem. Assim como eu te desejo o mesmo. Contudo, não é o minuto 23.59 - 00.00 que faz passar o dia 31 de Dezembro para o dia 01 de Janeiro que irá modificar o que sinto, penso ou sei.
Este ano que passou deixou-me uma multiplicidade de sentimentos e experiências. Uma tentativa de adjectivá-lo seria absurda porque seria um raio de péssimo a maravilhoso. E, claro está, nada se transformará por passar para o ano 2008. É só mais um. O de 2007 começou mal, melhorou a meio e acabou pior do que começou. Começou com nada, ganhou muito e acabou com nada…
Melodrama! Não acabou com nada… Perdi esperanças, sonhos e amizades. No entanto, ganhei experiência, maturidade e, acima de tudo, novos amigos. Daqueles com que, quiçá, poderei partilhar “a espuma dos dias” de 2008.
Comecei uma pessoa e acabei outra. Melhor? Pior? Diferente.
Determinantemente estou-me nas tintas para resoluções de ano novo. Só mais uns quantos planos que saem furados… Fatalismos? Não! Já dizia a Doris Day: Que sera, sera… Na certeza, porém, de que somos nós que nos fazemos. Nas decisões que tomamos. Nas respostas que damos. Nos laços que criamos.
Esta sou eu. Mal ou bem. Um grão de areia no deserto de são feitas as existências.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

Forever young


Lets dance in style,lets dance for a while
Heaven can wait were only watching the skies
Hoping for the best but expecting the worst
Are you going to drop the bomb or not?

Let us die young or let us live forever
We dont have the power but we never say never
Sitting in a sandpit, life is a short trip
The musics for the sad men

Can you imagine when this race is won
Turn our golden faces into the sun
Praising our leaders were getting in tune
The musics played by the madmen

Forever young, I want to be forever young
Do you really want to live forever, forever and ever

Some are like water, some are like the heat
Some are a melody and some are the beat
Sooner or later they all will be gone
Why dont they stay young

Its so hard to get old without a cause
I dont want to perish like a fading horse
Youth is like diamonds in the sun
And dimonds are forever

So many adventures couldnt happen today
So many songs we forgot to play
So many dreams are swinging out of the blue
We let them come true

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Coincidências

As coisas que me dizem… “Quando te deres, dá-te por inteiro e de nenhum fruto queiras só metade…”
Não é que acertaram na “muche”!

Tremores

Acontece-me amiúde. Tremo incontrolavelmente. Chego a entornar uma qualquer bebida que seguro. Estremeço violentamente. Em pé, as pernas vacilam e manter-me equilibrada torna-se uma missão.
Inevitavelmente, ao subir as escadas carregada de compras, falharam-me as forças e fui com os joelhos ao chão. Psicossomático? Por me faltarem as forças internamente falha, também, a pujança física?
Tenho descansado. Julgo eu… Pesadelos à parte vou dormindo. Se é que verdadeiramente durmo. O cansaço, esse, subsiste. Assim como as dores que parecem piorar por vagas. Como a maré, aumentam e diminuem num ir e vir sem fim… Nem o medicamento lírico milagroso parece surtir efeito…
Sei que sou eu que estou a provocar isto tudo. “Stigmata” auto – induzido psicologicamente. Auto – flagelação merecida?
Tento, aos poucos, desfazer as mágoas que provoquei. Mas parece-me que fui tarde. Ensaio novos “Eu’s”. Novas maneiras de pensar. Arrisco, na corda bamba do que sou e do que me quero tornar.
Medo? Terror! As palavras saem da boca e o corpo demonstra querer. Milhares de mãos surgem do nada para me silenciar e prender. Cala-te! Pára! Vais sofrer!
E daí? Mais ainda? Professo aos outros que só nos devemos arrepender daquilo que não fizemos/dissemos. Hipocrisia no seu melhor.
Será por isso que tremo? Que me vacila a força? Quem não sabe quem é, também não saberá para onde vai…

terça-feira, dezembro 25, 2007

Arrependimento

Da pessoa que me tornei. Se morresse agora que vida me passaria diante dos olhos? Alegrias fúteis e desprovidas da eternidade. Tudo o que se gravou tresanda a dor e arrependimento. As decisões quando tomadas estão erradas ou por tardarem perdem o seu momento.
Tento mudar. Quebrar estas correntes que me prendem o pensamento. Ao demorar a fazê-lo os instantes perdem-se e as oportunidades passam-me ao lado.
Os episódios, aqueles de que são feitas as memórias, escasseiam. O medo de não criar uma boa memória, levou-me a não criá-las de todo. Porquê? Para quê? Já sei que vai correr mal! Vai doer. E, a mim, tudo ainda me dói.
Força anímica insuficiente para tentar renascer das cinzas… Medo do próprio medo. Terror do que aí vem… Apavorada de mim, daquilo que sou capaz…
Cobardia levada ao máximo. Da cobardia, arrependo-me.

Silêncio

Odeio-te mas, por vezes, preciso de ti. Apenas tu me dás algum descanso. Algum conforto.
Deixas-me estar aqui comigo. Pensar em voz alta o que, lá fora, viraria cabeças.
Cansas-me. No entanto, ao te quebrarem anseio voltar a encontrar-te.
Só tu me entendes. Não me respondes. Ecoas os meus pensamentos. A verdadeira ressonância. Com se dissesses: queres ajuda? Ouve-te a ti própria!
Magoas-me tanto! Fazes-me recordar a solidão que cria este vazio em mim. Este vazio que tento preencher de todas as formas que me são possíveis.
Corpo desabitado e moribundo. Alma leprosa que se desfaz a cada sorriso mentiroso e acenar de cabeça falso. A cada acordar sonâmbulo de pensamentos em que me perco.
Provocas-me sensações agridoces. Uma camisola de lã encharcada num qualquer dia de Inverno… Uma noite ébria seguida de um acordar ressacado…. Um amor mais ou menos correspondido… Um cinzento… Provocas-me um cinzento…
Ora fujo de ti, ora refugio-me em ti.
Ambiguidades do silêncio…

