quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Jus Soli

Como um pequena expressão em latim resume aquilo que sinto pelo país onde nasci há mais de 27 anos.
“O direito sobre a terra”… Direito esse que me foi concedido por ter sido derramado o meu sangue com o da minha mãe às 03 e 03 a.m., do dia 22 de Maio de 1980.
Diz-me ela que na noite que o meu pai a levava para a maternidade, a lua estava como que cortada pela estrada e que dava a ilusão que o meu pai conduzia o carro para o seu interior.
O amor e nostalgia que sinto por aquele país maravilhoso onde fui, verdadeiramente, feliz. Uma infância pejada de natureza e brincadeiras salutares.
Há dias, durante a minha primeira experiência meditativa, ouvia a música que me chegava aos ouvidos pelas colunas que se encontravam ao meu lado direito. Inspirava o cheiro forte do incenso que enchia o pequeno sótão onde me encontrava sentada no chão de pernas cruzadas. Olhava a escuridão, apenas diminuída pela luz intermitente que chegava das velas acesas do meu lado esquerdo.
Ouvia os pássaros a cantar perto da janela do sótão… Ele aumentou o volume da música. Respirei fundo, baixei a cabeça e fechei os olhos. A música era calma. Sugestiva. Impelia-me a voltar para onde fui feliz. Resisti ao início. Tinha medo de não saber onde iria parar.
A cada batida da música sentia-me a relaxar. Que razão teria para ter medo? Estava de mãos dadas com ele, ali no meio do sótão. Segura. Deixei-me levar…
A primeira coisa que me chegou foi o cheiro a terra. Como tinha saudades desse cheiro! Depois o sol de Verão a bater-me na cara enquanto a água da chuva me humedecia as pálpebras e o cabelo. O riso do Shawn e da Shanti que viviam defronte da minha casa. O ladrar do doberman do meu vizinho. Ouvir falar em Afrikaans – mesmo entendendo pouco – levou-me ao arrepio. O cheiro do braai que o meu tio fazia à beira da piscina nos fins-de-semana que íamos a Pretória. A espera longa e árdua que eu e os meus primos tínhamos de suportar para fazer a digestão para podermos ir para a água.
O Warm Baths e o Sun City. Durban e a Cidade do Cabo. As vinhas e as montanhas que protegem esta cidade. Ver no horizonte longínquo o “Gigante Adamastor” e a junção dos dois oceanos que provocam naquela zona uma tempestade permanente em alto mar.
O Padrão dos Descobrimentos que ainda restou da nossa – sim, incluo-me porque tenho também jus sanguini, por ser filha de portugueses - passagem por lá há séculos atrás. Muito antes dos restantes europeus.
Em Durban, a placa referindo-se à juventude de Fernando Pessoa passada lá quando o seu pai foi lá cônsul.
Um país lindíssimo e riquíssimo deixado ao acaso devido à mão do homem. Símbolo máximo daquilo que sofrem as pessoas e a natureza devido a umas quantas mentes limitadas e etnocêntricas.
Saída da minha viagem meditativa as lágrimas criaram-se nos meus olhos. Tenho saudades daquele país. Daqueles tempos em que tudo era simples, grande e belo. Em que todas as respostas eram ou afirmativas ou negativas.
Saudades da inocência…

1 comentário:

BC disse...

Olá Renard!
Hoje apetece-me conversar,e senti
vontade de vir ao teu blog, e isto de nascimentos é comigo,estou a ouvir tb. uma música muito calma
"calm the mind"(linda, cheia de paz)e voltando aos nascimentos o meu filho mais velho tb nasceu em Maio no dia 30 e acabou hoje o curso de piloto,estou feliz.
Diz alguma coisa
Beijocas
BC