domingo, abril 20, 2008

O ponto mais baixo

São 4 da manhã. Lá fora chove torrencialmente. Lembro-me de adorar ouvir a chuva a bater furiosamente nos estores enquanto me refugiava nos braços do meu amante. Doce sensação de protecção eterna…
Agora é um som que, para além de melancólico, me entristece. Nada pior que uma cama de casal ocupada com apenas um corpo. Já se passaram anos e continuo a dormir somente do meu lado. Como se aquele espaço estivesse à espera de ser preenchido…
Durante todo o dia de ontem arrastei-me num movimento pendular entre o sofá e a cama.
A noite anterior cansou-me o corpo e deixou-me um peso na cabeça. Sim, ressaca…
Os meus excessos encontram-se num crescendo semanal. A cada nova aventura com a ambrósia dos deuses, a fasquia sobe. É directamente proporcional à dor que carrego. Quanto mais dói, mais bebo para, por momentos, esquecer.
Uma imagem absolutamente deprimente é alguém da minha idade em conversas gregorianas com o WC da discoteca.
Como se possível fosse, flutuo acima do meu corpo e vejo-me em tão humilhante situação. Mas não me envergonho. Que se pense o que se quiser. O que sinto e o que me corrói é só meu e cada um lida com os infortúnios da vida como pode. Ninguém deve julgar sem conhecer. Não. Não tenho capacidade de transformar a minha raiva, dor e vontade de desaparecer numa pulsão de vida. A resiliência não é para mim…
É o eterno equilíbrio das coisas. Novas vidas surgem e, outras já gastas, desvanecem-se.
Há que dar lugar a quem verdadeiramente quer e merece um lugar.

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