sábado, dezembro 22, 2007

Pessimismo

Acusam-me de ser derrotista. De enegrecer as coisas antes de conhecer o seu desfecho. Estão a ver como eu tenho razão? Que seria de mim se vivesse de optimismo? De ilusões? Se já assim, preparada de antemão, dói como dói, como aguentaria o desfazer sucessivo de sonhos?
Ontem não estava bem em mim. Repudiava a sensação de finito. Tinha entorpecido os sentidos prematuramente sabendo que um dia difícil se avizinhava. Por isso estava dormente. Por isso parecia tão alienada de tudo que me diziam e faziam. Por isso não chorei.
Deitei-me num pranto. Chorei noite fora. Precisava. Acumulava-se em mim havia já uns poucos de dias.
O pior não passou. Está para vir. Dias cheios de nada e vazio. A lacuna que ficará de não ouvir os bons dias, ver os sorrisos quando passava pelos gabinetes envidraçados, ouvir um BOM DIA alto e a bom som que me fazia estremecer e dizer: SSSHHHHH!!!... As “reuniões clandestinas” no armazém para fumar e discutir um ou outro boato que se tinha criado ao longo da semana. As gargalhadas espontâneas quando se discutia filosoficamente a flatulência alheia ou, incontornavelmente, conversas menos próprias para os ouvidos mais sensíveis.
O silêncio. O pior vai ser viver no silêncio. Este que se abateu pela minha casa e ao qual apenas escapava naquelas 8 horas que, por vezes, custavam a passar mas que agora me parecem dotadas de tanta vida e energia.
Disse e reitero: se soubermos o que lá vem, desviamo-nos a tempo…

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Suspiro

Movimento que denota ansiedade. Desde ontem que o faço insistentemente. Não porque anseie mas devido à dor lancinante que me corrompe o peito. Demonstrações de afecto são-me difíceis de digerir. Sou mais pessoa de dar do que receber. Lido mal com panegíricos. Parecem-me exacerbados e adulterados.
Jamais sou essa pessoa. Aquela que sai das bocas em forma de adjectivos laudatórios.
Rejeito esses elogios. Muito mais me defino pelas minhas faltas. Será que não vêem o mesmo que eu?
Onde vão buscar todos estes galanteios? Quando a esmola é demais, o santo desconfia… Acredito que não me mintam. Crêem mesmo no que dizem. Eu sei que não é verdade. Pois cada louvor é incapacitado pelo dobro dos defeitos.
Mesmo assim sendo, não sou pobre e mal agradecida.
Obrigada a todos por verem-me assim. Por olharem para o lado quando erro. Por perdoarem a minha humanidade. Por acharem que sou mais do que, na realidade sou.
Por vós, meus amigos, suspiro.

“Transforianos”

Não consigo deixar de sentir um nó no estômago pelo carinho e amizade que os meus companheiros, destes últimos sete meses, me demonstram.
Como qualquer outro lugar de labor, as relações pautam-se pela ambiguidade de ser colega/superior/patrão e, após horas de expediente, amigos.
Aqui, durante este período de amadurecimento pessoal e profissional, conheci pessoas especiais. À sua maneira, todos tocaram a minha existência.
O Ricky ensinou-me a ter um gosto sóbrio e a manusear um programa que “disfarça” a minha falta de jeito para o desenho. Igualmente aprendi com este malandro a ser mais ponderada nas palavras e nos comentários. A discrição, por vezes, impõe-se. Dotado de um talento inesgotável, uma sensibilidade fora do comum e uma simpatia inata, conquista-nos imediatamente.
A minha “soul sister” ajudou-me a crescer. A aprender a relaxar. Não levar tudo à letra e a sério. O limão não tem de ser mordido. Tornou-se parte indispensável de mim e a minha confidente “in extremis”.
O meu “anjo” mostrou-me o que é gostar incondicionalmente, a força que isso nos dá e como nos move.
O “Karateca” ensinou-me o valor do trabalho e a capacidade de nos dar por inteiro às nossas ambições e desejos. A descompressão por uma hora com brincadeiras e “piadolas” surpreendentes que nos levam a engasgar-nos com a comida. Despropositado!
O “Puto de 20 anos” levou a minha admiração. Inteligente, rápido e sempre pronto a aprender vai ser, um dia, patrão. Encostem-se e apreciem. O “Puto” vai longe!
Boet! Foi imediato! És sul-africana? Eu também! Click! A terra faz-nos conterrâneos, mas o gostar, mesmo gostar, faz de nós irmãos.
Yoda… Aquele que invejo. A capacidade de escrever como ninguém. Culto muito para além dos anos que viveu e uma pessoa que deixa um cunho impossível de “varrer” da nossa vida. Nasceu para ser Mestre. Para se misturar com os demais ensinando. Diplomático e sábio, diz o que é necessário com um “timming” impecável. Mestre, pessoas como ele são escassas e fazem, tanta mas tanta falta!
Momento agridoce este. Sorriso por me sentir “querida” e dor por me sentir “a mais”.
Ter de cortar na gordura… Compreendo. Mas saberá o supra-sumo que a gordura é necessária aos organismos?
Orgulho e honra! De ter sido TRANSFORIANA!

