sexta-feira, dezembro 14, 2007

Perfume

Partidas engraçadas que o nosso cérebro nos prega… Estava aqui sentada a “arrumar” a minha cabeça e, inevitavelmente, pensei em ti. Não é que tive a sensação de cheirar o teu perfume? Fisicamente impossível…
O olfacto é um dos sentidos que mais prezo. Daí achar o Süskind um génio. Pessoas, lugares e vivências são-me insinuadas pelas mais variadas fragrâncias… Terra molhada depois de uma chuva ligeira: África; Relva acabada de cortar: o meu pai na minha infância; Madeira a ser cortada na serrilharia da empresa: Sr. Portela; Pão quente: o meu avô; Um bolo a cozer no forno: a minha mãe; Livro antigo: Paris; Uma sala cheia de fumo de cigarro: faculdade; Livro novo em folha: Tantas, mas tantas, histórias…
Um sem fim de aromas que me transportam para fora de mim… Experiência extra-corpórea. Um pequeno, mas só meu, Nirvana. Um instante que me “despego” da minha existência terrena e a alma viaja…
Depois existem aqueles cheiros sem definição que inatamente reconhecemos. O cheiro da casa dos meus pais que me transporta para 9 anos de vida e experiências, memórias, lembranças… A casa da minha avó paterna na aldeia onde cresceu o meu pai tem um aroma que me leva às férias de Verão em miúda. Aprendi a cavar, semear, colher, conviver e amar a bicharada, a ver as horas pelo posicionamento do sol, o que semear de acordo com as luas, a sujar-me, a cair… Coisas de criança. Aprendi o que são urtigas da pior maneira… Descobri que as silvas não são nossas amigas quando me espetei dentro delas com a bicicleta. O conforto que é termos um WC dentro de casa… Como usar um penico a meio da noite… A usar o tanque de lavar a roupa como piscina improvisada… Comer amoras, figos (não comer quando estão quentes do sol!!!), não beber leite directamente da vaca por variados motivos, chupar o caule das flores amarelas que crescem um pouco por todo o lado e que sabem a vinagre…
Pois é, um sentido relegado para segundo plano quando tem tanto para nos oferecer…

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