Hoje fui confrontada com a fragilidade humana. Como uma chapada sem mão vi-me defronte duma alma penada que se rebaixou perante mim com uma humildade sub-humana e desnecessária.
Ia eu a caminho do café como, aliás, faço todos os dias. Ipod nos ouvidos, cigarro aceso na mão e compenetrada nos meus pensamentos. Senti alguém atrás de mim e parei. Quando olhei vi, sobressaltada, um senhor com uma aparência, enfim, à falta de melhor descrição, suja…
Estava sentado numa bicicleta que me pareceu ser de criança ou jovem. Daquelas que já não se fazem. Parecia saída dum filme dos anos 60.
Falava comigo mas não o ouvia porque ainda tinha os auscultadores nos ouvidos com a música no máximo. Tirei-os rapidamente para descortinar o que se passava.
- Podia arranjar-me um cigarro?
- Claro.
Tirei o maço de Marlboro e, como é meu costume, abri-o e virei-o para o senhor para que se servisse. Sempre achei o gesto de tirar um único cigarro e estendê-lo à pessoa um gesto desprovido de educação e humanidade. Um gesto frio, calculista de somítico desconfiado de tudo e de todos.
Enfim, continuando a descrição…
De cabeça baixa e olhos no chão como se fitar-me fosse proibido ou um abuso de qualquer espécie diz-me:
- É melhor ser a senhora a tirar…
Fiquei siderada. Fulminada. Continuei a olhar para ele de maço na mão mas recusava-se a tirar os olhos do asfalto… Tirei então o cigarro e estendi-lho. Na verdade a minha vontade foi dar-lhe o maço que estava quase cheio. Nem sei porque não o fiz…
Agradeceu e foi-se embora. Fiquei uns segundos a vê-lo pedalar no sentido contrário ao que eu ia a fazer…
Se eu não tivesse os pais que tenho, não poderia ser eu a mendigar um cigarro? Talvez eu estivesse toda suja e tivesse como meio de transporte uma bicicleta qualquer achada numa sucata…
Mesmo que escolhas erradas o tenham levado ao ponto em que se encontra ninguém, NINGUÉM!, deve humilhar-se como ele fez perante mim. Apeteceu-me dar-lhe um abraço. Mas nem insistir para que ele tirasse o cigarro consegui… Sinto-me um traste.
Posso somente especular o que o levou a dizer-me para tirar o cigarro. Ou por ter as mãos sujas, ou por ser portador duma qualquer doença, senti aquele homem despedaçado. Alguém que talvez tenha idade para ser meu pai a falar-me quase como se me segredasse que há muito tinha deixado de se sentir uma pessoa.
Não acredito que fossem as mão sujas ou uma doença que me pudesse prejudicar se tivesse tirado o cigarro. E a questão nem se prende com as palavras proferidas mas antes a humilhação com que o fez…
Que se tire tudo às pessoas… Que se roube tudo… Mas deixem a dignidade por serem humanos como nós.
A partir de amanhã andarei com um maço cheio na mala. E se, por ventura, reencontrar este senhor, dar-lhe-ei o maço e, se possível, nem que seja, um aperto de mão e um sorriso.
Ia eu a caminho do café como, aliás, faço todos os dias. Ipod nos ouvidos, cigarro aceso na mão e compenetrada nos meus pensamentos. Senti alguém atrás de mim e parei. Quando olhei vi, sobressaltada, um senhor com uma aparência, enfim, à falta de melhor descrição, suja…
Estava sentado numa bicicleta que me pareceu ser de criança ou jovem. Daquelas que já não se fazem. Parecia saída dum filme dos anos 60.
Falava comigo mas não o ouvia porque ainda tinha os auscultadores nos ouvidos com a música no máximo. Tirei-os rapidamente para descortinar o que se passava.
- Podia arranjar-me um cigarro?
- Claro.
Tirei o maço de Marlboro e, como é meu costume, abri-o e virei-o para o senhor para que se servisse. Sempre achei o gesto de tirar um único cigarro e estendê-lo à pessoa um gesto desprovido de educação e humanidade. Um gesto frio, calculista de somítico desconfiado de tudo e de todos.
Enfim, continuando a descrição…
De cabeça baixa e olhos no chão como se fitar-me fosse proibido ou um abuso de qualquer espécie diz-me:
- É melhor ser a senhora a tirar…
Fiquei siderada. Fulminada. Continuei a olhar para ele de maço na mão mas recusava-se a tirar os olhos do asfalto… Tirei então o cigarro e estendi-lho. Na verdade a minha vontade foi dar-lhe o maço que estava quase cheio. Nem sei porque não o fiz…
Agradeceu e foi-se embora. Fiquei uns segundos a vê-lo pedalar no sentido contrário ao que eu ia a fazer…
Se eu não tivesse os pais que tenho, não poderia ser eu a mendigar um cigarro? Talvez eu estivesse toda suja e tivesse como meio de transporte uma bicicleta qualquer achada numa sucata…
Mesmo que escolhas erradas o tenham levado ao ponto em que se encontra ninguém, NINGUÉM!, deve humilhar-se como ele fez perante mim. Apeteceu-me dar-lhe um abraço. Mas nem insistir para que ele tirasse o cigarro consegui… Sinto-me um traste.
Posso somente especular o que o levou a dizer-me para tirar o cigarro. Ou por ter as mãos sujas, ou por ser portador duma qualquer doença, senti aquele homem despedaçado. Alguém que talvez tenha idade para ser meu pai a falar-me quase como se me segredasse que há muito tinha deixado de se sentir uma pessoa.
Não acredito que fossem as mão sujas ou uma doença que me pudesse prejudicar se tivesse tirado o cigarro. E a questão nem se prende com as palavras proferidas mas antes a humilhação com que o fez…
Que se tire tudo às pessoas… Que se roube tudo… Mas deixem a dignidade por serem humanos como nós.
A partir de amanhã andarei com um maço cheio na mala. E se, por ventura, reencontrar este senhor, dar-lhe-ei o maço e, se possível, nem que seja, um aperto de mão e um sorriso.
2 comentários:
Espero que o voltes a encontrar...
Também eu amigo. Também eu...
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