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Fantasiar

Contigo. Comigo. Corpos entrelaçados. O auge não devia ser apelidado de vir mas de ir! Ir até às estrelas… Ir até onde raramente vou… Ir sem vontade de voltar…Vir só se for contigo. Os dois em uníssono. Vem comigo. Deixa-me levar-te onde, há muito, anseias ir.
Guiar-te-ei pelas curvas do meu corpo revelando os segredos que ele esconde. Labirinto perverso. Não procures o caminho mais fácil. Explora. Não receies. Procura. Memoriza. Assim, quando lá voltares, já não te perdes.
Tacteando, procurarei fazer o mesmo. Na escuridão, ouvindo a tua respiração, as pontas dos dedos serão os meus olhos. A língua absorver-te-á numa degustação sôfrega e nenhum sabor ficará por gozar.
Também me queres provar… Que te impede? Passeias os lábios pelo enredo que conheces melhor agora. Não te acanhes. Não pares para olhar para mim. Ouve. Escuta. Sente…
Completar-me? Gentilmente. Foram poucos os que o fizeram. A minha mais preciosa dadiva. Dou-ta porque quero! Nada mais me impele! Quero honrar-te com aquilo que tão poucos conheceram. O segredo mais bem guardado. A MINHA caixa de Pandora.
Nada temas! As lágrimas são de alegria e êxtase. Que fossem todas assim!
Sobeja-me, somente, fantasiar…

quarta-feira, dezembro 19, 2007

Burilar

Dizes que burilo as palavras e as frases quando escrevo. Que importância tem? Gravar por gravar que seja a nossa existência na de outrem. O que escrevo de eterno nada tem. Basta ler a amálgama de textos que vou “vomitando” para perceber a desconexão de assuntos e estados de alma.
Agora o cunho que deixamos na vida de quem queremos, esse sim eternizar-se-á na memória.
Aquele perfume… Aquele olhar… Aquele gesto… A pequena contorção do canto da boca num esgar malandro… O brilho de desejo nos olhos… Estes estão burilados na minha lembrança. A ferro e fogo cravaste-te no meu pensamento.
Que saudades! Do teu calor, do teu abraço, das tuas carícias… A forma como desenhavas o contorno dos meus lábios com a tua língua. Como estremeci a primeira vez que me tocaste no ventre. O arrepio de exaltação ao sentir o teu toque no fundo das minhas costas. Quando me beijavas os olhos que fechavam por anteciparem prazer. Quando murmuravas pequenos nadas que significaram tanto, tanto…
Anseio voltar a experimentar esse delírio. Envergar diariamente um sorriso palerma e despropositado que teimava em manter-se nas minhas feições como se duma máscara carnavalesca se tratasse… Se não contigo, se não agora, esperarei. Sou tua. Ainda. E, enquanto assim for, não trairei a minha vontade. Quiçá, num futuro próximo, terei a capacidade de fornecer a mim própria uma “tábua rasa” e deixar que alguém burile a sua existência, os seus gestos, a sua sensualidade e o seu corpo na minha mente.
Até lá, contentar-me-ei com momentos que existem, apenas e só, no acto de recordar.

Lamento

Palavra que ouvi incessantemente ontem. Não sabem o que fazem; são tolos, parvos, estúpidos, ignorantes… Pois, pois… Sei que nada resta a dizer e que, nesta situação, neste luto, não existe léxico apropriado. Resignação. Total.
Também eu lamento. Igualmente, faltam-me os vocábulos para definir a dor e mágoa que experimento. Não quero verbalizar os pensamentos que me massacram.
E se o meu melhor não for o suficiente? Possivelmente, não me enquadro nos parâmetros daquilo que se espera da minha função… Será que têm razão quando me apelidam de inútil e reiteram que não tenho talento/inteligência/vontade para nada?
Tendo ou não razão, é como me sinto de momento. Falhada e disfuncional.
Para onde quer que me vire falhei. Seja na minha vida pessoal, social e profissional espera-me sempre a mesma sina: o abandono.
Nalgumas situações o boicote advém da minha estupidez inata; Noutras, sobrevém da minha ineficácia natural.
Duma forma ou de outra, o sucesso é parco e distancia-se cada vez mais.
Não se chora sobre leite derramado… Eu choro! E tento salvar algum de forma a ser ainda próprio para consumo. Devia ter tido mais cuidado para não derrubar a garrafa! Desastrada! Não tenho atenção às coisas…
Por ser aquilo que sou, por não conseguir ser melhor, pelos erros que cometo repetidamente, por sentir pena de mim própria, por me odiar e desprezar…
Lamento….

terça-feira, dezembro 18, 2007

Encontros e Desencontros

Respirei fundo e comecei a lê-la. Como já desconfiava, de ficcional só os nomes.
Sinto-me uma voyeur…
Embora já tenham passado séculos, ainda a conheço intimamente e a existência dela está descrita ao pormenor nas folhas do livro…
A necessidade de um desabafo… Ter alguém que a ouça e sinta a mágoa dela. Compreendo-a… Nunca ninguém a tentou entender por inteiro… Eu consegui. Duma forma doentia e ingénua mas captei a sua essência. Talvez por isso tenha tido dificuldade em cortar os laços que tínhamos criado. Talvez por isso me tenha deixado essa responsabilidade.
Mas isso já não interessa. É de somenos importância a vivência passada. Aconteceu. Deixou as marcas e as lições que eram necessárias e passou…
Então porque não consigo esquecer? Porque me dói ainda?
Introspectivamente conclui que não olvidava os episódios dolorosos da minha, ainda, curta vida pois achava que assim não repetiria os mesmos erros…
Possivelmente não gosto de pontas soltas. Ou, então, não quero que fiquem a não gostar de mim. Ninguém sabe mas preocupo-me muito com a opinião que os outros têm de mim. Sempre. Mau hábito este de me definir pelos olhos dos outros… Esperar elogios para me sentir melhor comigo própria. Mesmo que não acredite, por um momento que seja, que se trate da verdade…
Se fosse, não desistiam de mim com tanta facilidade. Acho eu…
Mas, também, que sei eu desta coisa chamada sentimentos? Sei senti-los. Nada mais.
Os sentimentos não têm razão…

