Lembro-me do fascínio que este objecto me provocava em miúda. Girava o tubo e, ainda, a cabeça concentrando-me para chegar a uma explicação para aquele fenómeno. Com o olho espreitando numa das extremidades questionava-me como se reuniam tantas cores num tubo de cartão e porque é que a forma mudava quando rodava o óculo.
Às tantas decidi “abrir” o tubo mágico, mesmo desconfiando que ia estragá-lo. Prerrogativa duma criança de 5 anos…
Perdi umas horas a tentar bater, rodar, torcer, pisar e, tudo mais que consegui lembrar-me para resolver o maldito enigma. Nada feito. Então lembrei-me duma coisa… O cartão amolece com a água… Ora, pus o caleidoscópio debaixo da torneira da banheira e eis que, como previa, se desfaz…
Caem umas “pedras coloridas”, que agora sei serem pedaços de plástico de várias cores, e o óculo era constituído por inúmeros espelhos colocados de forma a reflectirem as “pedritas”. Entendi que ao rodar o objecto, rodava os espelhos e estes, ao variarem de ângulo, criavam novas formas…
Perdi completamente o encanto pelo brinquedo assim que descobri o seu funcionamento. Aliás, senti-me lograda, vigarizada, ludibriada, endrominada.
Afinal, aquele efeito lindo de mágico não tinha nada.
Deve ter sido nesse momento que me tornei a maior céptica do mundo… Nunca tinha acreditado no Pai Natal. Aquela história parecia-me ter demasiadas premissas improváveis para fazer sentido. A minha casa nem chaminé tinha… A Fada dos Dentes, sabia que era a minha mãe… E quanto à Igreja Católica… Hum… Se me era difícil aceitar o Pai Natal por achar rebuscado, então imaginam as perguntas que saíam desta boquinha em relação a cada frase que a coitada da catequista ia debitando.
Não pensem que me deixava levar com más explicações ou respostas vagas. Fuzilava a Sra. com ainda mais perguntas até ter a curiosidade satisfeita. E depois, por via das dúvidas, ainda ia fazer o contra - interrogatório para casa da minha avó…
Acho que o esgar que caracterizou a minha infância foi a sobrancelha levantada. As duas não. Somente uma. Indica cepticismo e, um pouco, de gozo.
Estas histórias levam-me a crer que:
1º - Sempre fui uma mimada porque estragava brinquedos sem me doer a consciência;
2º - Sempre fui uma chata de primeira espécie por querer saber tudo e teimar quando algo não parece bater certo. Enquanto o assunto não ficar resolvido na minha cabeça, não descansarei.
Dum modo mais geral:
1º - Quando se parte uma coisa bonita, perde o seu encanto:
2º - Ao descobrir a resolução dum enigma, perde-se para sempre o interesse nele;
3º - Mentir a crianças torná-las-á adultos desconfiados;
E tudo isto deriva apenas dum caleidoscópio… Como diria Fernando Pessa: “E esta, hein?”
Às tantas decidi “abrir” o tubo mágico, mesmo desconfiando que ia estragá-lo. Prerrogativa duma criança de 5 anos…
Perdi umas horas a tentar bater, rodar, torcer, pisar e, tudo mais que consegui lembrar-me para resolver o maldito enigma. Nada feito. Então lembrei-me duma coisa… O cartão amolece com a água… Ora, pus o caleidoscópio debaixo da torneira da banheira e eis que, como previa, se desfaz…
Caem umas “pedras coloridas”, que agora sei serem pedaços de plástico de várias cores, e o óculo era constituído por inúmeros espelhos colocados de forma a reflectirem as “pedritas”. Entendi que ao rodar o objecto, rodava os espelhos e estes, ao variarem de ângulo, criavam novas formas…
Perdi completamente o encanto pelo brinquedo assim que descobri o seu funcionamento. Aliás, senti-me lograda, vigarizada, ludibriada, endrominada.
Afinal, aquele efeito lindo de mágico não tinha nada.
Deve ter sido nesse momento que me tornei a maior céptica do mundo… Nunca tinha acreditado no Pai Natal. Aquela história parecia-me ter demasiadas premissas improváveis para fazer sentido. A minha casa nem chaminé tinha… A Fada dos Dentes, sabia que era a minha mãe… E quanto à Igreja Católica… Hum… Se me era difícil aceitar o Pai Natal por achar rebuscado, então imaginam as perguntas que saíam desta boquinha em relação a cada frase que a coitada da catequista ia debitando.
Não pensem que me deixava levar com más explicações ou respostas vagas. Fuzilava a Sra. com ainda mais perguntas até ter a curiosidade satisfeita. E depois, por via das dúvidas, ainda ia fazer o contra - interrogatório para casa da minha avó…
Acho que o esgar que caracterizou a minha infância foi a sobrancelha levantada. As duas não. Somente uma. Indica cepticismo e, um pouco, de gozo.
Estas histórias levam-me a crer que:
1º - Sempre fui uma mimada porque estragava brinquedos sem me doer a consciência;
2º - Sempre fui uma chata de primeira espécie por querer saber tudo e teimar quando algo não parece bater certo. Enquanto o assunto não ficar resolvido na minha cabeça, não descansarei.
Dum modo mais geral:
1º - Quando se parte uma coisa bonita, perde o seu encanto:
2º - Ao descobrir a resolução dum enigma, perde-se para sempre o interesse nele;
3º - Mentir a crianças torná-las-á adultos desconfiados;
E tudo isto deriva apenas dum caleidoscópio… Como diria Fernando Pessa: “E esta, hein?”
2 comentários:
NÃO ILUDO AS PALAVRAS ELAS É QUE ME ILUDEM APENAS LHES ACRESCENTO LETRAS ELAS ACRESCENTAM-ME VIDA.
:)
Obrigada pelo comentário.
Verdade...
Não sou eu que escrevo as palavras, são elas que me definem a mim. Certo?
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