domingo, dezembro 16, 2007

Asna


Sabes o que é?
Pensando que te referias a mim, a resposta óbvia foi: o feminino de asno?
Sorris com malícia e dizes: Não! Um triangulo! Uma simples forma geométrica que muitas sociedades secretas consideravam ser uma forma nobre. Para os católicos representa a Santíssima Trindade.
Triangular os pensamentos. Sabes o que me pedes? Pensar? Mais ainda? Não quero! Não consigo! Estou cansada!
Mas, invariavelmente, lá fui matutando no conselho…
E… Triangulei…
Ficarias admirado com o meu negrume. Triangulei a minha morte. Descobri novas soluções para morrer sem levar o amor da minha vida comigo. Como se um relâmpago me tivesse atingindo: EUREKA!!!! Como não tinha pensado nisto antes??? Brilhante!
Não vejo, nunca vi, o meu suicídio como um mal que quero fazer aos outros. Quanto muito, um alívio para todos, isso sim. A ideia de que não tenha nascido para viver já me segue há muito. A decisão de se quero ou não viver, não se prende com as pessoas que me rodeiam. Não o faço por ti, por ele, por ela ou pelo outro. Mas por mim.
Sou suficientemente insignificante para que o meu desaparecimento não toque muitas existências. Algumas pessoas, simplesmente, não foram feitas para viver.
A pessoa que mais amo será quem mais sofrerá e, por isso, tenho me aguentado. Mas arranjei uma forma de ninguém sentir que falhou. Lidarão apenas com luto e não culpa.
A minha alma gémea, o Fernando, perder-se-á durante uns tempos mas reencontrar-se-á da melhor maneira.
De resto, umas lágrimas, poucas, uns comentários e depois memórias que se dissiparão.
Estou a ver o mar. Estão 2º. Nem sinto o frio. Já anoiteceu e escrevo com uma luz ténue que resta do por do sol.
Mal vejo o que faço. Paralelismo do que tem sido a minha vida ultimamente. Nem vejo e, tão pouco me importo, com as consequências do que faço. Nada tenho a perder!
Já desisti há muito. Não tem a ver contigo, com serotonina baixa, carga genética, a minha família, os meus amigos, os meus desgostos. Muitos têm pior e ganham mais vontade de viver. Eu sou cobarde e fraca e não quero mais. A escolha é íntima e a mais privada possível.
Olho para a lua em quarto minguante… Olho para o mar… Olho para as réstias de luz que pairam sobre a água. Sinto a areia a escorrer-me entre os dedos… Saudades?
Os mortos não sentem falta.
Provavelmente vão pensar que fui uma asna, mas eu sei que não!

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