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Cachopa

Pára de me chamar isso! Dou a mão à palmatória que me comportei como uma. Mas cachopa e miúda são dois adjectivos que têm uma má conotação e carga depreciativa para mim. Não tens de adivinhar, por isso to digo. Histórias de outros tempos. Termos carinhosos… Não os queres usar, tudo bem. Então chama-me pelo meu nome de baptismo.
Toda a vida fui infantilizada por ser ingénua.
Estou a refrear-me. Muito. Os minutos teimam em não passar. A Luz está longe. O labor está fraco. E os sonhos e desejos são muitos.
Tento dar-te o que acho que queres mas não sem prejuízo meu. Sei que me lerás. Aqui. Neste fórum da minha vã existência. Mas até isso planeio destruir.
Poderás pensar que houve distanciamento e que, finalmente, deixei de sentir intensamente. Não sabes que na Natureza nada se ganha, nada se perde, tudo se transforma?
Tão simplesmente mudei o meu objecto de obsessão.
Agora, doentiamente, penso em mim. Na cachopa. Não como quererias que o fizesse mas da única forma que sei.
Auto-flagelo-me. Castigo-me. Puno-me. Abraço todos os momentos ébrios onde sinto, por instantes, uma ilusória liberdade de mim própria. Nada me choca, as palavras não doem e todas as consequências têm absolvição.
Magoem-me! Mil vezes, magoem-me! Destruam-me! Despedacem-me! Destruam-me…
Desde que não seja eu a fazê-lo a mim própria, viverei com isso.
Melodrama de uma cachopa…

A Morte e o Sexo

"A vida dá-nos indicações sob várias formas de que a morte não deveria assustar-nos, pelo contrário, que é agradável. O sono é-nos dado como um protótipo da morte, e lutamos por ele todas as noites, que nos dá o maior esquecimento da vida. Não tememos o esquecimento; desejamo-lo porque nos dá paz. O sexo também nos sugere como será agradável a morte, mas não prestamos atenção. Se pudéssemos morrer duas vezes, então talvez não receássemos a segunda vez. Tal como uma virgem receia a dor causada pela introdução do pénis, mas sente prazer da segunda vez e fica cheia de vontade de sexo e ansiosa por isso, não prestando atenção à insignificância da dor comparada com o prazer que recebe. Por isso só temos uma morte, para que ao percebermos o seu encanto da primeira vez, não nos sentíssemos mais poderosamente atraídos por ela do que pela vida. Deus não seria capaz de nos manter vivos, como não foi capaz de nos manter na inocência, e estaríamos continuamente a lutar por nos sucidarmos. O sexo é-nos dado como uma substituição para a morte múltipla. Depois de nos restabelecermos de uma morte doce, ficamos cheios de vontade de a experimentar outra vez. "

Alexander Puschkine, in 'Diário Secreto'

Sistema binário

0,1,0,1,1,0,0,0,1,0… E por aí fora. É a base da programação de qualquer sistema operativo. Com uma infindável conjugação de zeros e uns, faz-se uma inteligência artificial.
Preto e Branco! Sim e Não! Imperativo Categórico e Imperativo Hipotético! Somente isso… Sem triangulações… Sem Asnas… E no entanto, suporta muito “peso”… Toneladas de informações e acções…Basta carregar numa tecla…
Era bom que fossemos assim. Dirias: “que seca!” Nada disso! Não saberíamos a diferença. Não sabemos o que é bom se não tivermos provado o mau, certo?
Falamos de amor e da Fénix que renasce das cinzas… Digo: Mitos… Respondes: Nada mais existe… Certíssimo! Ainda agora falávamos do maior mito de todos: o Amor.
No que me concerne, os sentimentos são lendas. Houve a necessidade de dar nome à nossa “ressonância emocional.” Comportamento gera comportamento. “Emotional Feedback…”
Quem somos nós para nomear algo que não tem nome? Generalizar algo que é tão pessoal e íntimo? Tentar compreender o incompreensível?
Não existe a Verdade Absoluta e, tão pouco, existem “sentimentos nobres”. Dissecados, não são mais que variações das pulsões inatas que desejamos, apaixonadamente, ter mais valor.
Voltaire disse: “Se Deus não existisse, tinha de ser inventado.” O actor Robin Williams supera-o: “Deus é o amigo imaginário do Homem.” Ora…
Se fossemos sistemas binários não tínhamos esta necessidade de nomear, analisar, dissecar…
Afinal de contas, bem vistas as coisas, até somos simples:
Vivo – 1; Morto – 0;

domingo, dezembro 16, 2007

Πάθος

Pathos: Paixão, excesso, catástrofe, passagem, passividade, sofrimento, assujeitamento. Não é um espectáculo como me serve o chapéu? Repara como as palavras estão alinhadas… Uma paixão que leva ao excesso. Dá-se a catástrofe. Passa-se à passividade (onde me encontro) e sofrimento e depois assujeita-se… Ou não…
Vês porque me identifico com a Pathos? E com o Cacofonix? Seja a cantar como ele, ou a ser eu própria, as pessoas afastam-se…
Decidi ignorar-te… sóbria! Que criancice. Tu ignoras-me e eu ignoro-te. Que estupidez tal! Eu não decidi ignorar-te. Simplesmente vou começar a afastar-te da minha vida e suprimir os sentimentos até que nada restará senão o adeus. Sim suprimir. Fazê-los desaparecer não resulta. Já aprendi. Pelo menos comigo. Contigo não sei nem espéculo.
Tu foste uma Fénix… Renasceste das cinzas e começaste tudo de novo. Orgulhas-te disso e com toda a razão. Acto corajoso o de voltar ao mundo. Eu não sou assim. Actos heróicos não são comigo.
Mas, pelo menos demonstrei-te, da pior forma que, destruo mesmo relações. Vês? Não exagerava ou mentia. Faço-o mesmo. Com uma crueldade e frieza que me é inata e que depois me vai destruindo.
Não me chames “P. M.”. Seja para ti, ou qualquer outro colega, o que vou revelar ser, que é o que já te vais apercebendo, é uma bela de uma desilusão. Uma pessoa desinteressante que desiste e que não quer ser ajudada. Sou um caso perdido.
Πάθος...

