quinta-feira, fevereiro 19, 2009

O Elefante e a Raposa

Era uma vez um elefante doente que sentia que estava na hora de começar o caminho para o sítio onde iria, finalmente, morrer. Planeara despedir-se da manada e começar o seu caminho solitário mas, antes que o pudesse fazer, ficou separado dos restantes após uma debandada provocada por um ataque de leões.Durante dias chamou a favor do vento esperando ouvir uma resposta para se poder despedir dos que amava mas o tempo passava e, enfraquecido e triste, resolveu fazer o caminho que sabia de cor por ter ouvido os anciães a descrevê-lo nas noites frias da savana.Já havia percorrido um longo trecho quando se sentiu incomodado pela sensação de estar a ser observado. Olhava em redor mas não via nada senão a vegetação alta e seca e as raras árvores baixas comuns à paisagem.Resolveu parar para beber um pouco de água num buraco ali perto. Quando se baixou, viu reflectidos na água um grupo de caçadores furtivos que se escondiam atrás da vegetação.Percebeu logo que não estavam ali para o matar mas para o seguirem até ao cemitério dos elefantes onde encontrariam uma reserva infindável de marfim.Não podia deixar que isso acontecesse. A localização dos cemitérios da sua espécie era um dos segredos mais bem guardados da natureza e não deixaria que as mãos sujas e gananciosas dos humanos tocassem nos ossos e dentes dos seus antepassados.Resolveu começar a andar às voltas na esperança que os caçadores se cansassem e o deixassem em paz.Caminhou em círculos durante semanas e sentia-se cada vez mais ansioso devido à persistência dos humanos.Um dia, do nada, surgiu uma pequena raposa. Por pouco não a pisava mas ela, manhosa, conseguiu evitar a pata dele a tempo.Perguntou-lhe que fazia ele ali sozinho sem manada. A raposa sabia que os elefantes moviam-se em grupos e estranhou a caminhada solitária do colosso.O elefante explicou a história à pequena raposa enquanto caminhavam lado a lado. Sempre em círculos para despistar os perseguidores.A raposa queria ajudar o seu novo amigo mas sentia-se impotente por ser pequena e por saber que os caçadores a matariam sem hesitar.Passaram-se semanas, meses. O elefante ficava cada vez mais frágil e a raposa percebia que, a cada dia, o objectivo do seu amigo moribundo ia ficando menos provável.Um dia o elefante encostou-se a uma árvore de ébano e disse num suspiro à raposa que a sua luta tinha chegado ao fim mas que morria satisfeito por ter, pelo menos, evitado que os caçadores desonrassem o seu cemitério.Falaram a noite toda e a raposa adormeceu encostada ao elefante.Quando os primeiros raios de sol bateram no focinho da raposa esta acordou e, sentindo o corpo frio do seu grande amigo, percebeu logo que este tinha, finalmente, encontrado o merecido descanso.A raposa começou a chorar de tristeza por ter perdido o seu amigo e pela impotência de não o ter ajudado a chegar ao seu destino. O seu pranto foi interrompido por uma sucessão de gargalhadas que fizeram com que os seus pêlos do dorso se eriçassem. Hienas!Não! Não haveriam de comer o seu amigo. Lutaria até à morte se fosse preciso mas não deixaria que lhe tocassem.Rapidamente viu-se rodeada de hienas que começavam a investir, trincando o corpo sem vida do elefante e deixando pedaços de carne solta onde mordiam.Lutou com todas as suas forças para impedir que as hienas chegassem ao cadáver do amigo mas era constantemente repelida com dentadas e encontrões.Após umas horas, muito ferida e exausta, a raposa sentou-se ao longe enquanto via as hienas e os abutres desfazerem a carcaça que, no dia anterior, tinha sido o seu melhor amigo.Ainda hoje a raposa conta a história de coragem do seu amigo elefante e sabe que, se não fosse ela, já ninguém se lembraria do elefante e não se conheceria o seu acto final de bravura e altruísmo.Mas quando vê estátuas de pau-preto, ainda os olhos se enchem de lágrimas lembrando os dias que caminhava sob o sol quente conversando com o seu amigo Elefante.

6 comentários:

ematejoca disse...

Ontem à noite li "O Elefante e a Raposa" uma história linda e triste, nada própria para esta época de Carnaval.
Não deixei nenhum comentário, porque não queria ser a primeira. E, então, sonhei toda a noite contigo e com esta história.
Como estás, kleiner Fuchs? Temos tido muitas saudades tuas... e tu, de certeza, também tens muitas saudades nossas. A amizade virtual também é eterna.

HELAU! HELAU! HELAU!

BlueVelvet disse...

Querida raposinha,
faço minhas as palavras da Teresa.
Também estive cá ontem à noite mal vi que tinhas um post.
Li. A história é linda mas muito triste.
Espero que não tenha a ver com o teu estado de espírito.
Muitos beijinhos e dá notícias

BC disse...

Vi por acaso esta postagem.
Como sabes não tenho aquele quadro das publicações dos blogues, e sempre que aqui vinha não entrava.________________

Mas hoje vi por acaso num outro blog e vim espreitar, não sei se vais ler, mas ficam as palavras, apesar de atrasadas._____
Como sempre tens um texto muito bem escrito, mas triste como habitualmente.
Aparece de vez em quando e dá notícias.
Beijo
BC (Sempre)

Há alturas na vida que eu gostava que o tempo tivesse parado.

ematejoca disse...

What the Robin Told

The wind told the grasses
And the grasses told the trees.
The trees told the bushes,
And the bushes told the bees.
The bees told the robin,
And the robin sang out clear:
Wake up! Wake up! Spring is here!
~ author unknown

Mil beijinhos primaveris para ti, kleiner Fuchs, da Teresa de longe.

Eu também gostava, que o tempo tivesse parado. Tu fazes-me falta, lieber Fuchs!

ematejoca disse...

A minha poesia
É um jardim de luz
Em cada roseira sem espinhos
Há uma rosa para colher
Sem fazer sangue

Há uma rosa para ti no meu Jardim de Amizade, esperando que te encontres bem.

Uma semna cheia de bons momentos.

alfazema disse...

Fixe, ter encontrado o teu blog......vou passar a estar atenta
beijos