quarta-feira, abril 23, 2008

Sobras

Já não gosto de ti da mesma maneira. Não confundas amar com gostar. O amor ainda cá está mas o gostar, mesmo gostar foi-se apagando.
Sabes amigo, dar o que te sobra nunca foi e nunca será uma partilha.
Negligenciar aqueles de quem dizemos gostar tem as suas consequências e essas tenho-as manifestamente para mim.
Tudo o que fazes com o intuito de me ajudar já to agradeci de todas as formas como sei agradecer. Mas aquilo que fazes não é mais que me ajudar onde, talvez da tua parte, menos precise. Sei a importância das coisas que fazes pensando no meu bem. Contudo existe algo de paternalista nesses teus gestos e, como bem sabes, pai já tenho. E esse, o verdadeiro, age em conformidade com aquilo que consegue fazer. Mas tu sei que consegues mais e melhor e entendes-me duma outra forma que nunca ninguém conseguiu.
Prende-se, talvez, com o facto de desempenhares demasiados papéis na minha vida. Cada função que temos na vida dos outros tem os seus próprios limites e, na nossa situação, nunca sei onde um acaba e começa o outro. É difícil de gerir e, para não te ferir, tento ser o mais cautelosa e cuidadosa possível.
Dou e sempre darei muita importância aos meus amigos. Quem já passou muito tempo na vida sem os ter cuida o melhor que pode e sabe, daqueles que vão surgindo. E então quando existe um entendimento quase telepático, tenho para mim que existe uma “obrigação” de manter essa união. Não por palavras mas por gestos.
Pensarás que me refiro à tua vida atarefada e “agendada ao segundo”. Nada disso. Os teus silêncios, embora ainda me doam, já aprendi a aceitar como parte indelével de ti e contra isso nada posso fazer.
Refiro-me a não fazer parte da tua vida. Sou uma apontamento na agenda ou, quiçá, um caso bicudo se tanto. Uma referência leve e mundana numa conversa de circunstância sobre “uma miúda que conheço”…
Falo-te na minha vida como Amiga. Sei que tenho de o fazer por outras razões mas, sem o carinho que sinto por ti, existiam confidências que nunca te faria. Essas mesmas confidências às quais fazes ouvidos moucos e que preferes ignorar.
Talvez, num mundo que não este em que vivemos, tenha imaginado que fosse realmente uma Amiga. Capitular o adjectivo foi obra tua. Na altura achei um gesto carinhoso e único. Só nosso… Depois descobri que não. Que tens mais Amigos. Ingenuidade da minha parte pensar o contrário…
Enquanto isto sobre ti sei muito pouco. Do teu passado não gostas de falar e respeito. O presente revolve à volta de questões profissionais e fait-divers que me contas para me fazer sorrir ou soltar uma gargalhada. Dos sentimentos já me deste e entender que não são da minha conta… Afinal o que resta? Que define esta dita Amizade?
Da minha parte dou tudo o que posso.
Da tua recebo as sobras…

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