Hoje voltei à Sé. Já passou muito tempo desde da última vez que lá fui. Dirigi-me ao centro da cidade, desta feita, de carro. Lá ia eu conduzindo de auriculares nos ouvidos (sei que é proibido mas “perigo é o meu nome do meio”), e estacionei num parque que fica muito perto da Praça.
Ainda sobejava algum tempo até à minha hora de revelações e decidi, um pouco reticente confesso, procurar a paz e quietude que me transmite aquele lugar de culto.
Subi as poucas escadas que dão para a entrada da Igreja e dirigi-me às suas portas imponentes. Aquele edifício não deixa de surtir alguma admiração em mim… Seja pela sua dimensão física ou pelo peso que carrega a ideologia que a construiu, faz-me sentir muito pequena.
Adiante, entrei e sentei-me no lugar do costume. Pela primeira vez não me encontrava sozinha no seu interior. Estava um senhor a rezar bem perto do altar e uma senhora, muito literalmente, em cima dele (do altar, entenda-se).
Durante uns bons minutos observei o senhor que, de joelhos, ora falava para as mãos que lhe apoiavam a cabeça, ora levantava a cabeça na direcção do altar. Comecei a especular sobre o que lhe teria feito ir à Igreja a meio da tarde rezar… Primeiro pensamento: ficou viúvo. Segundo pensamento: tem alguém da família doente. Terceiro pensamento: está ele próprio doente. Depois parei. Comecei a questionar-me porque ligava o acto de orar a Deus a aflições. Afinal, o senhor podia estar muito bem a ter uma conversa com Deus sobre o seu dia-a-dia ou, então, a agradecer algo de bom que lhe tenha acontecido recentemente… Mas não. Tal como eu quando era crente, as pessoas, por norma, procuram Deus para pedir ajuda e amiúde se esquecem de agradecer caso as coisas corram de feição. Conversar com Deus… Eu pelo menos nunca fui muito de monólogos… Preciso do meu “feedback”…
Assim, no meio destes pensamentos incoerentes e completamente inconclusivos pus-me de joelhos, respirei fundo e preparei-me para rezar. Não por mim mas por uma pessoa que estimo muito que se encontra bastante fragilizada e nestas alturas, crenças à parte, toda a ajuda é pouca…
Concentrei-me e tentei lembrar-me daquelas “cantilenas” que me ensinaram em miúda. Pois é, lembrava-me da melodia mas não da letra! Comecei eu: - Pai Nosso que estás no céu… E simplesmente não me ocorria o resto! Olhava para Cristo na cruz de soslaio não fosse sair de lá um raio disparado… É então que me lembro que, também, sabia a prece em inglês… Mãos em posição de louvor e: Our Father who art in Heaven… Silêncio mental… Tantos anos de lavagem cerebral em vão… Sentindo-me envergonhada, deslocada e herética voltei a sentar-me.
Adoro realmente o meu amigo por quem ia rezar mas foi-me completamente impossível. Para além de ter um sensação premente de estar a ir contra os meus ideais, sentir-me uma “vira-casacas” e de estar a rir de mim própria, não se pode cantar uma canção se não nos recordamos da letra, não é?
Quando me apercebi que tinha um sorriso nos lábios devido ao meu desaire religioso ocorreu-me uma ideia. Há séculos que não me ria de mim própria sozinha! Fez-se luz… Preciso de arranjar forma de integrar na minha visão da vida uma coisa de que há muito carece: perspectiva. Recordei a forma como, em trabalho jornalístico, fazia um esforço para cobrir todos os ângulos da notícia e nunca deixar uma opinião significativa por ouvir… Ângulos, ou seja, perspectivas diferentes de um mesmo acontecimento. E se eu tentasse perspectivar a minha vida de vários ângulos? Para isso teria de sair de mim de modo a ver-me com olhos imparciais… Por outras palavras, tenho de arranjar uma forma de olhar-me e julgar-me como se fosse outras pessoas que não sentem como eu sinto, não pensam como eu penso e que têm opiniões diferentes sobre o mesmo assunto: a minha vida.
Personalidade múltipla ainda não me foi diagnosticado… Portanto por essa via não posso ir. A heteronimidade não me seduz… Obriga a ter muita disciplina mental… Outra estrada sem saída… Ainda não atingi o Nirvana por isso não posso ter experiências extra – corpóreas… Outra solução que não tem viabilidade… Mas há-de surgir alguma coisa. Com paciência e estupidez natural vislumbra-se o despontar de uma nova ideia…
Enfim, tudo isto para dizer que hoje fui à Sé…
Ainda sobejava algum tempo até à minha hora de revelações e decidi, um pouco reticente confesso, procurar a paz e quietude que me transmite aquele lugar de culto.
