domingo, outubro 12, 2008

O corredor

Estoicamente vou aguentando o silêncio que ecoa. Palavras amontoam-se no fundo da garganta e os pensamentos vão criando paredes de entulho em volta da lucidez.
Quando acompanhada não deixo que se instale o mutismo e encho o ar de sons embora saiba que se trata apenas e só de ruído.
Aproveito a audiência para não ficar a sós comigo e todos os momentos de descanso dos meus devaneios são bem-vindos.
Um corredor estreito e infinito, repleto de portas de ambos os lados paralelamente alinhadas, arquiva o passado, o presente e o futuro. Durante uns tempos deixei as portas que me ficam nas costas e fui abrindo as portas que tinha adiante. Atrás de cada nova porta, uma renovada história, sensação, medo ou anseio. Por vezes, mesmo sabendo estarem trancadas, tento forçar as portas além do meu conhecimento na ânsia de responder a perguntas cuja solução permanece obscura.
Agora começa a faltar-me novamente a coragem de querer abrir as portas. Sei de antemão que mesmo não querendo, elas escancare-se-ão para me mostrar aquilo que contêm quer eu queira saber o seu conteúdo, quer não.
Apetece-me sentar-me no corredor com as pernas recolhidas até ao peito. Abraçando-me e com a cabeça nos joelhos, não quero sair do meu lugar. Querer que o tempo pare. Me dê um descanso. Os fantasmas que saem das portas já abertas vagueiam pelo corredor assustando-me e fazendo com que as lágrimas me encham os olhos.
Espectros que pensava já presos no seu tempo voltam para me assombrar e trazendo à lembrança episódios há muito recalcados por baixo do amontoado de papeis e livros que enchem as salas do corredor.
A ambição nunca a tive e a curiosidade que me impelia a abrir as portas esgotou-se. Por vezes parece que aquilo que estou a ver é uma repetição de outras salas, outras vidas que pensava nunca mais ter de enfrentar.
Novos demónios surgem no horizonte e a arrojo escorre com areia por entre os dedos.
Apetece-me voltar ao tempo em que o corredor se mantinha na ignorância abençoada que vem com a inocência que nos define em crianças. Antes da consciência de ser…

8 comentários:

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Abre só as portas que penses poder abrir com a seguraça de surgirem sorrisos e alegrias. Aquelas que requerem combates e lutas, abre também, mas antes, enche-te de coragem e determinação e inspira-te naquela frase, sempre em mente: "eu quero, eu posso, eu consigo"! Lembra-te que embora penses, por instantes, estares só, não estás! E tu, que tão bem sabes abraçar, tens essa arma poderosa...abraça os medos e fantasmas com FORÇA, até eles ficarem sufocados, transforma-os em coisas positivas:-)! Bjs e boa semana de trabalho!!

f@ disse...

Olá Re,
A força do silêncio em dia En sol arado como o de hoje há-de derrubar esse murro de pensamentos e escorrerá pela tua garganta um fio doce de mel…

Abre 1 alçapão no “Corredor” e verás onde podes fazer o tal “arquivo morto” em pastas de papel reciclado para as toupeiras não sofrerem danos maiores… talvez atires junto com o arquivo um “ambienta dor” para os pobres bichinhos sentirem ao menos uma vez na vida um odor benigno … a seguir, fechas o alçapão a cadeado e abres as outras portas para entrarem raios de luz e este soalheiro vigor luminoso de Outono…
Beijinhos imensos das nuvens

Maria Clarinda disse...

LI, reli, voltei a ler este teu texto...nele vi o meu pensamente, nele vi muito do meu sentir...as lágrimas essas juro que os fantasmas fizeram brotar com força!
Gostaria de te dizer o qunto me marcou, mas não tenho mais palavras. Jinhos

1/4 de Fada disse...

Por agora, fica só o meu abraço, que não sendo tão grande como o teu, tem uma muita força e acho que tu o sabes bem. Regresso depois para comentar como deve ser.

BlueVelvet disse...

Querida,
como prometi aqui estou para te ler. E li. Mas como podes ver pela hora, não tenho condições para te deixar um comentário a sério.
Volto amanhã, mas agora e para já, fica aqui o meu abraço e o meu colo.
E não estás sózinha nesse corredor. E não são fantasmas. São pessoas que gostam de ti.
Muitos beijinhos, bella

BC disse...

Não tenho muitas palavras para dizer, mas como um poeta dizia:
_"A porta está fechada.
Um sorriso abre-a.
Uma palavra também
_se fôr uma palavra chave.

Para chegar a outro mundo,
a qualquer mundo
basta abrir uma porta.
Jocas
BC

1/4 de Fada disse...

mesmo depois de termos ultrapassado as tempestades mais difíceis, há muitos momentos como os que descreves. Não te deixes abater que eles passam. Principalmente, não te deixes abater por forças que te são inferiores moralmente. Conheço bem demais essa alegoria das portas e sei que elas nunca deixam de existir, umas fechadas, outras abertas, outras que se abrem (ou fecham) exactamente no momento em que vamos a passar e nos deitam ao chão. Mas não passamos do chão, Renard, sacode a poeira.

BC disse...

Olá renard,
tinha deixado um comentário mas não confirmei e não deve ter passado, vou tentar reproduzi-lo de novo.
Como dizia o poeta:
_ A porta está fechada.
Um sorriso abre-a.
Uma palavra também
_ se fôr uma palavra chave.

Para chegar a outro mundo,
a qualquer mundo
basta abrir a porta.
jocas
BC