A saber…

O que mais me custa é a mágoa que inflijo a mim própria… A saber? Deves estar a gozar? Não sabes? Não sentes? Não te magoei? Consequentemente, não me magoei? Não deitei tudo a perder? Comigo, contigo, connosco? Não foste só tu vítima da minha auto destruição. Começo a afastar as pessoas que não quero magoar, magoando-as… Faz sentido, não é? Reconheço o padrão de atitudes de outros tempos.
Movimentos centrípetos e centrífugos… Já não era a primeira vez que me apelidavas de centrípeta… Mas é exactamente isso que sou… Numa espiral vou rodando cada vez mais rápido para o seu centro que é onde quero estar. Onde acaba!
Engraçado que me disseste isso na minha segunda visita...
Seja herança química, problema hormonal, distúrbio de personalidade ou, tão simplesmente, assim mesmo, não me poderão curar nunca.
Não esqueço nada! Pagas-me para não esquecer! Extraordinário… Senti a faca a entrar e sorri. Tentas orientar a conversa para uma relação importante da minha vida que se deteriorou e que queres consertar… Pensas que, talvez, assim consigas ir ajudando. Não compreendes que só consegues odiar quem amas. Os outros são indiferentes.
Atirar da janela… Dizias pensativo… Quase ouvi na tua cabeça a associação comigo. Mas mudei de “modus operandi”, Já não será assim.
Ainda não cheguei lá. Ao ponto de felicidade extrema de me ter decidido. Do alívio de, vou fazê-lo. É uma sensação óptima. Carregada de adrenalina pelo medo e alegria porque nunca mais… NUNCA MAIS!!! Mas estou em preparação. Já afastei uns quantos. A principal, essa nem desconfia, o que encaixa no meu plano maravilhosamente.
Aquilo que te fiz levo comigo. Destruí algo bonito e divertido que me manteve viva umas semanas. Nestas coisas de relações humanas existem factores incontornáveis. Entraste na minha vida com um objectivo. Esse mudou. Passaste a ter dois objectivos. Até que me estava a agradar. Mas os dois objectivos colidiam. Agora queres voltar ao objectivo inicial e não consigo. Destruí o segundo e agora não te consigo ver no primeiro.
Os sentimentos não alteraram. Não te vejo como alguém a quem pago. Vejo-te como objecto do meu desejo.
Incontornável é que, depois do mal feito, já não se volta ao mesmo porque as cicatrizes ficaram. E tudo menos do que aquilo que era, não me interessa.
E tu? Concordas?
A saber…

Asna


Sabes o que é?
Pensando que te referias a mim, a resposta óbvia foi: o feminino de asno?
Sorris com malícia e dizes: Não! Um triangulo! Uma simples forma geométrica que muitas sociedades secretas consideravam ser uma forma nobre. Para os católicos representa a Santíssima Trindade.
Triangular os pensamentos. Sabes o que me pedes? Pensar? Mais ainda? Não quero! Não consigo! Estou cansada!
Mas, invariavelmente, lá fui matutando no conselho…
E… Triangulei…
Ficarias admirado com o meu negrume. Triangulei a minha morte. Descobri novas soluções para morrer sem levar o amor da minha vida comigo. Como se um relâmpago me tivesse atingindo: EUREKA!!!! Como não tinha pensado nisto antes??? Brilhante!
Não vejo, nunca vi, o meu suicídio como um mal que quero fazer aos outros. Quanto muito, um alívio para todos, isso sim. A ideia de que não tenha nascido para viver já me segue há muito. A decisão de se quero ou não viver, não se prende com as pessoas que me rodeiam. Não o faço por ti, por ele, por ela ou pelo outro. Mas por mim.
Sou suficientemente insignificante para que o meu desaparecimento não toque muitas existências. Algumas pessoas, simplesmente, não foram feitas para viver.
A pessoa que mais amo será quem mais sofrerá e, por isso, tenho me aguentado. Mas arranjei uma forma de ninguém sentir que falhou. Lidarão apenas com luto e não culpa.
A minha alma gémea, o Fernando, perder-se-á durante uns tempos mas reencontrar-se-á da melhor maneira.
De resto, umas lágrimas, poucas, uns comentários e depois memórias que se dissiparão.
Estou a ver o mar. Estão 2º. Nem sinto o frio. Já anoiteceu e escrevo com uma luz ténue que resta do por do sol.
Mal vejo o que faço. Paralelismo do que tem sido a minha vida ultimamente. Nem vejo e, tão pouco me importo, com as consequências do que faço. Nada tenho a perder!
Já desisti há muito. Não tem a ver contigo, com serotonina baixa, carga genética, a minha família, os meus amigos, os meus desgostos. Muitos têm pior e ganham mais vontade de viver. Eu sou cobarde e fraca e não quero mais. A escolha é íntima e a mais privada possível.
Olho para a lua em quarto minguante… Olho para o mar… Olho para as réstias de luz que pairam sobre a água. Sinto a areia a escorrer-me entre os dedos… Saudades?
Os mortos não sentem falta.
Provavelmente vão pensar que fui uma asna, mas eu sei que não!

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Perfume

Partidas engraçadas que o nosso cérebro nos prega… Estava aqui sentada a “arrumar” a minha cabeça e, inevitavelmente, pensei em ti. Não é que tive a sensação de cheirar o teu perfume? Fisicamente impossível…
O olfacto é um dos sentidos que mais prezo. Daí achar o Süskind um génio. Pessoas, lugares e vivências são-me insinuadas pelas mais variadas fragrâncias… Terra molhada depois de uma chuva ligeira: África; Relva acabada de cortar: o meu pai na minha infância; Madeira a ser cortada na serrilharia da empresa: Sr. Portela; Pão quente: o meu avô; Um bolo a cozer no forno: a minha mãe; Livro antigo: Paris; Uma sala cheia de fumo de cigarro: faculdade; Livro novo em folha: Tantas, mas tantas, histórias…
Um sem fim de aromas que me transportam para fora de mim… Experiência extra-corpórea. Um pequeno, mas só meu, Nirvana. Um instante que me “despego” da minha existência terrena e a alma viaja…
Depois existem aqueles cheiros sem definição que inatamente reconhecemos. O cheiro da casa dos meus pais que me transporta para 9 anos de vida e experiências, memórias, lembranças… A casa da minha avó paterna na aldeia onde cresceu o meu pai tem um aroma que me leva às férias de Verão em miúda. Aprendi a cavar, semear, colher, conviver e amar a bicharada, a ver as horas pelo posicionamento do sol, o que semear de acordo com as luas, a sujar-me, a cair… Coisas de criança. Aprendi o que são urtigas da pior maneira… Descobri que as silvas não são nossas amigas quando me espetei dentro delas com a bicicleta. O conforto que é termos um WC dentro de casa… Como usar um penico a meio da noite… A usar o tanque de lavar a roupa como piscina improvisada… Comer amoras, figos (não comer quando estão quentes do sol!!!), não beber leite directamente da vaca por variados motivos, chupar o caule das flores amarelas que crescem um pouco por todo o lado e que sabem a vinagre…
Pois é, um sentido relegado para segundo plano quando tem tanto para nos oferecer…

