quinta-feira, janeiro 31, 2008

The Green Mile

Este foi, sem dúvida, um filme que marcou a minha existência. Uma das razões é por ser baseado num livro dum dos meus autores preferidos, Stephen King. Outra é o enredo em si. Não me cativou a história do injustiçado que ia acabar na cadeira eléctrica ou a amizade que criou com o guarda prisional. Apaixonou-me foi o tamanho do actor que fazia de condenado. Achei absolutamente pertinente aquele “gigante” fazer o papel de alguém que tinha a capacidade de tornar os males físicos dos outros dele próprio, para logo se seguida expeli-los em forma de enxame de moscas…
Bem sei que se trata de ficção mas não deixa de ser uma ideia bonita… Quem nunca sentiu vontade de ser capaz de transportar o mal que aflige um ser amado para si próprio?
Vou contar um segredo. Conheço alguém que o faz. E não se trata de uma selectividade afectiva pois este “Principezinho” fá-lo com perfeitos estranhos. É verdade… Mas não irei falar dele… Falarei, incontornavelmente, de mim…
A capacidade de tornar a dor de outrem minha é uma característica que me define desde que me conheço e desde que me dei a conhecer.
O problema reside em não ter a capacidade de curar a pessoa, o que me dói imensamente, e o facto de depois não ser capaz de expelir o que assimilei. Ou seja, torno a dor da pessoa minha para melhor a compreender e a posteriori não me consigo libertar dela. Somo às minhas mágoas e lá fica.
A minha alcunha no Liceu demonstrava isso mesmo: Madre Teresa de Calcutá. Gostava e gosto de ajudar as pessoas que estimo. “Perder” tempo a escutar as pessoas, aquilo que lhes aflige e tentar ajudar no que me seja possível. Simplesmente, estar presente.
Contudo, já fui mais “caridosa”. Algumas pessoas roubaram parte dessa capacidade com traições, mentiras, gozo, escárnio e, muitas vezes, desprezo depois de terem conseguido o que queriam de mim. Isso fez-me muito desconfiada em relação às intenções de quem se aproxima de mim e transformei-me numa cínica. Roubaram-me o prazer da sinceridade pura. Deixei de ser papalva e ingénua para passar a ser dura e céptica. O pior foi ter perdido a crença na bondade humana. Acreditava mesmo que os seres humanos eram genuinamente bons e que se se tornavam maus era porque a vida os tinha moldado dessa forma. E mesmo sendo maus, achava que havia bondade inata neles. De momento acho que todas as pessoas são inatamente más mas de vez em quando surpreendem com gestos de bondade. Ora aí está o cinismo…
Na ânsia de me sentir humana, também eu me tornei má. Verdade. De vez em quando surpreendo-me com gestos de bondade mas já é uma coisa rara. Mas para travar a tentativa de suprimir essa minha característica surge o meu “soul-brother” (irmão de alma). Quando descarrilo e pendo para a maldade aconselha-me a pensar naquilo que estou prestes a fazer e as consequências emocionais que poderão advir para mim e para o visado. Na maioria das vezes consegue dissuadir-me de fazê-lo e ajuda-me a esquecer a vendetta. Se por outro lado me vê reticente em ajudar alguém relembra-me do que teriam sido alguns períodos da minha vida se tivesse desamparada. Sem ele e a minha mãe, possivelmente… É como a minha consciência. O grilo do Pinóquio… Para além disso é meu confidente em tudo na minha vida. Acho que o termo “irmão” não se pode referir apenas no que concerne a laços de sangue, não é?
Vou contar outro segredo. Conheço uma pessoa que manteve essa pureza e bondade. Só ataca quando toca aos seus. Quando lhe toca a ela nem por isso. Se alguma vez houve a ideia dum anjo ter descido à terra é, com toda a certeza ela, e a pessoa mais sortuda do mundo fui eu que sou filha do anjo.
Uma mulher forte dotada duma inteligência e entendimento da vida superior. Muito para além dum comum mortal. Uma beleza estonteante externa que apenas serve para reafirmar a interna. Quem a conhece fica logo encantado com o sorriso aberto e cara simpática. A educação e a meiguice com que se dirige às pessoas é duma magnitude como nunca vi. Não, não tenho inveja dela. Tenho orgulho em ter este anjo como mãe e daí poder tirar lições de vida para no futuro transmiti-las aos meus filhos.
Não sou uma pessoa muito afortunada em alguns quadrantes da minha vida… Mas para me acompanhar na jornada já tenho um anjo, um “Principezinho” e um “soul-brother”. Isso sim, é sorte!
Sei que o anjo e o meu “soul brother” apreciam o filme tanto quanto eu. O “Principezinho” não sei. Mas, tendo gostado ou não, a bondade pura está nestes meus três acompanhantes.
Haveremos de andar muitas milhas juntos…
Obrigada aos três.

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