Subi as poucas escadas que dão para a entrada da Igreja e dirigi-me às suas portas imponentes. Aquele edifício não deixa de surtir alguma admiração em mim… Seja pela sua dimensão física ou pelo peso que carrega a ideologia que a construiu, faz-me sentir muito pequena.
Adiante, entrei e sentei-me no lugar do costume. Pela primeira vez não me encontrava sozinha no seu interior. Estava um senhor a rezar bem perto do altar e uma senhora, muito literalmente, em cima dele (do altar, entenda-se).
Durante uns bons minutos observei o senhor que, de joelhos, ora falava para as mãos que lhe apoiavam a cabeça, ora levantava a cabeça na direcção do altar. Comecei a especular sobre o que lhe teria feito ir à Igreja a meio da tarde rezar… Primeiro pensamento: ficou viúvo. Segundo pensamento: tem alguém da família doente. Terceiro pensamento: está ele próprio doente. Depois parei. Comecei a questionar-me porque ligava o acto de orar a Deus a aflições. Afinal, o senhor podia estar muito bem a ter uma conversa com Deus sobre o seu dia-a-dia ou, então, a agradecer algo de bom que lhe tenha acontecido recentemente… Mas não. Tal como eu quando era crente, as pessoas, por norma, procuram Deus para pedir ajuda e amiúde se esquecem de agradecer caso as coisas corram de feição. Conversar com Deus… Eu pelo menos nunca fui muito de monólogos… Preciso do meu “feedback”…
Assim, no meio destes pensamentos incoerentes e completamente inconclusivos pus-me de joelhos, respirei fundo e preparei-me para rezar. Não por mim mas por uma pessoa que estimo muito que se encontra bastante fragilizada e nestas alturas, crenças à parte, toda a ajuda é pouca…
Concentrei-me e tentei lembrar-me daquelas “cantilenas” que me ensinaram em miúda. Pois é, lembrava-me da melodia mas não da letra! Comecei eu: - Pai Nosso que estás no céu… E simplesmente não me ocorria o resto! Olhava para Cristo na cruz de soslaio não fosse sair de lá um raio disparado… É então que me lembro que, também, sabia a prece em inglês… Mãos em posição de louvor e: Our Father who art in Heaven… Silêncio mental… Tantos anos de lavagem cerebral em vão… Sentindo-me envergonhada, deslocada e herética voltei a sentar-me.
Adoro realmente o meu amigo por quem ia rezar mas foi-me completamente impossível. Para além de ter um sensação premente de estar a ir contra os meus ideais, sentir-me uma “vira-casacas” e de estar a rir de mim própria, não se pode cantar uma canção se não nos recordamos da letra, não é?
Quando me apercebi que tinha um sorriso nos lábios devido ao meu desaire religioso ocorreu-me uma ideia. Há séculos que não me ria de mim própria sozinha! Fez-se luz… Preciso de arranjar forma de integrar na minha visão da vida uma coisa de que há muito carece: perspectiva. Recordei a forma como, em trabalho jornalístico, fazia um esforço para cobrir todos os ângulos da notícia e nunca deixar uma opinião significativa por ouvir… Ângulos, ou seja, perspectivas diferentes de um mesmo acontecimento. E se eu tentasse perspectivar a minha vida de vários ângulos? Para isso teria de sair de mim de modo a ver-me com olhos imparciais… Por outras palavras, tenho de arranjar uma forma de olhar-me e julgar-me como se fosse outras pessoas que não sentem como eu sinto, não pensam como eu penso e que têm opiniões diferentes sobre o mesmo assunto: a minha vida.
Personalidade múltipla ainda não me foi diagnosticado… Portanto por essa via não posso ir. A heteronimidade não me seduz… Obriga a ter muita disciplina mental… Outra estrada sem saída… Ainda não atingi o Nirvana por isso não posso ter experiências extra – corpóreas… Outra solução que não tem viabilidade… Mas há-de surgir alguma coisa. Com paciência e estupidez natural vislumbra-se o despontar de uma nova ideia…
Enfim, tudo isto para dizer que hoje fui à Sé…
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