quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Je ne regrette rien - Edith Piaf

Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait, ni le mal
Tout ca m'est bien égal
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié
Je me fous du passé
Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu
Mes chagrins, mes plaisirs
Je n'ai plus besoin d'eux
Balayés mes amours
Avec leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait, ni le mal
Tout ca m'est bien égal
Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien
Car ma vie
Car mes joies
Aujourd'hui
Ça commence avec toi...

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Mexilhões e Cerveja

Finalmente posso dizer que estou no bom caminho para completar e entender o puzzle. A vida já não me assusta.
Impeliste-me a procurar para além de mim. Pensar “fora da caixa”. Compreender que a vida não era aquele lugar sombrio onde me refugiava da dor.
Sei que, comparativamente, o impacto que tive na tua vida em nada se compara àquele que tiveste na minha. Mas gosto de pensar que, pelo menos, te orgulhes de mim. Mesmo que seja só mais uma pessoa, entre muitas, que ajudaste.
Em toda a verdade, tive de piorar antes de melhorar. Fui onde ninguém deve ir dentro de si. Vi e senti coisas que já tinha suprimido e que, numa torrente, me chegavam em catadupa. Perdoei mágoas e desfiz-me de velhos ressentimentos.
Considerei que todas as minhas experiências, boas ou más, estavam em pé de igualdade. Todas têm em comum a minha maturação como ser humano e a aprendizagem. Aprender por “tentativa e erro”. O que não correu bem no passado dificilmente correrá bem no presente. Por isso, aprendi a escolher melhor sem estar toldada pelo receio de errar e, acima de tudo, a ser mais flexível nas situações que me vão surgindo.
Não penso ter-me tornado uma pessoa optimista. Apenas deixei de ser derrotista. Ganhei fôlego para lutar. Principalmente para não te deixar mal a ti e à minha mãe que depositaram tanta confiança em mim. Quero fazer-vos orgulhosos de mim.
Tão, simplesmente, resume-se a querer ter dinheiro merecido para um dia levar a minha mãe ao Egipto. A ti, quero levar-te a Paris, para nos sentarmos numa esplanada a comer mexilhões e a beber cerveja.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Não há fome…

… que não dê em fartura. Leio esta frase e é-me impossível não esboçar um sorriso perante as formas perversas que a vida “arranja” para testar o nosso carácter.
Tento não pensar muito nas coisas de momento. Vou saboreando a vida fazendo aquilo que me parece melhor sem antevisões dos acontecimentos ou projecções desnecessárias.
Se antes racionalizava em demasia agora parece-me tudo tão desprovido de pensamento. É, verdadeiramente, uma lufada de ar fresco numa existência sempre tão rectilínea e suprimida por valores que, embora presentes, não têm de reger as nossas atitudes e toldar a nossa visão.
Aos poucos e poucos vou, com ajuda preciosa, desembrenhando este novelo cheio de nós que criei em mim.
Dei-me ao luxo de ter defeitos. E, melhor, de me rir deles. E porque não?! A única forma de nos sintetizarmos é descobrindo que somos nós a antítese da tese que é a nossa personalidade. Ou seja, são os nossos defeitos que vêm dar mais valor às nossas qualidades.
Triste é descobrir tal evidência com quase 28 anos. Mas enfim. A outra também só descobriu que “estar vivo é o contrário de estar morto” depois dos 60, por isso, acho que ainda posso ter esperança de vir a ser uma pessoa decente.
Ainda há pouco lia um mail em que me aconselhavam a ir ao oftalmologista… Acho que nunca vi tão bem e tão claro na minha vida!
Pode ser sol de pouca dura e, sendo do signo gémeos e com a minha herança genética - vulgo mau feitio - provavelmente será. Contudo, enquanto durar vou aproveitar estas férias que tirei de mim própria que, deixem que vos diga, são bem merecidas.
Descobri por acaso o Boris Vian e lê-lo leva-me a ter vontade de, por ora, recostar-me e apreciar, apenas e só, a espuma dos dias.

