“O álcool não consola, não preenche os vazios psicológicos, mas supre a ausência de Deus. Não compensa o homem. Pelo contrário, anima a sua loucura, transporta-o a regiões supremas onde é mestre do seu próprio destino.”
Marguerite Duras
Só uma mulher teria o discernimento de ver para além de todos os outros efeitos da embriaguez e fazer entender porque procuramos nos vícios formas de nos escaparmos a nós próprios.
De fugir aos nossos defeitos; aos valores que nos enfiaram pela goela abaixo antes de teremos tido tempo de sequer pensarmos por nós; ao nosso ser social e profissional; aos nossos muitos Eu’s que teimam em surgir e ressurgir consoante a necessidade e que acabam por nos sufocar por ouvirmos demasiadas vozes na nossa cabeça.
Assim entendemos que Deus não existe e que estamos nesta vida por nossa própria conta e risco, tudo se torna mais pesado. Tudo se torna mais fatalista. Tudo mete muito mais medo.
Chegamos à conclusão que o nosso amigo, para além de invisível é, também, imaginário e sentimo-nos desamparados. Se não está alguém lá no alto a guiar-me, então o que faço agora? O eterno conselheiro, o nosso pastor é uma invenção? Agora quem toma conta de mim? Ele tinha prometido…
E então procuramos um substituto. Alguém com a capacidade de nos guiar. Ajudar-nos a viver. Aguentar um pouco do nosso fardo. Um deus carnal e terreno. Idealmente, seria uma partilha. Nós aguentávamos o fardo desse nosso deus e ele o nosso. Porque os fardos dos outros pesam sempre menos que os nossos.
O álcool torna-nos destemidos. Tudo o que nos amedronta parece tão descabido, somos imortais e nenhum mal nos pode chegar. Somos Super-Homens que paramos balas com o peito e temos uma cognição real das coisas. Sem razão e morais à mistura, despimo-nos de preconceitos e traumas e voltamos ao que temos de mais puro: ao instinto. Ao “se me apetece fazê-lo, que me impede”? Que é a consciência senão o filtro que nos ataca depois de nos termos libertado dela.
Qualquer momento de êxtase, qualquer um que seja, um sucumbir a uma atracção forte, um estado ébrio, uma alegria desmedida terá como conclusão a ressaca. O atacar por parte da consciência que nos mostra que aquilo que fizemos/dissemos terá efeitos nefastos.
Mas a vida não são momentos sucedâneos? Momento a momento as horas e dias passam e uns serão, inevitavelmente bons e outros quantos, inevitavelmente maus.
Tantos momentos que deixei de aproveitar e que agora me perseguem como espectros no purgatório.
Gostava de voltar atrás e aproveitar esses doces momentos. Não o fiz na altura com medo de magoar e ser magoada. Agora tenho a mágoa e o ressentimento de não ter sido mulher suficiente e uma cobarde de primeira. Se o tivesse feito, teria a mágoa mas as boas recordações daqueles momentos que baixei a guarda e, simplesmente, me deixei ir….
A minha vida é um não acabar de “esteve para ser mas não foi”…
Isto não é sequer viver!
Marguerite Duras
Só uma mulher teria o discernimento de ver para além de todos os outros efeitos da embriaguez e fazer entender porque procuramos nos vícios formas de nos escaparmos a nós próprios.
De fugir aos nossos defeitos; aos valores que nos enfiaram pela goela abaixo antes de teremos tido tempo de sequer pensarmos por nós; ao nosso ser social e profissional; aos nossos muitos Eu’s que teimam em surgir e ressurgir consoante a necessidade e que acabam por nos sufocar por ouvirmos demasiadas vozes na nossa cabeça.
Assim entendemos que Deus não existe e que estamos nesta vida por nossa própria conta e risco, tudo se torna mais pesado. Tudo se torna mais fatalista. Tudo mete muito mais medo.
Chegamos à conclusão que o nosso amigo, para além de invisível é, também, imaginário e sentimo-nos desamparados. Se não está alguém lá no alto a guiar-me, então o que faço agora? O eterno conselheiro, o nosso pastor é uma invenção? Agora quem toma conta de mim? Ele tinha prometido…
E então procuramos um substituto. Alguém com a capacidade de nos guiar. Ajudar-nos a viver. Aguentar um pouco do nosso fardo. Um deus carnal e terreno. Idealmente, seria uma partilha. Nós aguentávamos o fardo desse nosso deus e ele o nosso. Porque os fardos dos outros pesam sempre menos que os nossos.
O álcool torna-nos destemidos. Tudo o que nos amedronta parece tão descabido, somos imortais e nenhum mal nos pode chegar. Somos Super-Homens que paramos balas com o peito e temos uma cognição real das coisas. Sem razão e morais à mistura, despimo-nos de preconceitos e traumas e voltamos ao que temos de mais puro: ao instinto. Ao “se me apetece fazê-lo, que me impede”? Que é a consciência senão o filtro que nos ataca depois de nos termos libertado dela.
Qualquer momento de êxtase, qualquer um que seja, um sucumbir a uma atracção forte, um estado ébrio, uma alegria desmedida terá como conclusão a ressaca. O atacar por parte da consciência que nos mostra que aquilo que fizemos/dissemos terá efeitos nefastos.
Mas a vida não são momentos sucedâneos? Momento a momento as horas e dias passam e uns serão, inevitavelmente bons e outros quantos, inevitavelmente maus.
Tantos momentos que deixei de aproveitar e que agora me perseguem como espectros no purgatório.
Gostava de voltar atrás e aproveitar esses doces momentos. Não o fiz na altura com medo de magoar e ser magoada. Agora tenho a mágoa e o ressentimento de não ter sido mulher suficiente e uma cobarde de primeira. Se o tivesse feito, teria a mágoa mas as boas recordações daqueles momentos que baixei a guarda e, simplesmente, me deixei ir….
A minha vida é um não acabar de “esteve para ser mas não foi”…
Isto não é sequer viver!
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