sábado, janeiro 05, 2008

Mimada

Deixem-me em paz! Parem de projectar as vossas frustrações para cima de mim! Parem de viver os vossos sonhos desfeitos através de mim! A vida é bela? Então vivam-na e larguem-me!
Será que não entendem???? Uns puxam para um lado e outros para o outro. Sou só uma! Para socorrer aos vossos pedidos vou-me afogando! Para ter capacidade de elevar-me às expectativas que têm de mim, destruo-me.
Existe uma passagem do filme “O Piano” que sempre me seduziu. Ao deixar as terras da Nova Zelândia, Ada, desata o seu objecto de obsessão e deixa-o afundar-se nas águas do mar. No último instante, coloca o pé na corda que se desenrola e é puxada para o fundo com ele. É o afogamento perfeito. Não há um som. Na minha opinião, o filme terminou nesse instante. Com a música do Michael Nyman tocando apenas nas nossas mentes, a muda teria uma morte silenciosa. Mesmo não sendo “feliz”, era o fim verdadeiro.
Sou mimada. Sim sou. Não lido bem com rejeições? Não. Mas quem gosta de perder? Mas pior que ser derrotada por ser incapaz é ser, nas palavras de quem rejeita, perfeita mas desnecessária. Duas semanas. Foi o tempo que demorei a passar de extraordinária a incomodativa nas duas vertentes da vida que nos sustêm…
Agora querem redireccionar atenções?
Todos dão o seu palpite… Sabes o que precisas? Trabalho! Descanso! Homem! Mulher! Sexo! Amor! Dinheiro! Felicidade! Objectivos! Força! Sorte! Ficar! Sair! Confiar! Desconfiar! Silêncio! Divertimento!
És isto, aquilo, tudo e nada. Vais ver, para pessoas como tu é só uma questão de tempo!
Ainda se questionam porque não ando bem em mim…
Não se trata de um truque barato de psicologia invertida com o intuito que me venham elogiar e dar palmadas nas costas.
Sou mimada. Tenho tudo o que quero. Todos sabem disso. Nunca me privei de nada. Por isso, guardem as vossas boas intenções para quem precisa delas…
Afflictis non est addenda afflictio

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