terça-feira, janeiro 22, 2008

Simples

Disse-me, hoje, o amor da minha vida que deveria deixar de complicar coisas que são simples. Referia-se às reflexões que faço sobre a minha existência. Os porquês de sentir como sinto. De ser como sou. De destruir como destruo. De sofrer como sofro.
Em tempos um amigo aconselhava-me a aceitar-me tal como sou. Com tudo o que tenho de bom e de mau. Isto porque, dizia ele, é assim mesmo que somos. Ying e Yang.
Apenas e só ao aceitar-me incondicionalmente teria a capacidade de fazê-lo em relação às existências que se cruzam com a minha…
Prerrogativa feminina esta de complicar as coisas, ser insegura e viver numa constante ânsia de ser melhor… NÃO! Estereótipos, machismos, visões curtas e limitadas, burrice pura e dura. Nada tem a ver com o ter nascido mulher mas, antes, por me ter tornado eu…
Em 1789 foi definido, em França, que somos todos iguais! Esta noção tem vindo a ser melhorada e aprimorada até à nossa era…
Sei que na prática não é o caso. Vive-se numa sociedade global falocêntrica, daltónica e disléxica.
Posto isto, volto à minha deambulação em torno de mim própria… Sim, centrípeta…
Primeiro há que fazer o caminho até ao cerne da questão para depois, quiçá deixando um fio para depois se encontrar o caminho de volta, inverter o movimento. Talvez eu seja a formiga sobre quem cantava Zeca Afonso. Vou em sentido contrário no carreiro…
Enjeito-me. Recuso-me a aceitar-me assim. Assim não. Antes ir às compras de fato-de-treino ao Continente ao domingo! Antes passar anos à frente do computador a jogar jogos! Antes viver uma existência despojada de raciocínios desnecessários e nada pragmáticos. De que me vale o saber? O pensar? Se, depois, no dia-a-dia só me trazem dissabores?
A sapiência reside, dizem, na simplicidade… Que tem de linear esta coisa do sentir? Que tem de elementar? O acto em si, a pulsão, essa é simples. Apaixonamo-nos e nada há a fazer. O sentimento está lá e, perante isso, só uma lobotomia… De racional não tem absolutamente nada.
Estou cansada disto. O não saber sentir ou fazê-lo indevidamente destruiu-me completamente. Tudo o que sou hoje já questionei e solucionei. As soluções, não sendo as adequadas, levaram ao desgosto e à dor. Sinceramente, não me consigo ver a começar de novo para melhorar-me embora sinta que nunca me contentarei com aquilo que me tornei.
Situação antagónica. A ânsia de ser diferente e a incapacidade de sê-lo. Ou, então, apenas a falta de vontade de começar a construir de novo…

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