sábado, fevereiro 23, 2008

A Queda de um Anjo

Quanto tempo devemos esperar até nos deixarmos amar? Quanto tempo demoram as barreiras a serem quebradas? As inseguranças e medos a serem vencidos?
Quando são muito mais as coisas que nos unem do que aquelas que nos separam devemos, mesmo assim, “pendurar as luvas”?
Dizias: - Esta é a última oportunidade que dou à minha vida amorosa…
Tretas! Nem tu nem ninguém pode antever tal coisa. Podes até suprimir os sentimentos até seres a pessoa mais analmente retentiva à face da Terra. Mas não te livras de, por ventura, algum dia aparecer alguém que te liberte dessa “prisão de ventre sentimental”.
Partiram-te o coração? Magoaram-te? Sentiste-te desvalorizado depois de anos de luta contínua para fazer alguém feliz sentindo que era, sempre, uma luta unilateral? Bem-vindo à condição humana. Existem os que dão e os que tiram. Os “dadores” são seres que começam por ser puros e que facilmente amam e são amados. Mas, destinados ao sofrimento, acabam por se resignar às migalhas emocionais que os amados se dignam a deixar para trás de tempos a tempos.
Se me encontro nessa situação de momento? Sem dúvida! A pessoa que amo não me ama nem, tão pouco, se encontra disponível para tal. Se aceito migalhas dessa pessoa sabendo de antemão que mereço alguém que me dê muito mais? Indelevelmente! Mas aprecio muito mais cada uma dessas migalhas do que as promessas daqueles que não me conquistaram.
Os doze trabalhos de Hércules? Amigo, se o Rei Euristeu o tivesse incumbido de, apenas e só, aturar-me, Hércules tinha se suicidado imediatamente defronte do Rei para se poupar de tal suplício.
De que nos serve ter o “toque do Rei Midas” se depois de tocarmos as pessoas passarem as ser apenas objectos valiosos mas inanimados?
Tu, e só tu, entenderás este último eufemismo.
Estou bem comigo própria. Tranquila. Enquanto me contentar com migalhas e até na ausência delas ficar descansada nada me provoca anseio. Quando me tocaste parte de mim ficou empedernida. Estou disposta a aceitar o que a vida tiver para me oferecer um dia de cada vez. Todavia, jamais inconsequente que isso do “carpe diem” é para os adolescentes e pobres de espírito.
Confesso, no entanto, que ontem dei-me permissão de me sentir vitoriosa. Apenas por um momento pensei: - Touché, meu anjo!

domingo, fevereiro 17, 2008

Apprivoiser

Por vezes imagina-os como o Cassiel e o Damiel deambulando pelas ruas da cidade. Não, não os considera como seres superiores aos demais. Apenas seres que se distinguem por partilharem o gosto de contemplarem as vicissitudes inerentes à natureza humana.
Nesses momentos em que estão juntos como dois seres assexuados e celestiais, as asas que ambos ostentam protegem-na das pulsões que, em tempos, tanto a magoaram.
No entanto, um olhar fixo nos seus olhos ou um qualquer toque ocasional e desprovido de intencionalidade fá-la descer à terra com um estrondo.
Estremece. O batimento cardíaco acelera. As faces ruborizam. Sente calafrios. As palmas das mãos começam a suar.
Malditas características humanas! Se ao menos lhe fosse possível suprimir estas reacções involuntárias!
Enfurece-se consigo própria por não conseguir controlar-se. Consegue, num elaborado “jogo de cintura”, conter-se de lhe dizer as coisas que lhe passam pelo pensamento e mantém o contacto físico apenas ao imprescindível embora a vontade a impelir a muito, muito mais.
Depois entende que é apenas um jogo entre uma criança e uma raposa… O criar de laços. Devagar. Mesmo sabendo que o laço ficará sempre aquém do seu querer. Mas uma Amizade sempre é melhor que nada…
A ela só a rejeitam uma vez. Não tem amor-próprio para se sujeitar a mais.
Nunca lhe disse que o acha lindo. Que adora os seus olhos esverdeados meigos. O sorriso malandro nos seus lábios perfeitamente desenhados. A mancha de cabelo grisalho que lhe dá uma distinção e charme incontornáveis. As mãos lindíssimas.
Julga ser daquelas situações em que dizer o que sente pela pessoa pode ser um retrocesso na relação.

