quinta-feira, janeiro 03, 2008

Moinhos


Também eu luto contra os moinhos… Fantasmas criados na minha cabeça que nada são senão invenções do Homem. E tal como D. Quixote também tenho o meu fiel companheiro, Sancho. No meu caso, Timon. Aquele que me tenta chamar a atenção para a realidade e, que ao ver que falha, entra nos meus devaneios tentando-me proteger. Avisa-me da minha idade avançada e da minha condição física que já não me concede a destreza de batalhas passadas.
Pacientemente segue-me, mesmo quando sabe que não vou a lado nenhum e que os espectros que combato cessaram de existir senão na minha cabeça.
Até o meu fiel cavalo, a minha montada, parece cansado de cavalgar contra os moinhos… Olha-me com aqueles olhos meigos contudo cansados de tantas batalhas que por pouco lhe custaram a vida. Precisa de descanso. De reformar-se desta vida de ter uma dona louca e viver sossegado a passear nos prados verdes a comer relva e recuperar das feridas que ainda o enfraquecem. No entanto, vai aguentado e fá-lo-á até o dia da sua morte pois o seu sentimento de fidelidade vai para além dele próprio. Altruísmo puro.
Mesmo na incompreensão das minhas sucessivas investidas frustradas, cegos por amor, continuam a acompanhar-me. Talvez esperem com ansiedade o dia que eu perceba que não há lá nada senão moinhos e aí, então, poderemos voltar para casa.

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