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Asfixia


Procuro livrar-me de todo o entulho que me cobre. Ouço a confusão que se instalou pelos passos acelerados sobre as tábuas velhas e carcomidas pela idade e maresia. Gritos! Sempre os gritos! Água pela cintura. Os animais da noite debatem-se numa luta ancestral para não ser engolidos pelo líquido mortífero…
Subo as escadas de quatro. A roupa pesa-me sobre o corpo encharcada que está. Desequilibro-me mas agarro-me aos degraus com a pouca força que me resta e elevo-me até às portas. Empurro! Grito! Espeto os dedos pelas aberturas criadas pela torção da madeira na ânsia que alguém os veja e me tire da minha reclusão.
O barco empina de repente, caio no vazio, no negrume e, com um estrondo, bato com as costas no rebordo interior da proa. Ondas de dor injectam-se pelo meu corpo e tudo escurece.
Acordo num sufoco. Tusso. Tento expelir o líquido que afoga os meus pulmões. Tusso… Tusso. Tusso! Água pelo pescoço. Tento debater-me mas o meu corpo não reage. Corpo? Cadáver! Já não existe. Invólucro vazio. Duas prisões! Fado sádico que me desperta para a morte!
Já a bicheza bóia. Companheiros de viagem cujos olhos via na escuridão. Animais nocturnos que me acompanhavam no silêncio…
Sobe… Tapa-me a boca… Inspiro. Sinto a água gelada a entrar-me pelo nariz…
Não importa. Ninguém me penará. Não farei falta a quem nunca me conheceu.
Fecho os olhos. Espero pelo abraço quente do meu eterno amante. Ceifador vem… Tardaste…
Gentilmente agora… Vamos os dois… Leva-me deste sítio… Liberta-me do porão.
Finalmente, contigo, descansarei em paz…

Lágrimas de crocodilo


Perverso animal. Lacrimejam os seus olhos quando sente o último fôlego da sua vítima…
Pacientemente espera que um ser indefeso e incauto se abeire da margem para saciar a sua sede e, posteriormente, numa emboscada rápida e calculada ataca. Mata silenciosamente arrastando a presa para dentro de água sabendo que, por mais que se debata, acabará por sucumbir… Sapiência dos séculos…
Ulteriormente, com sofreguidão, engole de um trago. Dizem os entendidos da matéria que ao não mastigar, abre a mandíbula com tal vontade que a glândula lacrimal é comprimida e, logo, brotam lágrimas…
Dinossauro da nossa era, sobreviveu à catástrofe que extinguiu todos os seus contemporâneos. Milhares de anos e continua num pranto…
Visão romântica das existências… Chora porque mata. Mata por sobrevivência. Sobrevive mas está só porque já não pertence a este mundo… Mata porque está desamparado.
A pulsão de ceifar vidas é mais forte do que ele… Fá-lo! Porque tem de ser! Porque não lhe deixaram alternativa!
Chora pérfida besta … Um dia, logo, logo, os teus dias de assassino chegarão ao seu fim. Viveste uma vida a semear miséria mas espera-te um desfecho glorioso!

Esquizofrenia II


Incrível! Tomo uma decisão e escassas horas depois eu própria a contrario… Estúpida, Estúpida, Estúpida… Repugnante… Ser vil… Mas que merda é esta? Andamos a brincar? Passa-se e depois liga-me? Maldita hora que a conheci… Pensas tu, com a razão do teu lado… Arrependi-me logo pela manhã do que tinha escrito e, especialmente, da forma como tinha escrito. A questão prende-se com a ambiguidade de sentimentos. A luta interna entre o que quero e o que sei estar certo. Afastei-me. Eu sei. Não por mim mas por ti. E pensas tu que a decisão é tua… Talvez… Mas assusta-me o teres pena de mim e receio da minha reacção ao me afastares. Sentimentos que já me prenderam a pessoas e que repudio.
Se, algum dia, fizer o indizível não será por ti, pelo Zé, pelo Artur, pela Tereza, pela Patrícia, pela Diana, pela Sónia, pelo Diogo, pela Catarina, pela Tânia, pelo Marco, pelo Sandro…
Estes, alguns dos que me magoaram, dos que não me compreenderam, apenas me ajudaram a ver que não pertenço. Nunca pertencerei. Não nesta sociedade, neste país, neste continente, neste mundo. A decisão é minha de querer continuar a sentir-me quebrada cada vez que destruo relações ou de acabar com isto duma vez por todas. A escolha é MINHA!!!
O anjo que me prende. A que tem o meu amor por completo. O ser divino que me trouxe ao mundo e que, com todas as suas forças, me mantém cá compreenderá. Assim que a vida lhe trouxer a alegria que tanto espera, sei que se prenderá à vida, novamente, desta feita não por mim. Aí terei a minha oportunidade….
Perdoa-me se te magoei. Não o faço em consciência mas por raiva de mim. Como me disseste uma vez noutro contexto, espelho as minhas “deficiências” nos outros. Desta vez, quem me estava mais próximo eras tu.
Reitero que és perfeito e que as falhas são minhas. Não tenho de esperar dos outros o que dou. A escolha é deles. Compreendo isso mas não consigo aceitar. Por isso me tinha habituado a não dar para depois não ter de esperar. Apanhaste-me desprevenida. Apaixonei-me. Foi tudo ao ar. Paredes, entulho, pó… Ruiu… Agora há que começar a construir, quanto antes, para garantir a sobrevivência sozinha….