Ils se sont apprivoisés. Si elle allait, par exemple, à cinq heures de l'après-midi, dès quatre heures elle commencerait d'être heureuse. Plus l'heure avancera, plus elle se sentirait heureuse. À cinq heures, déjà, elle s’agitera et s'inquiétera; elle découvrira le prix du bonheur! Il faut des rites.

Assim sendo, e tendo já sido criado os laços apenas lhe resta saber que para ela, ele será sempre unique au monde. Mas os laços têm de ser constantemente mantidos firmes e saudáveis e por isso cala muito do que quer bradar aos céus…

Le langage est source de malentendus. Mais, chaque jour, elle pourra s'asseoir un peu plus près ???

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Jus Soli

Como um pequena expressão em latim resume aquilo que sinto pelo país onde nasci há mais de 27 anos.
“O direito sobre a terra”… Direito esse que me foi concedido por ter sido derramado o meu sangue com o da minha mãe às 03 e 03 a.m., do dia 22 de Maio de 1980.
Diz-me ela que na noite que o meu pai a levava para a maternidade, a lua estava como que cortada pela estrada e que dava a ilusão que o meu pai conduzia o carro para o seu interior.
O amor e nostalgia que sinto por aquele país maravilhoso onde fui, verdadeiramente, feliz. Uma infância pejada de natureza e brincadeiras salutares.
Há dias, durante a minha primeira experiência meditativa, ouvia a música que me chegava aos ouvidos pelas colunas que se encontravam ao meu lado direito. Inspirava o cheiro forte do incenso que enchia o pequeno sótão onde me encontrava sentada no chão de pernas cruzadas. Olhava a escuridão, apenas diminuída pela luz intermitente que chegava das velas acesas do meu lado esquerdo.
Ouvia os pássaros a cantar perto da janela do sótão… Ele aumentou o volume da música. Respirei fundo, baixei a cabeça e fechei os olhos. A música era calma. Sugestiva. Impelia-me a voltar para onde fui feliz. Resisti ao início. Tinha medo de não saber onde iria parar.
A cada batida da música sentia-me a relaxar. Que razão teria para ter medo? Estava de mãos dadas com ele, ali no meio do sótão. Segura. Deixei-me levar…
A primeira coisa que me chegou foi o cheiro a terra. Como tinha saudades desse cheiro! Depois o sol de Verão a bater-me na cara enquanto a água da chuva me humedecia as pálpebras e o cabelo. O riso do Shawn e da Shanti que viviam defronte da minha casa. O ladrar do doberman do meu vizinho. Ouvir falar em Afrikaans – mesmo entendendo pouco – levou-me ao arrepio. O cheiro do braai que o meu tio fazia à beira da piscina nos fins-de-semana que íamos a Pretória. A espera longa e árdua que eu e os meus primos tínhamos de suportar para fazer a digestão para podermos ir para a água.
O Warm Baths e o Sun City. Durban e a Cidade do Cabo. As vinhas e as montanhas que protegem esta cidade. Ver no horizonte longínquo o “Gigante Adamastor” e a junção dos dois oceanos que provocam naquela zona uma tempestade permanente em alto mar.
O Padrão dos Descobrimentos que ainda restou da nossa – sim, incluo-me porque tenho também jus sanguini, por ser filha de portugueses - passagem por lá há séculos atrás. Muito antes dos restantes europeus.
Em Durban, a placa referindo-se à juventude de Fernando Pessoa passada lá quando o seu pai foi lá cônsul.
Um país lindíssimo e riquíssimo deixado ao acaso devido à mão do homem. Símbolo máximo daquilo que sofrem as pessoas e a natureza devido a umas quantas mentes limitadas e etnocêntricas.
Saída da minha viagem meditativa as lágrimas criaram-se nos meus olhos. Tenho saudades daquele país. Daqueles tempos em que tudo era simples, grande e belo. Em que todas as respostas eram ou afirmativas ou negativas.
Saudades da inocência…

