Já está atrasada. Não é seu costume mas, hoje, custou-lhe a reunir a coragem. Nem por isso acelera o passo ou se preocupa. Costas arqueadas, pernas doridas e ensonada lentamente faz o caminho e, sem se dar conta, concentrada na música que escuta, levanta a cabeça e vê a Praça de Micenas fervilhando de actividade… Chegou.
Senta-se a olhar para ele. Na sua cabeça os pensamentos são agonizantes. Uma face que, em tempos, lhe disse tanto, agora parece-lhe estranha e desprovida de encanto.
Como e quando?
Começa a falar. Sorri-lhe mas não é verdadeiro. Repetem-se as questões e os alvitres. Ele cabeceia com sonolência. Ela sabe que já não é magnífica. Talvez nunca o tenha sido. O encantamento perdeu-se de ambas as partes. Agora resta uma Amizade de sentimentos imemoriais. Cordial e desajeitada. Dois seres que se encontraram, desencontraram e antes de se terem reencontrado, perderam-se.
O que outrora os uniu cria, agora, uma cisão. Ambos o sabem. Um colosso ergue-se permeio…
Ela não o quer ouvir. Parece que se repetem incessantemente. Conversa centrípeta. Converge sempre no mesmo assunto.
A sua mente divaga…
Ela toma conta dos progenitores. À sua maneira, a única que sabe, protege-os. Se ao menos ele soubesse as vezes que ela preencheu o vazio que corrói o Rei. O luto vitalício que carrega desculpou-o amiúde. Em prejuízo próprio, deixando a sua maturação e experiência para trás, embala-os com a sua presença incontornável.
Pensará que a surpreende com as conclusões que tira. Por outras palavras, racionalizações distintas, aquilo que ouve sobre Agamemnon sente desde que se conhece.
Aprendeu que existem dores que não se podem, tão-pouco, serenar. Conhecimento adquirido por ter ensaiado todas as formas que lhe são conhecidas de mitigar ausências irrecuperáveis. Por muito que amemos e que as nossas intenções sejam puras, não podemos brindar ninguém com aquele, último, adeus….
Sente-se lograda. A ingenuidade levou-a, novamente, a acreditar que um deus a via a ela, comum mortal, como igual.
Falsa profeta. Desenganem-se os que a pensaram maior.
Perdida nestas reflexões, uma entoação interrogativa e posterior silêncio de quem espera resposta trá-la de novo à sala pejada de memórias.
– Desculpa?
– Entendes?
– Oh, claro!
– Bom.
Não o ouviu mas decerto que entende.
Levanta-se e segue-o num gesto ritualista. Sela-se oficialmente o acordo. Está cansada. Quer ir para casa.
Munida da sua “caixa de música” começa a fazer o caminho até casa dos reis.
Sabe que Clitemnestra a espera ansiosamente. Mitigar-lhe-á a fome do corpo e da alma.
Chega. A chave roda no trinco e já a rainha a espera à porta. Um beijo sentido e a pergunta de sempre. Sorri… Correu bem, responde.
Senta-se a olhar para ele. Na sua cabeça os pensamentos são agonizantes. Uma face que, em tempos, lhe disse tanto, agora parece-lhe estranha e desprovida de encanto.
Como e quando?
Começa a falar. Sorri-lhe mas não é verdadeiro. Repetem-se as questões e os alvitres. Ele cabeceia com sonolência. Ela sabe que já não é magnífica. Talvez nunca o tenha sido. O encantamento perdeu-se de ambas as partes. Agora resta uma Amizade de sentimentos imemoriais. Cordial e desajeitada. Dois seres que se encontraram, desencontraram e antes de se terem reencontrado, perderam-se.
O que outrora os uniu cria, agora, uma cisão. Ambos o sabem. Um colosso ergue-se permeio…
Ela não o quer ouvir. Parece que se repetem incessantemente. Conversa centrípeta. Converge sempre no mesmo assunto.
A sua mente divaga…
Ela toma conta dos progenitores. À sua maneira, a única que sabe, protege-os. Se ao menos ele soubesse as vezes que ela preencheu o vazio que corrói o Rei. O luto vitalício que carrega desculpou-o amiúde. Em prejuízo próprio, deixando a sua maturação e experiência para trás, embala-os com a sua presença incontornável.
Pensará que a surpreende com as conclusões que tira. Por outras palavras, racionalizações distintas, aquilo que ouve sobre Agamemnon sente desde que se conhece.
Aprendeu que existem dores que não se podem, tão-pouco, serenar. Conhecimento adquirido por ter ensaiado todas as formas que lhe são conhecidas de mitigar ausências irrecuperáveis. Por muito que amemos e que as nossas intenções sejam puras, não podemos brindar ninguém com aquele, último, adeus….
Sente-se lograda. A ingenuidade levou-a, novamente, a acreditar que um deus a via a ela, comum mortal, como igual.
Falsa profeta. Desenganem-se os que a pensaram maior.
Perdida nestas reflexões, uma entoação interrogativa e posterior silêncio de quem espera resposta trá-la de novo à sala pejada de memórias.
– Desculpa?
– Entendes?
– Oh, claro!
– Bom.
Não o ouviu mas decerto que entende.
Levanta-se e segue-o num gesto ritualista. Sela-se oficialmente o acordo. Está cansada. Quer ir para casa.
Munida da sua “caixa de música” começa a fazer o caminho até casa dos reis.
Sabe que Clitemnestra a espera ansiosamente. Mitigar-lhe-á a fome do corpo e da alma.
Chega. A chave roda no trinco e já a rainha a espera à porta. Um beijo sentido e a pergunta de sempre. Sorri… Correu bem, responde.
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