Adieu


Rasga-se-me o peito. Noite interminável minada de espectros e assombrações de vidas passadas.
Como posso sentir que perdi algo que nunca possuí? As costas arqueiam com o cansaço das decisões que me obrigo a tomar por ser aquilo que sou. O peito aperta e o coração salta batidas. Dói muito. Custa respirar e turva-se a visão. Concentração nenhuma…
Sou dele. Mesmo não querendo essa responsabilidade, conquistou-me. Durante algum tempo, quanto não sei, continuarei a ser dele. Enquanto me povoar os pensamentos, sonhos e devaneios diurnos não serei de mais ninguém. Isto da conquista não morre de um dia para o outro.
Tem razão quando diz que nunca sairemos da vida um do outro porque deixamos a nossa marca…
A dor do fim de algo que nunca foi….
Foi bom. Fui feliz. Mesmo na ilusão, fui realmente feliz durante algum tempo. Podia ter sido muito maior, muito mais significativo, uma partilha total.
Mas não foi. Ficou aquém daquilo que preciso e ensejo. Esta minha necessidade é absurdamente grande e, provavelmente, inatingível. Eu sei. Um dia resignar-me-ei. Mas hoje não! Impõe-se que seja feliz. Um pouco… Só uma migalha…
Amo-te. Sempre amarei.
Adieu

terça-feira, dezembro 11, 2007

Cigarro


Hábito de outra vida este de fumar um cigarro depois do prazer. Passar de um vício oral par outro. Fixação oral? Sem dúvida. Nada melhor que sabores para nos transportarem para outras dimensões. O olfacto e o paladar são, por excelência, os sentidos do sexo. Da côrte, da sedução, do “flirt”. Aquele perfume que nos tira do sério. O sabor da boca e corpo do outro. Só de pensar salivo como um cão pavloviano. Comparação feia… Mas verdadeira… Feromonas libertadas que nos entram nas narinas que absorvemos de uma só vez… Resposta química imediata. O cérebro processa e enceta as glândulas salivares. As pupilas gustativas incham com a expectativa do sabor bom que aí vem…
Desejo de comer… Consumir… Degustar… Saborear… Provar…
Hum!!!! Prazer…
Como quando levo o cigarro aos lábios e chupo. Travo e por momentos tenho-o dentro de mim. Para depois o expelir novamente. Nunca ficará comigo... Mas sei que, naquele instante, foi meu… Mau hábito... Prejudicial para a saúde... Mas dá tanto, tanto, prazer....

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Fogo-fátuo


Começo, lentamente, a entender-te melhor.
Leio-te e estás espelhado nas personagens que retratas. Ficção? Não existe.
Inveja. Muita. De não conseguires sentir como nós mulheres sentimos.
Compreendes, sentes empatia, desejavas sentir assim, mas não consegues.
A plenitude com que nos damos, incondicionalmente e sem reservas, só transpões para o nível físico, característica masculina por excelência.
Por isso escreves o que nós sentimos. O que a nós nos dói.
Nunca serás meu, pois não? Nunca foste de ninguém… Não sabes o que é isto de amar incondicionalmente.
Não te deixaram. Roubaram-te essa capacidade quando ela florescia…
Um paradoxo! Completo. Sentas-te a analisa os outros, a guiá-los por caminhos que tu nunca tiveste a coragem de seguir.
“Não conheço o suficiente de ti para te amar”… O que falta conhecer se já me viste chorar?
O meu passado? O meu presente? Os meus sonhos? Esses nunca conhecerás. O que sou agora, já sabes. Nunca to escondi.
“Quando gostamos realmente de alguém, compreendemos, perdoámos e aceitamos como são….” Bonita retórica. Pena não ser verdade.
Não! Não quando gostamos mais! Quando sofremos mais! Quando vivemos mais!
Pérolas a porcos… Disseste uma vez num contexto só teu… Se sabes o que é estar do lado de quem Ama e não é Amado, compreendes que aceitar menos que Tudo é doloroso.
Também, da maneira que começou, acabará.
Uma Fénix que renasceu das chamas. Pena que tenha sido de um Fogo-fátuo.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Inconsciência


Dizia o Freud que o inconsciente era um “lugar psíquico” especial. Estudando, primordialmente os sonhos para basear esta sua tese, chegou à conclusão que não existe noção temporal e que os conteúdos podem ter sido, em tempos, conscientes ou podem ser genuinamente inconscientes.
Certo… Com algum esforço e prática até conseguimos deslindar alguns dos “conteúdos” dos nossos devaneios nocturnos…
E quando agimos conscientemente de forma inconsciente? Frase paradoxal? Contradição? De todo!
Dizem da inconsciência ser característica da juventude… Pois eu reitero que não! Estereótipos dão azo a xenofobia e intolerância. Cada caso é um caso, cada ser é um ser, cada vivência é uma vivência e, sobrepondo-se a isso, cada momento é um momento numa qualquer existência.
Perdoam-se, continuadamente, actos inconscientes conscientes por serem praticados em circunstâncias determinantes. Os instantes que tecem as memórias… O perder do auto-controlo, da Razão, dos pudores, dos complexos, da cabeça…
A fúria… Sentimento que me leva a ultrapassar o limite do racional. De resto, sou hiper controlada. Deixo-me levar escassas vezes pelas “vontades” e os “quereres”. E quando acontece, são fragmentos de tempo e prontamente me “situo”. Como um autómato, começo a fazer “damage control”. Mentalmente equaciono os prós e contras do acto em progressão, comparo à previsão já efectuada antecipadamente e, a partir dum gráfico mental, tiro as minhas conclusões. Imediatamente começo a engrenar soluções e ponho-as em prática.
Tenho 27 anos. Dizem que ainda sou jovem… Se sim, aqui fica um de muitos testemunhos que a juventude não se caracteriza pela inconsciência.