domingo, fevereiro 10, 2008

O Jogo

Tenho evitado escrever. Custa-me interromper a linha de textos bem dispostos e demonstrativos de um novo estado de alma. Mas presumo que seria inevitável haver momentos em que, simplesmente, não há vontade de jogar.
Baralhei as cartas e não consegui voltar a dar. Parece-me que me falta um adversário à altura.
Bem sei que a rejeição é das coisas mais difíceis de digerir. Rir perante a adversidade ajudou-me a suportar o impacto do desmoronar da ilusão que em mim já se tinha criado. Se me foi tão difícil mostrar a minha mão sinto que tão depressa não arrisco. Perder nunca foi uma coisa que tenha levado de ânimo leve e, pelos vistos, ainda não tenho poder de encaixe suficiente para continuar a sorrir.
O meu amor-próprio, já por si muito ténue, ressente-se a cada “não” que ouço e impele-me a voltar para a espiral da qual me estou a tentar livrar. Volto a questionar-me, novamente, sobre o meu valor.
Comprometi-me a lutar. Desta feita, não pela felicidade dos outros mas pela minha. Esta busca complicada e sinuosa de mim própria esgota toda e qualquer energia que em tempos reservava a tentar encontrar-me nos outros. Sem dúvida o empreendimento mais esgotante com que alguma vez tive de lidar. É muito mais fácil ver nos outros as características que nos faltam para nos sentirmos completos do que procurá-las em nós mesmos.
Quero com isto dizer que não me contento com a mão que a vida me deu. Não tenciono fazer batota e esconder cartas na manga. Somente quero aprender a jogar com tal perícia que as derrotas sejam facilmente ultrapassadas pela magnitude das vitórias.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

A Rejeição

Depois de uns quantos dias de boa disposição e raciocínios límpidos decidiu fazer-se à vida e começar a tomar decisões que, ao contrário da norma, a fizessem sentir bem e não deprimida.
Vai daí, pensou no que lhe era mais urgente. Um companheiro, pensou ela. Precisava de alguém a seu lado que a solidão era impeditiva da sua felicidade. E porque não dar uma oportunidade a um sentimento, não repentino como era seu costume, mas um que maturasse através do convívio e da aceitação incondicional dos defeitos do outro?
Voltou a baralhar as cartas, deu e leu a sua mão… Ponderou os prós e contras da resolução que se preparava para tomar. Decidiu arriscar… Afinal de contas, só tinha passado uma semana.
Era uma aposta segura. Tinha as probabilidades do lado dela e parecia-lhe ter tudo para ganhar o jogo. Mas, invariavelmente, a fortuna não se encontrava do lado dela e o adversário tinha trunfos inesperados na manga. Contra todas as suas expectativas perdeu…
Perante a adversidade podia, como é seu hábito, dramatizar e deixar-se abater. Mas, pelo contrário, sorriu. O canto da boca retorceu-se num esgar de escárnio de quem voltou a ter a capacidade de rir de si própria e pensou: - Era de esperar…
A vida tinha, mais uma vez, feito “bluff”.
No seu íntimo ela sabe que esta partida não está perdida para ela e que é uma questão de tempo até o adversário perceber que a perda foi dele. Se alguma coisa aprendeu nos últimos tempos é que o melhor da existência está nos riscos que se correm e não nas desistências facilitadoras.
O baralho está de novo na sua mão. Prepara-se para voltar a dar…

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

A Sé

Hoje voltei à Sé. Já passou muito tempo desde da última vez que lá fui. Dirigi-me ao centro da cidade, desta feita, de carro. Lá ia eu conduzindo de auriculares nos ouvidos (sei que é proibido mas “perigo é o meu nome do meio”), e estacionei num parque que fica muito perto da Praça.
Ainda sobejava algum tempo até à minha hora de revelações e decidi, um pouco reticente confesso, procurar a paz e quietude que me transmite aquele lugar de culto.
Subi as poucas escadas que dão para a entrada da Igreja e dirigi-me às suas portas imponentes. Aquele edifício não deixa de surtir alguma admiração em mim… Seja pela sua dimensão física ou pelo peso que carrega a ideologia que a construiu, faz-me sentir muito pequena.
Adiante, entrei e sentei-me no lugar do costume. Pela primeira vez não me encontrava sozinha no seu interior. Estava um senhor a rezar bem perto do altar e uma senhora, muito literalmente, em cima dele (do altar, entenda-se).
Durante uns bons minutos observei o senhor que, de joelhos, ora falava para as mãos que lhe apoiavam a cabeça, ora levantava a cabeça na direcção do altar. Comecei a especular sobre o que lhe teria feito ir à Igreja a meio da tarde rezar… Primeiro pensamento: ficou viúvo. Segundo pensamento: tem alguém da família doente. Terceiro pensamento: está ele próprio doente. Depois parei. Comecei a questionar-me porque ligava o acto de orar a Deus a aflições. Afinal, o senhor podia estar muito bem a ter uma conversa com Deus sobre o seu dia-a-dia ou, então, a agradecer algo de bom que lhe tenha acontecido recentemente… Mas não. Tal como eu quando era crente, as pessoas, por norma, procuram Deus para pedir ajuda e amiúde se esquecem de agradecer caso as coisas corram de feição. Conversar com Deus… Eu pelo menos nunca fui muito de monólogos… Preciso do meu “feedback”…
Assim, no meio destes pensamentos incoerentes e completamente inconclusivos pus-me de joelhos, respirei fundo e preparei-me para rezar. Não por mim mas por uma pessoa que estimo muito que se encontra bastante fragilizada e nestas alturas, crenças à parte, toda a ajuda é pouca…
Concentrei-me e tentei lembrar-me daquelas “cantilenas” que me ensinaram em miúda. Pois é, lembrava-me da melodia mas não da letra! Comecei eu: - Pai Nosso que estás no céu… E simplesmente não me ocorria o resto! Olhava para Cristo na cruz de soslaio não fosse sair de lá um raio disparado… É então que me lembro que, também, sabia a prece em inglês… Mãos em posição de louvor e: Our Father who art in Heaven… Silêncio mental… Tantos anos de lavagem cerebral em vão… Sentindo-me envergonhada, deslocada e herética voltei a sentar-me.
Adoro realmente o meu amigo por quem ia rezar mas foi-me completamente impossível. Para além de ter um sensação premente de estar a ir contra os meus ideais, sentir-me uma “vira-casacas” e de estar a rir de mim própria, não se pode cantar uma canção se não nos recordamos da letra, não é?
Quando me apercebi que tinha um sorriso nos lábios devido ao meu desaire religioso ocorreu-me uma ideia. Há séculos que não me ria de mim própria sozinha! Fez-se luz… Preciso de arranjar forma de integrar na minha visão da vida uma coisa de que há muito carece: perspectiva. Recordei a forma como, em trabalho jornalístico, fazia um esforço para cobrir todos os ângulos da notícia e nunca deixar uma opinião significativa por ouvir… Ângulos, ou seja, perspectivas diferentes de um mesmo acontecimento. E se eu tentasse perspectivar a minha vida de vários ângulos? Para isso teria de sair de mim de modo a ver-me com olhos imparciais… Por outras palavras, tenho de arranjar uma forma de olhar-me e julgar-me como se fosse outras pessoas que não sentem como eu sinto, não pensam como eu penso e que têm opiniões diferentes sobre o mesmo assunto: a minha vida.
Personalidade múltipla ainda não me foi diagnosticado… Portanto por essa via não posso ir. A heteronimidade não me seduz… Obriga a ter muita disciplina mental… Outra estrada sem saída… Ainda não atingi o Nirvana por isso não posso ter experiências extra – corpóreas… Outra solução que não tem viabilidade… Mas há-de surgir alguma coisa. Com paciência e estupidez natural vislumbra-se o despontar de uma nova ideia…
Enfim, tudo isto para dizer que hoje fui à Sé…