terça-feira, dezembro 04, 2007

Pérolas a Porcos

Falar com paredes… Tentar racionalizar com seres que tirariam do sério até o Padre António Vieira que pôs Santo António a pregar a peixes que, dizem, têm uns meros 3 segundos de memória. Meros? Uma eternidade! Quem me dera essa vastidão de tempo me fosse concedida pelos seres acéfalos que me rodeiam diariamente.
Os que sobejam, os que pensam, deixam-se levar pelo “laisser faire – laisser passer”, digno duma qualquer anarquia (vulgo República das Bananas), e habituam-se a viver neste sítio amorfo, ermo e desprovido de qualquer forma de pensamento.
Tu, que lutaste pela liberdade, diz-me o que é viver numa época em que as ideologias vingavam e havia vontade de mudança. Lutaste para quê? E para quem? Que liberdade é essa que tanto te custou a conquistar que agora parece de somenos importância?
Inveja! De teres vivido num período que a coragem e o não-conformismo imperavam e que se compreendia que as palavras perderiam significado e só restava agir.
Hoje, rodeados de informação numa “aldeia global”, vivemos na maior ignorância e com um extremo desprezo pelo “fazer acontecer”. Se o mundo fosse pautado por este pensamento desde o princípio dos tempos, ainda vivíamos de tanga e a matar animais com uma moca…
Um encolher de ombros… É assim. Sempre foi…
E daí? Não tem de ser!
Baixa-se os braços e vira-se as costas à progressão? E se os Capitães de Abril o tivessem feito? Afinal de contas, por esta ordem de ideias, a ditadura já durava há décadas, custava muito mudar!
E aqueles que têm capacidade, os poucos que mantenho mais perto de mim, ganharam a minha admiração mas vão-na perdendo por serem derrotistas e deixarem-se levar pela mediocridade.
Enfim, pérolas a porcos…

Tesão

Não tenho???
Então que sensação é esta quando te fantasio. Quando nos fantasio… Quando nos imagino num abraço perene. Desnudados e frágeis, damo-nos sem reservas nem pudores… O teu corpo é meu e o meu é teu. O encaixe perfeito. O teu prazer estremece-me e incentiva-me a continuar. Sempre! Numa gradação cada vez maior, o aquecer das nossas peles que roçam com fulgor.
Então que sensação é esta que me desconcerta e me leva a sonhar acordada? Humedecer os lábios preparando-me para os teus beijos mesmo na tua ausência… O corpo prepara-se para te receber tal é a força com que te quero… O eriçar da pele expectante do toque dos teus dedos. Só de imaginar vibro…
Então que sensação “incómoda” é esta que me segue quando te visiono a completar-me? A preencheres o espaço que é teu, só teu! Mereceste-o! Dá-me! Dá-me aquilo que é teu e só aos deuses pertence. O último suspiro de prazer dentro de mim…
Cá para mim, esta sensação é mesmo tesão…

A Partilha


Foi fácil dar-me. Não te via, ouvia ou sentia. Deixei que a fantasia tomasse conta dos meus dedos e dei-me por inteiro. Não custou nada. Não doeu. Não me senti envergonhada dos meus defeitos nem me escondi da minha vontade.
Tu és lindo. Todo. O ser perfeito. Aquele que não se limita a olhar mas que, verdadeiramente, vê!
Só tu… Mais ninguém… Me vê por aquilo que sou e, bem ou mal, me aceita incondicionalmente. Mesmo que te doa, ensinas-me. A ser melhor, a crescer, a viver! Sem medos e sem rodeios impeles-me para a frente. Devagar e com cuidado vais-me empurrando e vou abrindo portas que há muito tinha trancado.
Esta casa fantasma que criei aos poucos ganha vida. Já não é habitada só por espectros. Agora partilham o seu espaço com vidas fervilhantes e de sangue quente.
A sobre lotação do espaço leva-me a querer que, talvez um dia, tenha de libertar os espíritos deste limbo em que os mantenho. O eterno purgatório que os prende.
Vais-me ajudar? Vais ensinar-me a liberar-me das assombrações? Vais fazer de mim uma pessoa? Pararei de deitar tudo a perder? Parará de me doer e consumir?
Não. Isso não. Já mo disseste. A dor veio para ficar e fará sempre parte de mim. Aguenta!
Se houver momentos na minha vil existência em que me liberto, mesmo que seja por momentos, das correntes que arrasto, valerá a pena…
Instantes soltos em que me entrego por completo sem restrições, medos ou complexos…
Ensejos de partilha…

domingo, dezembro 02, 2007

Lábios emprestados


Ando a beijar os lábios de um anjo. Um ser de aura branca e olhos vítreos. Beijo-o por escassez dos lábios que realmente quero provar.
O anjo sabe que os meus beijos não são dele mas de outrem. Mas sendo um ser celestial não se importa e reparte a sua alma comigo.
Terno e meigo, partilhamos momentos só nossos, longe de olhares inquisidores mas não são dele os lábios que me beijam a alma por inteiro. Essa boca, a que me eleva e guia ao céu, não é a de um anjo mas a de um cometa. Como tal, raras são as vezes que tenho a fortuna de o ver, parar a sua órbita e, juntos, tornarmo-nos corpos celestes.
Morfeu é perverso. Quando me permite algum repouso mina-me os sonhos com fantasias divinas em que, também eu sou fenómeno astronómico. Um qualquer pólo oposto do cometa e, obrigados pelas leis da física, unimo-nos numa explosão cósmica que desalinha os planetas e abala o universo.
E o anjo? Tenta com todos os seus poderes imortais levar-me às nuvens mas falha redundantemente o seu objectivo deixando-me apeada enquanto voa novamente para o seu cantinho no paraíso. Sinto o estremecer do seu corpo, o desembrulhar das suas asas, os seus braços à volta da minha cintura e a descolagem suave. Ensaia alar-me e levar-me com ele vezes sem conta, mas depois lê nos meus olhos que pertenço ao cometa e a força do seu abraço desvanece. Voa sozinho, mais uma vez. Talvez para a próxima…
É triste. Um melodrama de um anjo que quer cair para me ter. Guarda as tuas asas meu anjo, enquanto isso, peço os teus lábios emprestados…